Oficialmente, nunca foi provado que o Benetton B194 tinha ajudas eletrónicas para o controlo de tração, mas há uns anos, em 2019, Jonathan Williams, filho de Frank Williams, contou no motorsport.com uma história de um teste que as duas equipas fizeram juntas no autódromo de Pembrey, no Reino Unido. Nessa altura, J.J. Letho estava de regresso, depois do acidente que afetou-lhe o pescoço e o impediu de correr nas duas primeiras corridas do ano.
Em 1994, Jonathan Williams cuidava da Madgwick, equipa de Formula 3000, e que naquela temporada tinha como pilotos o sueco Kenny Brack e o belga Mikke van Hool. Ali, contou o seguinte:
"[O teste aconteceu] entre o Grande Prêmio de Aida, corrida em que Ayrton observou o que considerou o controle de tração, e Imola, porque JJ Lehto voltou ao lugar de Jos Verstappen para a terceira corrida”, começou por detalhar Jonathan Williams nas colunas da revista. "Naquela tarde, a Benetton decidiu fazer alguns testes na reta dos boxes. Fomos todos para a bancada e assistimos. Não vou citar ninguém, mas um mecânico da Madgwick – que mais tarde se tornou um engenheiro de sucesso para duas equipes de Fórmula 1, ambas vencedoras de títulos mundiais – me disse: 'Olhe para as marcas de borracha e ouça.' Ele estava me ensinando uma lição sobre controle de tração.
“Olhando para trás, o que realmente me fez entender [que estavam a ser observados] foi quando um ex-funcionário da Williams, que agora estava na Benetton, me viu e fugiu rapidamente. Eles interromperam os testes, sabendo que alguém da família Williams os estava a observar.
“Nunca contei essa história publicamente antes, mas já se passaram mais de vinte anos e há tantas pessoas dizendo que o carro estava equipado com controle de tração que não me preocupo com a divulgação da informação. Lembro-me daquele dia em Pembrey, com a Benetton fazendo alguns testes diante de nós, sem se terem percebido que havia alguém da Williams.”, concluiu.
O mais interessante disto tudo é que isto da Benetton pode não ser único. Já leram que a Ferrari parecia ter um sistema desses no seu carro, cortesia do "lapsus linguae" de Nicola Larini no fim de semana de Aida, no Japão. Pois bem: no dia da corrida, as equipas que foram ao pódio, Ferrari, Benetton e McLaren, foram intimadas pela FIA para entregarem os seus código-fonte. Benetton e McLaren negaram, alegando razões de "copywright". A FIA não quis saber disso e multou-as em 100 mil libras cada uma, e uma semana depois, ambas entregaram.
Uma firma, a Liverpool Data Research Associates, foi ver o que tinham e descobriu-se que no caso da McLaren, o programa servia para trocar de marchas quase de forma automática, mas nada de controlo de tração. Ou seja, era legal.
A Benetton? Entregou o código-fonte original e demorou até 18 de julho para saber o que tinha. Na realidade, a programação tinha controle de tração, no sentido de auxiliar na largada, com o computador conectado à caixa de velocidades. Mas não era visível no ecrã, quando o carro ficava ligado. Este apresentava 10 opções, o controle de tração era a opção 13.
Mas a FIA nada fez no sentido de os penalizar, porque não tinham "a prova". Existiam vestígios, nas não a coisa. E se eles tinham algo, retiraram logo a seguir. É essa a conclusão.
Contudo, no meio disto tudo, fico com a seguinte ideia: a retirada destes auxiliares eletrónicos não foi popular entre as equipas. Com três das principais a terem programas que disfarçavam, de certo modo, esses auxiliares banidos, mostrava que queriam deixar algo para conseguir aquela "vantagem injusta", desde que a FIA não descobrisse.
Hoje em dia, 30 anos depois, esse ainda é um assunto nublado. O pessoal que trabalhou na Benetton nega isso, e das duas, uma: ou existia, mas era usado para testes privados, para encontrar diferenças, ou era aquilo que falei umas linhas acima. E depois, mesmo que usasse, as medidas que a FIA teve de fazer no final do fim de semana monegasco, com toda a pressa e para mostrar que serviço, qualquer vantagem poderá ter sido prejudicado com essas modificações.
Qualquer que seja a conclusão, nunca teremos uma resposta definitiva.
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