Fernando Alonso é um grande nome do automobilismo atual, e tem algo do qual poucos pilotos são capazes de fazer: ele pretende ser muito bom em várias modalidades. É sabido que este ano, em paralelo com a temporada de Formula 1 com a McLaren, vai fazer a temporada da Endurance (WEC) com a Toyota, e isso inclui as 24 horas de Le Mans.
Contudo, quando se soube do calendário, descobriu-se que havia uma data do qual a Formula 1 e o WEC iriam cruzar-se: as Seis Horas de Fuji iriam calhar no mesmo dia do GP dos Estados Unidos. E como a Toyota - proprietária do circuito - viu que não poderia ter o seu maior bem na pista "caseira", fez questão de combinar com a FIA e o ACO para mudar a uma nova data: 14 de outubro, uma semana antes da prova de Formula 1. Se com a nova data, isso permite que Alonso esteja presente, vai prejudicar alguns pilotos habituais do WEC, pois a nova data passa a calhar no mesmo fim de semana de Petit Le Mans, em Atlanta.
Gerard Neveu, o patrão da ACO, justificou a decisão por causa da associação da Toyota com Alonso, que é capaz de trazer muitos mais fãs de automobilismo à Endurance.
“Quando se toma uma decisão destas, sabes que algumas pessoas ficarão felizes e outras estarão infelizes. Queríamos proteger o interesse do campeonato, e é isso que temos que tomar em consideração primeiro. Como se pode imaginar ter Alonso no paddock, a correr pela Toyota, e dizer que iríamos ao Japão sem ele… O Fernando quer lutar pelo campeonato, ele não pode perder uma corrida. Era lógico. Não havia dúvidas em ter ou não o Alonso no Japão”, disse Neveu ao motorsport.com.
Contudo, a nova data assa a calhar no mesmo fim de semana de Petit Le Mans, e são vários os pilotos que iriam competir também na corrida do IMSA, e que agora terão de cancelar esses planos. Entre eles estão Mike Conway, da Toyota, Bruno Senna, da Rebellion, Renger van der Zande, da DragonSpeed, a dupla da Ford Harry Tincknell e Olivier Pla e vários membros da equipa GTE da BMW. E esses pilotos estão muito, mas muito zangados.
“Muito obrigado @FIAWEC, não acredito que tenham feito isso… a vossa falta de consideração e respeito para com os pilotos que têm contrato com uma equipa na IMSA para correr na North American Endurance Cup no mesmo fim de semana é inacreditável. Estou certo que não serei o único muito mal impressionado com o que fizeram” escreveu Olivier Pla na sua conta de Twitter.
Com um "banano" entre mãos - e nada disto é responsabilidade de Alonso, ele pura e simplesmente quer fazer uma temporada de Endurance, ainda por cima a "super-temporada" que vai ser - muitos poderão perguntar porque é que por causa de um piloto, muitos outros irão se prejudicar, a eles e às suas equipas. É altamente provável que a consequência será a mudança de data da Petit Le Mans, pois seria mais fácil, e claro, Alonso não participaria nisso, mas o precedente está lançado.
A Endurance está a passar por um momento interessante, com a quantidade de carros que eles têm, especialmente na LMP2, LMP3 e os GT's, e mesmo a LMP1 está a ver um desenvolvimento interessante, apesar de em termos de fábrica, tenham apenas a Toyota. Para as 24 Horas, estão inscritos pelo menos nove desses carros.
Contudo, em termos de organização, parece que se vive um tempo de "argolada". Vamos para uma "super-temporada", onde como no futebol, teremos um ano e meio de competiçao, entre dois anos, que terá duas 24 Horas de Le Mans. E que começa em maio de 2018, com as Seis Horas de Spa-Francochamps, e terminam com as 24 Horas de Le Mans... de 2019, treze meses depois.
É certo que foi uma combinação entre FIA e ACO, para tentar fazer do campeonato algo diferente do que se vê noutras competições - nesta altura, apenas a Formula E tem este esquema - mas a ideia de que isso poderá atrair mais carros, mais marcas, ainda tem de se ver. As discussões sobre o que poderá aparecer em 2020-21 poderão passar por uma espécie de GT1, como existiu no final da década passada, para atrair as grandes marcas, pode ser uma coisa atraente, mas isso poderá significar que os LMP1 que estão a ser fabricados, como os Ginetta, ou os BR Racing, poderão ser usados apenas por duas temporadas, no máximo. E esses carros não são propriamente baratos...
E ainda por cima, não se pode esquecer que num futuro próximo, aparecerão carros com outro tipo de propulsão, num espaço de cinco a dez anos. Ver GT's - Porsche, Aston Martin, Ferrari, McLaren, etc - carros com motor de combustão interna - a circular a 350 km/hora nas Hunaudriéres pode ser engraçado, mas em 2022, por exemplo, o que não me garante que não aparecerá numa Garagem 56 (ou 58) um GT elétrico com uma capacidade de armazenamento e de carregamento de bateria tão bom como os carros de MCI? E se pensam que é fantasia minha, comecem a pensar em supercapacitadores de grafeno capazes de carregar baterias em menos de cinco minutos...
Em suma - e já andava a afastar um pouco disto - ver a ACO mudar de datas para salvar a presença da Toyota no WEC não é lá boa publicidade. E ainda por cima, numa altura em que estes querem cair nas graças da IMSA, pois pretendem que os seus DPi's estejam em Le Mans, para abrilhantar os seus Acuras e Mazdas - e pilotos como os irmãos Taylor ou João Barbosa, por exemplo - este problema tem de ser resolvido. Isto, se não querem que os americanos não lhes virem as costas de vez, pelo menos nesta geração.
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