segunda-feira, 15 de maio de 2023

The End: Giotto Bizzarrini (1926-2023)


Há quem jure que desenhou alguns dos melhores GT's da história ao automobilismo. Aliás, foi ele que ajudou a construir o Ferrari 250GT, o Lamborghini 350GT, o Iso Griffo e o carro com o seu próprio nome, o Bizzarrini 5300 GT Strada. Tudo isso em menos de uma década. Graças a isso, o seu nome entrou na história do automobilismo e na mente de muitos amantes deste tipo de carros. 

Giotto Bizzarrini, que trabalhou em todas estas marcas, morreu neste sábado aos 96 anos, em Roma. Meses antes, em fevereiro, a marca com o seu nome tinha mostrado um carro com o seu nome, o Giotto, desenhado por Georgetto Guigiaro

Engenheiro de profissão, disse sempre que "era um trabalhador, não um designer", mas ao trabalhar, criou pérolas. Nascido a 6 de junho de 1926 em Quercianella, na província de Livorno, no centro de Itália, o seu avô tinha sido amigo e trabalhou com Gugliermo Marconi no desenvolvimento da rádio, no inicio do século.  Seguindo engenharia, acabou o seu doutorado na Universidade de Pisa em 1953, e o seu projeto de final de curso foi uma modificação do Fiat Topolino no sentido de ganhar potência e deslocar o motor para a traseira, conseguindo ganhar maior dirigibilidade.

O seu primeiro emprego foi na Alfa Romeo, onde se tornou piloto de testes no departamento experimental da marca. Anos mais tarde, contou que "tornei-me num piloto de testes que, por acaso, era um engenheiro, com princípios matemáticos. Sempre soube que, se isto falhava, saberia qual era a solução."  Em 1957, foi para a Ferrari como piloto de testes, mas os seus conhecimentos de engenharia permitiram trabalhar nos caros de competição para a Formula 1 e os GT's. Começou a trabalhar em carros como os da série 250, como o Testarrossa, o 2+2, e o mais importante de todos, o GTO, pois esse que que teve o seu maior envolvimento. O carro ficou completo em 1962, depois de um ano de testes.


Contudo, a meio de 1961, as tensões entre Enzo Ferrari e os seus engenheiros estavam no auge, por causa da interferência da mulher, Laura, na oficina. Bizzarrini foi um dos cinco engenheiros, entre eles Carlo Chiti e Romolo Tavoni, e foram fundar a Automobili Turismo e Sport, a ATS, com o financiamento do Conde Giovanni Volpi, dono da Scuderia Serenissima, de Veneza. Ele decidiu construir um chassis para a estrada, com a ajuda de Piero Drogo, e resultou com ATS 1000 GTC. Foi uma evolução das ideias do 250 GTO, e foi construído... em 14 dias.

Um ano depois, ao fundar a firma de consultadoria Autostar, recebeu uma encomenda de Ferruchio Lamborghini para construir um motor de 12 cilindros para o seu carro de estrada, o 350GT. O desenho do motor foi tão marcante que, com variantes, foi usado até 2010, com o modelo Murciélago. Pouco depois, foi colaborar para a Iso-Rivolta, onde colaborou com o IR300 e o Iso Griffo, mas depois, desentendimentos entre a marca e a sua consultadoria resultaram em 1966 na mudança de nome para Bizzarrini SpA.


Foi ali que construiu o 5300 GT Strada, que foi produzido 133 unidades entre 1964 e 68, e foi derivado do Iso Grifo, e participou em competições como as 24 horas de Le Mans de 1965, onde terminou na nona posição, às mãos dos franceses Régis FraissinetJean de Mortemart. Contudo, depois da apresentação do protótipo Manta, em 1968, a marca acabou por declarar falência. 

A partir da década seguinte, Bizzarrini tornou-se consultor para construtores americanos e japoneses, ao mesmo tempo que daba aulas na Universidade de Roma. em 2012, aos 86 anos, foi-lhe conferido um doutoramento "honoris causa" pela Universidade de Florença pelas sua contribuições na engenharia, no design e no automobilismo. E claro, era um dos últimos representantes de uma era do automobilismo em Itália, não só por ter estado numa das mais importantes equipas, como também ajudou a fundar outras e colocar o seu nome nas suas criações, admiradas em museus e exposições de automóveis. 

Grazie mille, Inginiere Giotto. Ars aeterna. 

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