domingo, 2 de outubro de 2022

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Demorou 20 anos, mas aconteceu. E da última vez que aconteceu, o campeão andava de fraldas e o seu pai competia. Estávamos em 2002 e Marcus Gronholm tornava-se campeão num Peugeot 206 WRC. Sebastien Loeb era "uma jovem esperança dos ralis" e já tinha triunfado, uns tempos antes, e um dos companheiros de equipa do Gronholm campeão era um... Harri Rovanperä. Que naquela temporada tinha conseguido quatro segundos lugares e o sétimo lugar no campeonato, com 30 pontos.

De 2002 a 2022, os franceses ficaram com quase tudo. Tirando os títulos solitários de Petter Solberg e Ott Tanak, o Mundial de ralis foi um feudo francês, especialmente, se o teu primeiro nome for "Sebastião". Loeb, primeiro, Ogier, depois, foram pilotos muito bons, bem acima de qualquer suspeita, em qualquer carro, em qualquer tipo de superfície. Seja neve, terra ou asfalto. 

Os finlandeses tentaram, isso não tenho dúvidas. Tiveram pilotos como Mikko Hirvonen, Jari-Matti Latvala e Juho Haninen, entre outros, mas todas as suas tentativas foram bloqueadas pelos franceses, bem melhores que eles. Confesso ter tido alguma pena de Hirvonen, que merecia pelo menos um título. Latvala tinha mais dias de "lata na vala" - o seu fim no rali de Portugal de 2009 foi arrepiante - mas também mostrou que era um bom piloto, capaz de alcançar títulos, se fosse menos impetuoso.

E no meio disto tudo, um rapaz era preparado para andar num carro de ralis. Quem viu o vídeo dele, no final de 2008, num lago de gelo, ao volante de um Toyota Startlet azul, a controlar o carro, notava-se que estava a ser preparado para algo grande. A sua vida já tinha sido desenhada desde então. O resto, viu-se: desde os 15 anos andava em carros de ralis na Letónia, e aos 17 anos, recebeu uma licença especial do WRC para poder competir em ralis. Estava mais que preparado, e todos só queriam saber como seria perante os tubarões do WRC, alguns quase o dobro da sua idade. E Loeb, que já está na sua fase descendente, até correu com o seu pai.

A Toyota ajudou muito nisso. Eles sabiam do seu potencial, e com a equipa a ser montada na Finlândia, com gente como Tommi Makinen e Jari-Matti Latvala, Rovanpera cresceu sem queimar etapas. O primeiro rali com um WRC puro foi no Rali de Monte Carlo de 2020, mas logo na proba seguinte, na Suécia, acabou em terceiro. Ou seja, aos 19 anos, e no seu segundo rali com este carro, acabou no pódio. E ano e meio depois, na Estónia, conseguiu bater o recorde de Latvala em dois anos. 

Em suma: era tudo uma questão de tempo.

E agora fazemos a grande pergunta: este é o primeiro de quantos? Quando pensamos que Ogier tem 39 anos e Loeb 48, com capacidade de triunfar num bom carro - aliás, a vitória de Loeb no Monte Carlo, no início do ano é a mais velha de sempre de um piloto - pergunto-me quantos títulos é que ele irá querer. E se quer experimentar outras categorias de automobilismo como a Endurance ou os GT's. 

É essa a minha grande pergunta. Porque de resto, ele pode estar a caminho de conseguir todos os recordes do WRC.  

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