segunda-feira, 28 de junho de 2021

A imagem do dia


Antes deste rali Safari, o polaco Sobiesław Zasada já fazia parte da lenda dos ralis no seu país. Campeão nacional e tricampeão europeu em 1966, 1967 e 1971, com a idade que tinha já seria bom fazer provas histórias e matar saudades dos carros que tinha andado ao longo de três décadas, na segunda metade do século XX.

Mas enquanto há vida, há esperança, e ele sempre adorou o Safari. Percebo um pouco o porquê: acabar qualquer rali em África é um feito, mais do que vencer, sobreviver para contar a história é a maior das vitórias. Daí ver gente que se aventura no Dakar, porque é aquilo que o Thierry Sabine disse certo dia: "uma aventura para os que partem, um sonho para os que ficam". 

Sobiesław Zasada nasceu a 27 de janeiro de 1930. Para terem uma ideia, é oito meses mais velho que Bernie Ecclestone. Grande parte das pessoas que conviveu - alguns exemplos que deixo aqui: Pauli Toivonen, Rauno Aaltonen, Vic Elford, Rafaele Pinto, Tony Fall, Roger Clark - ou já morreram ou sofrem as agruras da velhice. Se ele tem alguma, escondeu-a bem, porque por estes dias, ele foi o centro das atenções. E a razão era simples: ele iria correr o rali Safari, num Ford Fiesta Rally3. Não era a mesma máquina de Sebastien Ogier, Gus Greensmith, Ott Tanak ou Thierry Neuville, todos eles com idade para serem seus netos, mas era algo do qual esperava chegar ao fim e contar a história.

Ao alinhar neste rali, bateu um recorde: o de piloto mais velho de sempre numa prova do WRC. Claro, alinhar é uma coisa, competir é outra, e terminar outra coisa ainda. E ele fez tudo isso. Não tinha ritmo para os WRC, nem para os melhores locais, mas evitou as armadilhas dos furos, das suspensões quebradas, pode ter apreciado a vida selvagem que observava - ou talvez não - aquelas estranhas máquinas que tentavam andar mais velozmente que uma chita. 

No final, a prova acabou na última especial, vitima de uma quebra da suspensão. Na altura era 25ª, a mais de duas horas de desvantagem sobre Sebastien Ogier... e não era o último. Apesar de não ter acabado, para pena de muitos, com certeza outros ficaram espantados por saber como alguém ainda tem o espirito de entrar num carro de rali e competir. Acho que tem a ver com a esperança. Ouvi dizer que é a última a morrer. 

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