Em dia de meu aniversário, decidi dar uma prendinha a mim mesmo e aos meus visitantes. Vou falar do que é provavelmente, o Formula 1 mais marcante de sempre, o desenho mais genial saído da pena de
Colin Chapman, ajudado por
Maurice Phillipe, e um recém-chegado da BRM,
Tony Rudd. Eo desenho era tão genial, que teve uma duração superior ao normal, e continuou a ser um carro vencedor. Hoje é dia de falar do
Lotus 72.
No final de 1969, o Lotus 49 já tinha dois anos de idade, e Chapman e a sua Lotus tinham sido derrotados pela Matra de Jackie Stewart. Somente conseguiram ganhar duas corridas, uma para Graham Hill, no Mónaco, e outra para Jochen Rindt, em Watkins Glen. Para além disso, Chapman tinha investido muito tempo num dos seus projectos falhados, o Lotus 63 de tracção total. Nesta altura, Chapman começava a tentar extrair o máximo de algo que tinha surgido na Formula 1 há pouco tempo: a aerodinâmica. Depois de regularem a altura das asas, após o acidente de Jochen Rindt em Montjuich, Chapman achou que era altura de começar a desenhar um carro totalmente revolucionário, e que fosse capaz de marcar a diferença em relação ao resto do pelotão, já que quase todos, à exepção da Matra, BRM e Ferrari, usavam motores Cosworth.
Assim sendo, para além da colaboração com Maurice Philippe, pediu a um recém-chegado da BRM, de seu nome Tony Rudd, para que ajudasse a desenhar o novo carro, aproveitando alguns elementos provenientes de outros modelos da Lotus, e ajudando a encontrar outros que mostrassem ser eficazes. Assim, o Lotus 72 transformou-se no primeiro carro da "era moderna". Este monocoque em aluminio tinha, entre outras coisas, o radiador nos lados do carro, após o "cockpit" e o mais próximo possivel do motor, para o ajudar a refrigerá-lo. Para ajudar ainda mais, colocou uma entrada de ar superior, no qual foi o primeiro a fazê-lo. No lugar do radiador, Chapman teve a liberdade de desenhar uma frente em bico, o mais aerodinâmico possivel, inspirado no seu modelo Lotus 56 a turbina, que tinha corrido dois anos antes em Indianápolis.
Em termos mecânicos, o Lotus 72 foi o primeiro carro a ter os travões de disco internos, e tinha também molas de torção tanto à frente como atrás. Em suma, um carro totalmente revolucionário.
Em testes comparativos com o modelo 49, e com o mesmo motor, a eficácia aerodinâmica era tal que conseguia ser 12 milhas por hora mais rápido do que o modelo anterior. Assim sendo, Chapman não hesitou em levar dois modelos, para Rindt e para o inglês John Miles, para os estrear no GP de Espanha de 1970, no circuito de Jarama. Mas a estreia... foi um desastre. Quando Rindt o experimentou, um dos veios de travão quebrou 200 metros depois da saída das boxes. Irado quando chegou às boxes, Rindt virou-se para Chapman e gritou: "Nunca mais volto a guiar esta m****!". Mas iria ser com este carro que iria ganhar cinco corridas seguidas naquele ano...
Depois de resolvidos os problemas de juventude, o Lotus 72 tornou-se numa máquina imbativel, pois Rindt ganhou na Holanda, França, Inglaterra e Alemanha, para além do Mónaco, onde ganhou com o modelo 49. Rindt estava destinado a conquistar o título, mas a 5 de Setembro de 1970, quando tentava fazer a pole-position num modelo 72 sem asas, os travões falharam na travagem para a Parabólica e o austriaco sofreu um acidente fatal.
Os Lotus retiraram-se dessa corrida, mas depois prepararam dois modelos 72 para o seu substituto, o sueco Reine Wissell e um novato de 23 anos chamado Emerson Fittipaldi. A ideia era fazer com que impedissem o assalto de Jacky Ickx às suas hipóteses de título. O plano foi aplicado no circuito americano de Watkins Glen, onde funcionou na perfeição, pois Fittipaldi ganhou e Wissel foi terceiro, ambos à frente do Ferrari de Ickx. Com isto, a Lotus venceu ambos os títulos de pilotos e construtores.
Em 1971, o desemvolvimento do Lotus 72 foi um pouco travado devido aos esforços de Chapman para desenvolver o fracassado Lotus 56 Turbina, e os resultados foram modestos, onde nem conseguiram vencer qualquer corrida.
Mas as coisas mudaram radicalmente em 1972. Depois de abandonar o modelo 56, Chapman, Phillipe e Rudd modificaram o carro, no sentido de o tornar ainda mais eficaz. O modelo D tinha uma nova tomada de ar e suspensões redesenhadas no sentido de se tornarem mais eficazes. O motor ganhou uma nova evolução, e os pneus Firestone fizeram o resto. Contudo, para o público em geral, a modificação foi visual. A Imperial Tobacco decidiu mudar a marca que estava a patrocinar, e passou da Players Cut, vermelho e dourado, para a John Player Special, negro e dourado. O mito estava criado.
Em 1972, Fittipaldi dominou a temporada, ganhando cinco corridas (Espanha, Belgica, Inglaterra, Austria e Itália), vencendo o seu primeiro título mundial, e tornando-se no piloto mais novo a consegui-lo. As coisas pareciam caminhar para um dominio maior em 1973, com Fittipaldi e o seu novo companheiro, o sueco Ronnie Peterson. Mas eles tinham um novo fornecedor de pneus, e do entusiasmo inicial (vitórias na Argentina, Brasil e Espanha), veio o deserto, e o favorecimento de chapman a Peterson, fazendo perder o título a favor de Jackie Stewart. contudo, conseguiram ganhar pela terceira vez o título de construtores.
A partir de 1974, agora com o belga Jacky Ickx ao volante, Chapman coloca uma versão E, mas já pensa no carro seguinte, o Lotus 76. Contudo, os testes com este carro revelaram que o modelo tinha muitas falhas, e os pilotos pediram para voltar ao já velho modelo 72. Foi com ele que Peterson ganhou três corridas (Mónaco, França e Itália), conseguindo o quinto lugar no Mundial de pilotos.
Em 1975, Chapman ainda investiu no modelo 76, mas verificou que era uma perda de tempo, e perferiu puxar ainda mais por uma máquina já velha e desusada, superada por modelos mais novos e velozes, como o Ferrari 312T, o McLaren M23, o Brabham BT44 ou até o Tyrrell 006... nesse ano, o melhor que conseguiram foi um segundo lugar no infame GP de Espanha, em Barcelona, através de Jacky Ickx.
O último Grande Prémio foi o de Watkins Glen, em 1975. Nessa corrida, Ronnie Peterson e o inglês Brian Henton correram com o modelo 72, e o sueco no final conseguiu um quinto lugar, e o inglês não conseguiu classificar-se. Por fim, podia ser substiuido pelo modelo 77, uma evolução mais eficaz. Nessa altura, o pelotão tinha sofrido uma mutação inequivoca, e todos copiavam, ou tinham-se inspirado, nas linhas do modelo 72. Provavelmente, tinha sido o modelo mais influente da história da Formula 1.
Carro: Lotus 72
Projectistas: Colin Chapman, Maurice Phillipe, Tony Rudd.
Motor: Cosworth V8 de 3 Litros, 460 cv às 10.300 rotações (1975)
Pilotos: Jochen Rindt, Graham Hill, John Miles, Reine Wissel, Emerson Fittipaldi, Dave Walker, Dave Charlton, Ronnie Peterson, Jacky Ickx, John Watson, Brian Henton e Ian Scheckter.
Corridas: 75
Vitórias: 20 (Fittipaldi 9, Peterson 7, Rindt 4)
Pole-Positions: 17 (Peterson 10, Fittipaldi 4, Rindt 3)
Voltas Mais Rápidas:9 (Fittipaldi 5, Peterson 4)
Pontos: 298 (Fittipaldi 141, Peterson 90, Rindt 36, Ickx 15, Wissel 13, Miles 3)
Títulos: Campeão do Mundo de Pilotos em 1970 (Jochen Rindt*) e 1972 (Emerson Fittipaldi). Campeão do Mundo de Construtores em 1970, 1972 e 1973.
Fontes:
3 comentários:
Fantástico, Speeder.
O Lotus 72 é fantástico, assim como sua história e seus projetistas (ninguém sabe por que Pilippe se suicidou, ou sabem?).
Até hoje me arrependo de não ter comprado uma miniatura dela no começo do ano por 15 euros... Era do Fittipadi (prefiro a do Ickx), mas ainda assim era linda
Essa pintura e esse design são os mais lindos de todos os tempos da formula 1, sem sombra de dúvida.
O maior carro da história da F1: valeu, Speeder!
Se puder, conta mais.
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