quinta-feira, 4 de novembro de 2021

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Há trinta anos, a CART era uma competição do qual poderia ser rival da Formula 1, e os seus pilotos eram a inveja de algumas equipas. Gente das famílias automobilísticas americanas era observada atentamente devido à sua rapidez, como Michael Andretti ou Al Unser Jr, e outros como Paul Tracy, um canadiano muito veloz no inicio dos anos 90. Em 1992, por exemplo, ele tinha 24 anos.

Recentemente, Unser Jr, agora com 59 anos e com uma carreira recheada de sucesso que nas 500 Milhas de Indianápolis, quer na CART e na IndyCar, lançou a sua autobiografia, onde falou que por duas vezes, em 1985 e em 1992, teve chances na Formula 1. A primeira delas foi a Brabham, quando Bernie Ecclestone ofereceu um teste no então Brabham BT54, numa altura em que Nelson Piquet partia para a Williams. Unser Jr, então com 23 anos, recusou, justificando que não tinha ainda feito "nome" na IndyCar. Ele afirma que foi "a decisão errada".

Eu me arrependo por dentro agora”, afirmou durante uma recente conversa por telefone. “Em retrospectiva, eu deveria ter aceitado a oferta de Bernie e feito o melhor trabalho que eu poderia fazer na Formula 1 e depois voltar e ter uma longa carreira na Indy como Emerson Fittipaldi.

Mas em 1991, teve uma segunda chance. Inesperadamente, recebeu uma chamada telefónica para saber se estaria disposto a ficar cinco dias em Portugal para testar o Williams FW14, que iria ser a máquina ganhadora nas mãos de Nigel Mansell. Contudo, a chance acabou por ser algo estranha, especialmente porque sentiu hostilidade por parte de Patrick Head. E para piorar as coisas, o carro era difícil de guiar e os músculos do pescoço não estavam habituados às forças G's a média velocidade.

Patrick não me queria lá de jeito nenhum”, conta Unser. “O próprio Frank decidiu convidar-me. Mas desde o primeiro dia, desde o momento em que desci do avião em Heathrow, Patrick definitivamente colocou no meu lugar.

Eu digo, 'Honestamente, Patrick, eu quase bati com o carro por várias vezes. Eu sei onde está o limite', e ele diz:' Se você não guiar, eu vou te encostar'”, diz Unser. Então fui para a curva mais lenta, pisei no acelerador e fiz um pião. Quando voltei para as boxes, ele estava exultante. ‘É disso que estou falando!’ Ok, tanto faz.

Depois, falou acerca de Damon Hill, então piloto de testes da equipa. E como uma chance para testar o carro mais eletrónico foi desperdiçada quando ele se despistou no último dia dos testes. Unser está até hoje convencido que ele fez de propósito, às ordens de Head.

A ética de trabalho dos pilotos de Formula 1 era maior do que para os da Indy naquela época. Eles trabalhavam nisso 24 horas por dia, 7 dias por semana. Eles ficaram até tarde com os engenheiros, e eles chegaram de manhãzinha, algumas horas mais cedo, enquanto eu aparecia uma hora antes do teste e descobrir qual era o plano para o dia.

No final do último dia, Damon - que não tinha despistado nenhuma vez durante os cinco dias de teste - colocou-o na gravilha numa das curvas de velocidade baixa. Isso acabou com qualquer oportunidade para eu poder guiá-lo.

No final, o que ficou, para Unser não foi a velocidade ou se era mais rápido que Damon Hill ou Ricciardo Patrese. Na realidade, era o seu compromisso que estava a ser testado, e para eles, não serviu. Mas isto não beliscou a sua carreira, pois em 1992 e 94, triunfou nas 500 Milhas de Indianapolis, ao mesmo tempo que se transferia para a Penske e era campeão da CART naquele ano. Correu até 1999, quando foi para a IRL, e lá correu até 2003, aos 41 anos.

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