quinta-feira, 7 de fevereiro de 2019

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Como é sabido, apareceu o novo carro da Haas. Dizendo melhor, a nova decoração do carro da Haas, porque o carro novo, propriamente dito, só aparecerá no primeiro dia de testes coletivos da Formula 1, em Barcelona. O que todos andam a dizer é a decoração, negra com uns fios de dourado, a fazer lembrar os dos Lotus dos anos 70, com o patrocínio da John Player Special.

Contudo, o que tudo isto me fez lembrar é algo que aconteceu na Lotus, mas há quase 40 anos. De alguém que escolheu a Formula 1 como forma de se mostrar ao mundo a sua enorme fortuna e o seu enorme ego. É que para mim, William Storey, o homem por trás da Rich Energy, marca de bebidas energéticas - na última foto, é o senhor de barba à esquerda de Romain Grosjean - não passa de outro David Thiemme.

Já falei sobre ele por aqui, mas caso já não se recorde, volto a falar dele: Thiemme era um americano, dono da Essex, que tinha enriquecido com a comercialização de petróleo por alturas do segundo choque petrolifero de 1978-79, quando o Xá do Irão é deposto e os "ayatollahs" tomam conta do país, transformando-a numa teocracia. Thiemme tem um acordo com a Credit Suisse e no final de 1978, consegue um rendimento de 70 milhões de dólares, fazendo dele um multimilionário. 

Thiemme adora automobilismo, e ê a Formula 1 como maneira de se promover, bem como a sua empresa, e a personagem ideal é Colin Chapman, dono da Lotus. O estilo de vida de Thiemme seduz-o, numa altura em que para manter uma equipa vencedora,  o preço era de cinco milhões de dólares. E a meio de 1979, o nome e as cores da Essex aparecem nos flancos dos Lotus, e Thiemme é uma presença constante no paddock, sempre rodeado de "grid girls", de óculos escuros e um estranho chapéu negro, do qual esconde a sua calvície.

A apresentação do modelo 81 acontece no Royal Albert Hall, em Londres, e só aí, foram gastos um milhão de libras. Para terem uma ideia, a Fittipaldi gastou 750 mil para comprar a Wolf e ficar com os chassis e pagar os salários dos mecânicos e engenheiros. Para não falar das três milhões de libras que a Skol lhe pagava para as despesas e desenvolver o que viria a ser o F8. E poucas semanas depois, o segundo lugar de Elio de Angelis no GP do Brasil parecia ser indicação de que os bons tempos estavam de volta. 

Ledo engano. Na primavera de 1981, Thiemme é detido pela policia suíça quando chega a Genebra. A Credit Suisse tinha-o processado devido a divergências nos pagamentos e acusa-o de estar à margem da lei, fugindo aos impostos, por exemplo. Thiemme fica pouco tempo na prisão, as acusações são canceladas, mas a reputação da Essex fica tão abalada que poucas semanas depois, entra em falência.

Falo da história de Thiemme porque o senhor Storey lembra um pouco ele. Só que aqui, não há petróleo, mas sim bebidas energéticas. E a Rich Energy tem mais "ar" do que substância. Um pouco como o famigerado "T-Minus", do príncipe nigeriano que em 1999, decidiu comprar parte da Arrows com uma mão cheia de nada e outra de coisa alguma. Storey queria entrar na Formula 1 há mais de um ano. Primeiro, queria patrocinar, e depois, comprar a Force India. Chegou a mostrar contratos de patrocínio que tinham sido assinados, mas na realidade, pouco ou nada foi retorquido. E até agora, pouca ou nenhuma publicidade da marca foi vista, e as latas não estão à vista nas prateleiras dos supermercados britânicos, ao lado de outras marcas como a Red Bull, Monster ou mesmo Hype.

E hoje, na conferência de imprensa, Storey teve a ousadia de ambicionar bater a Red Bull, que está no mercado há mais de 25 anos. Que a formiga tem catarro, lá isso têm, mas Storey - com uma barba viking e um disico de jogador de rugby - deseja mais atenção que outra coisa, e andará a passear pelo "paddock", procurando por câmaras de filmar e máquinas fotográficas. Nada que já não se tenha isto antes. Mais um numa longa lista de personagens excêntricas que a Formula 1 já assistiu, como Thiemme ou Jean-Pierre Van Rossem, da Onyx...

É bom que a Haas não confie muito no dinheiro dele. Merece melhor.

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