quinta-feira, 7 de março de 2019

A partida de Paddy Lowe

Um mal nunca vem só? Provavelmente. Mas se o FW42 teve todos estes problemas do qual tenho andado a falar nas últimas semanas e do qual tentou corrigir com Robert Kubica e George Russell ao volante, ontem à noite surgiu a noticia de que Paddy Lowe, projetista dos últimos carros da marca de Grove, decidiu afastar-se da gerência da Williams. Não é um despedimento - Lowe é acionista de cinco por cento da equipa, diga-se de propósito. Apesar de afirmar que o caro é fiável, e é melhor que o modelo anterior, a sua partida poderá representar um reconhecimento de derrota.

Todos reconhecem que as coisas na Williams andam... mal. Quando um dos pilotos diz que "conhece apenas 20 por cento do que deveria saber antes de chegar a Melbourne" (Robert Kubica), e isso só por si não é bom sinal. Apesar de tudo, Paddy Lowe ainda disse, no final dos testes coletivos que o principal objetivo era “projetar e implementar um processo dentro da nossa engenharia que tornasse os carros com melhores propriedades e depois entregasse essas melhores propriedades, o que é um bom passo para nós e uma base muito melhor para avançar um passo acima". Contudo, mesmo que o tenha feito, esta partida não é propriamente um sinal de vitória...

É que a partida de Lowe - que muitos afirmam ter sido uma aposta falhada - acontece a pouco mais de duas semanas do inicio do campeonato, deixando a Williams sem um projetista, porque já tem de se preparar para o carro de 2020. Mas as coisas vão um pouco mais profundas. A contestação vai mais além, fala-se de Claire Williams, a filha do patrão. É verdade que ela não tem tido grandes resultados desde que está no dia-a-dia da equipa, após o afastamento do fundador, que tem 76 anos e está muito debilitado. E para além disso, a perda de alguns patrocinadores, e os seus substitutos não terem o mesmo peso que os anteriores, não ajuda muito.

Claro, Lowe pode regressar - é um afastamento, não um despedimento, volta-se a referir - mas há quem veja tudo isto com o sinal de desaparecimento, como tiveram Lotus ou Tyrrell. Não seria um bom sinal o desaparecimento de uma equipa com sete títulos de Construtores, especialmente por parte de alguém que lutou durante anos a fio para alcançar o sucesso - a persistência de Williams em permanecer na Formula 1 ao longo dos anos 70 é lendária - mas também seria o sinal de que a categoria máxima do automobilismo tem uma tendência autofáfgica. O que não é um bom sinal.

Veremos o que acontecerá a partir de Melbourne. As expectativas estão baixas, e a ideia de um novo "ano zero" é real. E se calhar a Williams sobreviverá a mais este ano. É uma equipa de persistentes.

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