A aquisição da Formula 1 por parte da Liberty Média é um facto. Com os novos proprietários, os velhos representantes reformaram-se e abre-se uma nova era no automobilismo. Chase Carey e Ross Brawn irão lidar com os proprietários das equipas de Formula 1, e falarão de várias coisas, principalmente a distribuição dos dinheiros à equipas, que de uma certa forma, estão pouco equilibradas. Já contei vezes sem conta sobre o facto da Ferrari receber 100 milhões de dólares todas as temporadas, ainda antes de fazerem a primeira peça do seu carro. E todo esse dinheiro é por causa de uma "clausula de antiguidade", e também é para calar a Ferrari, sempre que eles gritam que vão abandonar a Formula 1. E outras equipas com antiguidade tembém têm, como a McLaren e a Williams.
Aparentemente, as equipas - juntas num grupo chamado de "Grupo de Estratégia" - estão aparentemente felizes por acolherem os seus novos proprietários, mas na realidade, estão provavelmente a planear o contra-ataque, que pode acontecer na forma de uma organização semelhante à FOTA, quase uma década antes. A razão para isso: os pagamentos que a FOM dá às equipas, que consideram como "desiguais". Se a Liberty quer resolver essa situação, as equipas poderão resistir a essa hipótese.
Uma fonte não identificada disse na semana passada à Autosport britânica que as conversações estão a acontecer. "Estamos na disposição de participar em reuniões e discussões entre as equipas, mas os progressos podem necessariamente ser um tanto lento, e [algumas equipes do CCB, Champions Constructors Bonus] podem tentar proteger as posições de privilegio", começou por contar.
Contudo, acrescentou: "Temos de trabalhar juntos para o bem da Fórmula 1, ajudando o Grupo Fórmula 1".
Contudo, pode nem haver um grupo unido de Construtores. Outra fonte contactada pela Autosport britânica fala que poderão até haver dois grupos: um com os privilegiados do Grupo de Estratégia, outro com os construtores independentes. Por agora, é tudo prematuro, mas é sinal de que há movimentações no sentido de haver, por um lado, a proteção de privilégios dados no tempo de Bernie Ecclestone às equipas, por outro, pessoal como a Sauber e a Force India, que deseja ter uma maior igualdade, mas que perdem por causa das construtoras mais antigas e mais endinheiradas.
Ora, quem conhece a história da FOTA (Formula One Teams Association), em 2008, sabia que eles lutaram para evitar que a FIA lhes mexesse no caso do limite de custos das equipas, um ponto muito sensível. Então, Max Mosley queria que as equipas limitassem os seus gastos a cerca de 50 milhões de dólares, e foi por isso que convidou quatro equipas para entrarem a partir de 2010.
A FOTA e a FIA lutaram por isso ao ponto de, no fim de semana do GP da Grã-Bretanha de 2009, esta ter rompido com Mosley e anunciar que iria correr numa série paralela. A coisa resolveu-se alguns dias depois, com intervenção de Bernie Ecclestone, a saída de cena de Mosley, no lugar do atual presidente da FIA, Jean Todt.
Mas por esta altura, está quase a chegar ao fim mais um Acordo da Concórdia. E isso vem de um tempo em que havia outra associação de Construtores, a FOCA (Formula One Constructors Association). Formada em 1971, em 1978 elegeu como seu líder o patrão da Brabham, Bernie Ecclestone. Nessa altura surgiu o patrão da então FISA (Federation Internationale Sport Automobile) o francês Jean-Marie Balestre. E ambos colidiram forte e feio, a pretexto de um apêndice aerodinâmico, as "saias" que permitiam com que o carro cobrisse a distância entre o chassis e o solo. Balestre queria a sua abolição, Ecclestone não. E chegamos ao ponto de ter três "corridas-pirata", boicotes e ameaças de criação de uma competição paralela, em 1981.
Tudo se resolveu depois das equipas FOCA boicotarem o GP de San Marino de 1982, com a assinatura do primeiro Acordo da Concórdia, onde os lucros da televisão foram distribuídos entre as equipas e a FISA. E tudo correu bem até 2001, altura em que Ecclestone fez um acordo em que a FOM ficava com a parte da FIA por... cem anos, a troco de cerca de 110 milhões de dólares.
Mas agora, as coisas são um pouco diferentes. Ecclestone está fora do caminho - embora nunca se sabe o que poderá congeminar - e o acordo atual vai até 2020. Mas em 2018 começa-se a negociar as partes para um novo prolongamento desse acordo, do qual as partes questão quererão tirar o melhor partido.
E esse é o perigo: se a Liberty e as equipas não se acordarem, há o receio de uma "guerra civil", e a divisão da Formula 1 em dois. É certo que aqui não há a interferência da FIA no assunto - Todt tem um poder moderador, uma pequena percentagem nos lucros da FOM e pouco mais - mas se ele tomar partido por alguém, poderá significar sarilhos. Dieter Rencken, jornalista, escrevia na sua coluna da Autosport que a Formula 1 poderia estar alegremente a caminho do conflito por causa da posição conflitual do Grupo de Estratégia com a Liberty. E claro, daqui até lá, iremos ver as tensões entre ambas as partes.
Provavelmente em 2018 veremos mais disto, mas da maneira como as coisas estão, isto vai acontecer, de forma inevitável. Resta saber como acabará.
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