Colin Chapman atira o chapéu ao ar, celebrando a vitória de Emerson Fittipaldi no Grande Prémio do Brasil de 1973, a primeira corrida oficial de Formula 1 em Interlagos. De uma certa forma, aquele gesto simbólico marcava a entrada do Brasil na categoria máxima do automobilismo, mas o culminar de algo que tinha começado alguns anos antes, no final da década passada, atrás de pessoas como os irmãos Fittipaldi e José Carlos Pace, e outras personagens mais obscuras, mas cujas histórias merecem ser contadas. E uma dessas pessoas é Antônio Carlos Scavone.
Nascido em 1940, Scavone tinha a paixão pela velocidade nas veias, mas também a paixão pelo jornalismo. Foi um dos primeiros pilotos a tentar a sua sorte lá fora, mas no final da década de 60, decidiu ir para o lugar de organizador, tentando trazer os melhores pilotos do mundo ao Brasil.
Sabia que tinham uma boa pista, Interlagos, e em 1970, decidiu organizar o Torneio BUA de Automobilismo, trazendo carros de Formula Ford ao Brasil. Houve corridas em Jacarepaguá, Interlagos, Fortaleza e Curitiba, com ampla cobertura da revista Quatro Rodas. Emerson foi o vencedor, na frente de pilotos como Ian Ashley, por exemplo. O torneio foi tão bem organizado e teve um sucesso avassalador que no ano seguinte, passou a ser um torneio de Formula 2, aproveitando também a ida a pistas argentinas. Com o sucesso dos pilotos brasileiros lá fora, a ambição era a mais alta de todos: a Formula 1. Organizar um Grande Prémio do Brasil. E ele tinha um grande apoio por trás: a Rede Globo.
Em 1972, uma prova de teste foi feita em Interlagos, e por pouco não ia para a frente. Apenas a persistência de Scavone é que foi o segredo do sucesso. Acabou por ser a 31 de março - uma... quinta-feira! - e apenas doze pilotos é que participaram, já que dali a poucos dias, iria começar o campeonato europeu de Formula 2. As obras custaram cerca de dois milhões de cruzeiros, 700 mil dos quais serviram para pagar as despesas das 110 pessoas que ali apareceram, desde mecânicos, gasolina, pneus até os fiscais da FIA para saber se tinham condições para receber a Formula 1.
Tudo foi feito como se fosse uma prova a sério. A Rede Globo assegurou a transmissão - passou à história como a primeiro evento desportivo a cores no Brasil - e os sessenta mil espectadores entusiastas nas bancadas serviram perfeitamente para cobrir as despesas do Grande Prémio, só pelas receitas de bilheteira.
No final, foi um sucesso estrondoso. Apenas a vitória de Carlos Reutemann estragou um pouco o que foi uma festa brasileira. A FIA adorou, e marcou a corrida em 1973, duas semanas depois da corrida argentina. E para melhorar as coisas, em setembro de 1972, Emerson foi campeão em Monza. Muito antes de começar, a corrida iria ser um sucesso.
No ano seguinte, era tudo real: mais de cem mil nas bancadas, todos a sofrerem com o calor - e a acalmarem-se com mangueiradas dos bombeiros antes da corrida - e uma corrida impecável de Emerson, a vencer pela segunda vez na temporada - tinha conseguido o triunfo na Argentina, 15 dias antes, batendo Francois Cevért - e era o líder perfeito, com 18 pontos.
Para Scavone, ver a Formula 1 em Interlagos poderá ter sido o coroar da carreira, mas infelizmente, iria ter pouco tempo mais de vida para gozar. Poucos meses depois, a 11 de julho, ele e o seu colega Julio De Lamare, ambos ao serviço da Rede Globo, iriam a Silverstone para narrar o GP da Grã-Bretanha quando o avião em que iam, um Boeing 707 da Varig, caiu num campo de cebolas nos arredores do aeroporto de Orly, em Paris. Dos 123 passageiros, onze sobreviverem, e ele, infelizmente, não foi um deles.
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