Manfred Winkelhock "atrapalhando" uma "grid girl" em Jacarépaguá, antes do GP do Brasil de 1982. As "grid girls" são uma tradição antiga, mas não tão antiga quanto pensam. Elas surgiram em meados dos anos 70, quando os patrocínios entraram em força nas grelhas de partida da Formula 1, especialmente as tabaqueiras. Até meados dessa década, quem segurava os "sombreros" aos pilotos poderiam ser ou mecânicos, ou diretores de corrida e por vezes, as mulheres e namoradas dos pilotos, para lhes desejarem boa sorte, e também servirem para acalmar a ansiedade dos pilotos antes da corrida.
Hoje, a Formula 1 decidiu que iria retirar as "grid girls" da partida, com efeito imediato. Os tempos mudam, como cantava Bob Dylan há mais de 50 anos, e aquilo que era aceitável antes, agora não é. Podem dizer que é politicamente correto, mas se formos pensar bem, temos de pensar que nestes tempos, as mulheres estão a revoltar-se contra a sua objetificação. Especialmente nos estados Unidos, quando surgiram os diversos casos de assédio sexual, especialmente na industria do entretenimento, mas esses são os mais visíveis. Noutros lados também existem, mas são invisíveis e as mulheres sofreram em silêncio.
A Formula 1 passou uma imagem machista e sexista por muitos anos, graças a uma personagem: Bernie Ecclestone. Que certo dia chamou a Danica Patrick, piloto da IndyCar "uma peça de mobiliário interessante", por exemplo. A ideia ficou por muitos anos, e hoje em dia há muita gente que acha que as mulheres são "pedaços de carne" dos quais podem mexer quando quiserem e saírem impunes disso. Contudo, as pessoas da Formula 1 tem de pensar se isso vale a pena ou não.
Há outra coisa que é preciso pensar no meio disto tudo: os novos donos da Formula 1 querem cortar com o passado. Querem cortar com o que se fazia no tempo do Bernie Ecclestone e provar que agora, há um novo xerife na cidade. E com a América a viver tempos conturbados - elegeram um presidente que disse que as mulheres deveriam ser agarradas pelo sexo - eles fizeram mais uma escolha que será aplaudida por uns e assobiada por outros.
Pessoalmente, sou indiferente a isso. A mim não interessa ter meninas na grelha. Poderiam ser rapazes, mascotes, crianças ou mecânicos a segurar placas de identificação de pilotos e sombrinhas. O que me interessa são os carros e a velocidade. Tudo é mutável, a e história do automobilismo é pródiga em mudanças. Muitos reclamaram delas, mas no final, acabaram por aceitar. Imagino a "shitstorm" se as redes sociais existissem em 1958 quando surgiram os Cooper de motor trasieiro, por exemplo.
Ao ver as pessoas dizerem que o barulho é o que conta e as meninas segurarem os chapéus só para fazer número, fico com a sensação de que foram para ali pelos motivos errados. É que ainda por cima, são motivos transitórios: numa época pode ser bom, noutra será mau. Não andamos longe do tempo em que a escravatura era legal e há quem defenda que a cor da pele é a diferença entre ser bom e mal...
Em suma, os tempos mudam, e somos todos seres humanos. Todos querem ser respeitados, é um direito legitimo.
1 comentário:
Para muitos, a F1 acabou em 1968, quando apareceu o patrocínio escandaloso da Gold Leaf na Lotus que ia acabar com o cavalheirismo do desporto e transformá-lo numa máquina de fazer dinheiro. Aquilo é que foi 'shitstorm'...
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