No passado dia 5, o jornal inglês Daily Telegraph aproveitou o facto de este mês se comemorar o 80º aniversário natalício de Sir Stirling Moss para lhe fazer uma entrevista, onde ele pudesse abordar as questões do momento, ele que é um dos “Elder Statesmen” do automobilismo, e sempre uma voz que é frequentemente ouvida, e respeitada. Sob o pretexto do lançamento do livro "All My Races", decidiu abrir o livro da sua vida e carreira, das ocasiões criticas da sua vida profissional e como quer ser lembrado para a posteridade.
Jimmy Hendrix, Nancy Mitford, William Pitt the Younger, Gerog Frederic Haendel, John Logie Baird… Placas comemorativas não faltam na zona W1 de Londres, mas num calmo canto da zona de Mayfair existe outro tipo de placa – um Smart FourTwo Cabrio preto e prata com a placa de registo de 7SM. É o domínio de Sir Stirling Moss, um tesouro nacional e um desportista no verdadeiro sentido da palavra.
Conhecido sobejamente por ser o melhor piloto que jamais ganhou um título mundial de Formula 1, Sir Stirling Moss comemora este mês o seu 80º aniversário, e está a comemorar esta ocasião com um novo livro, “All my Races”, em colaboração com o escritor e jornalista Alan Henry. “Escrevo diários desde os meus primeiros dias de competição”, afirma Sir Stirling, “e achei engraçado se os juntasse num único livro. Tenho uma memória terrível acerca dos meus tempos áureos, então registar isso tudo foi uma boa solução”.
O resultado é uma contagem cronológica de 585 corridas, ralies, sprint races, corridas de rampa, provas que participou entre os seus 17 e os 32 anos. Dessas 585 corridas, venceu 209 até que um sério acidente durante uma prova extra-campeonato em Goodwood terminou abruptamente a sua carreira profissional. O livro omite o seu breve regresso em 1980, onde correu num Audi 80 no BTCC (British Touring Car Championship). “Foi um grande erro. Correr com pneus slicks e tração à frente era novo para mim. Nunca gostei muito”, afirmou. Para além disso, não refere também as suas participações em eventos históricos, normalmente ao volante de um Osca de 1956.
“Um carro pequeno serve-me perfeitamente” afirma Sir Stirling. “Tem apenas 1500cc e consigo manejá-la optimamente. Um carro grande e poderoso como um Jaguar Type D já me dá algum trabalho guiá-lo nos dias que correm. Sempre corri no máximo das minhas capacidades nos meus dias de competição, e reconheço que hoje em dia devo estar nos meus 80 por cento ao volante do meu Osca”. Caso ainda não tenha percebido, Sir Stirling faz 80 anos este mês…
Correndo antes que os contratos comerciais restringirem os volantes nos quais os pilotos têm de guiar, ele estima que deve ter guiado 108 modelos diferentes ao longo da sua carreira. “As pessoas presumem que os pilotos são pessoas ocupadas nos dias de hoje, porque a Formula 1 tem 17 ou 18 corridas, e nós tínhamos apenas 8 ou 10 para lidar, mas nos meus dias, corria em outros eventos e muitas corridas extra-campeonato, pois eram também importantes eventos.”
O seu maior sucesso? “Provavelmente a minha vitória nas Mille Miglia de 1955”, afirma Sir Stirling. “Porque não consegues memorizar mil milhas de estradas públicas, e ainda por cima estavam cheios de espectadores, que tapavam muitas das vezes as placas sinalizadoras. Eu tinha o Jenks [Dennis Jenkinson (1921-96), jornalista do Motorsport] no lugar do passageiro, como o meu cão-guia, lendo as notas. Mesmo assim tinha de improvisar, pois isto era muito diferente dos circuitos.”
“Em termos de Formula 1, eu teria de escolher o GP do Mónaco de 1961. A corrida durava então 100 voltas. Tinha conseguido qualificar na pole-position o Lótus 18 inscrito pela Rob Walker, um carro com um ano de idade, e na corrida, perdi a primeira posição para um dos Ferrari, mas recuperei-a ao fim de 12 voltas. Tive que andar ao nível do meu tempo da pole em todas aquelas cem voltas, sob pressão dos Ferrari que estavam atrás de mim, e sabia que tinham um pouco mais de potência do que o meu carro. E no final, venci com 40 segundos de diferença. Só para ver a dureza que foi fazer aquela corrida.”
A sua habilidade de ganhar com carros menos potentes sempre foi um marco, mas o fracasso de Sir Stirling em vencer qualquer título mundial – foi vice campeão por quatro vezes e terceiro por outras três ocasiões, entre 1955 e 61 – não o afecta muito. Aliás, uma das razões pelo qual nunca alcançou esse feito pode passar pela sua intrgridade. Em 1958, Sir Stirling venceu quatro Grandes Prémios e o seu companheiro de equipa na Vanwall, Tony Brooks, venceu em outras três ocasiões, mas o solitário sucesso de Mike Hawthorn, acompanhado pelos seus sucessivos pódios foram suficientes para que este se tornasse no primeiro britânico a ser campeão do mundo de Formula 1.
Em Portugal, Hawthorn tinha sido inicialmente desqualificado do seu segundo lugar por ter sido empurrado quando voltou à corrida, após um despiste, mas foi o testemunho voluntário de Moss aos comissários de corrida, afirmando que ele não foi empurrado, que o fez recuperar o segundo lugar conquistado em pista. “Os meus sentimentos em relação a aquele incidente nunca mudaram”, afirmou. “Mike não fez nada de errado. Ficou preso uma área de escape e foi empurrado num sítio que não era propriamente a pista. Não via isso como justificação para a exclusão. É irrelevante que foi por causa disso que não consegui o título. O facto de ter sido vice-campeão por quatro vezes consecutivas, dá-me um certo sentido de exclusividade, e sei que era mais rápido do que certos pilotos que foram campeões.”
Correr somente para chegar ao fim e conseguir alguns pontos nunca me interessou. Há quem faça isso e vi muitos a fazê-lo ao longo dos anos, mas a minha filosofia era diferente. Podia ser a errada, mas eu era piloto”, declarou.
Em 1962, uma prova extra-campeonato no circuito de Goodwood terminou com a sua carreira automobilística, quando se despistou no seu Lótus 18/21 na curva St.Mary, uma rápida curva à direita, e sofreu graves ferimentos na cabeça. Nunca se soube a causa do acidente e na mente de Sir Stirling, não se recorda: ”Eu me lembro de sair do hotel onde estava hospedado, em Chichester, no meu Lótus Elite, estacionei-o no parque, vi um tipo porreiro chamado Paul Bates, que era paraplégico, e lembro de ter conhecido uma bela sul-africana na noite anterior. Para além disso… nada. A coisa que me lembro a seguir é de acordar no hospital, um mês mais tarde, e ver flores por todo o meu quarto. E disse: 'Caramba, devem ter pensado que ia mesmo morrer'. E não gostei muito de saber que estive perto disso.”
Um ano mais tarde, Sir Stirling regressou a Goodwood para testar um Lótus 19 de turismos. A pista estava húmida, mas os seus tempos eram respeitáveis. Contudo, achava que a sua condução não era mais instintiva, e optou pela retirada das pistas. Actualmente, acha que essa foi uma decisão demasiadamente prematura.
Em jeito de resumo, Sir Stirling tem poucos arrependimentos. Gostaria de ter guiado pela Ferrari, mas ficou ressentido depois de ter ido a Itália para correr numa prova para descobrir que os seus serviços não eram mais precisos. “Teria sido mais agradável se me tivessem avisado atempadamente”, afirmou. “Depois disso jurei que nunca mais iria guiar pela Ferrari, que iria batê-os em pista. A ironia era que eles me iriam dar um carro para a temporada de 1962. Não estava pronto a tempo da minha corrida fatal em Goodwood. Provavelmente se esse carro estivesse lá, o meu acidente nunca teria acontecido”.
Moss também gostaria de ter tentado pelo menos por uma vez as 500 Milhas de Indianápolis, mas o facto de ter de perder todo um mês para se dedicar exclusivamente a uma corrida, quando poderia correr em algumas durante esse mesmo período de tempo, retirou essa chance. “Gostaria de ser recordado como o piloto que preferiu perder títulos enquanto conduzia depressa e vencia corridas do que vencer títulos a guiar devagar e perder corridas”, concluiu.
Jimmy Hendrix, Nancy Mitford, William Pitt the Younger, Gerog Frederic Haendel, John Logie Baird… Placas comemorativas não faltam na zona W1 de Londres, mas num calmo canto da zona de Mayfair existe outro tipo de placa – um Smart FourTwo Cabrio preto e prata com a placa de registo de 7SM. É o domínio de Sir Stirling Moss, um tesouro nacional e um desportista no verdadeiro sentido da palavra.
Conhecido sobejamente por ser o melhor piloto que jamais ganhou um título mundial de Formula 1, Sir Stirling Moss comemora este mês o seu 80º aniversário, e está a comemorar esta ocasião com um novo livro, “All my Races”, em colaboração com o escritor e jornalista Alan Henry. “Escrevo diários desde os meus primeiros dias de competição”, afirma Sir Stirling, “e achei engraçado se os juntasse num único livro. Tenho uma memória terrível acerca dos meus tempos áureos, então registar isso tudo foi uma boa solução”.
O resultado é uma contagem cronológica de 585 corridas, ralies, sprint races, corridas de rampa, provas que participou entre os seus 17 e os 32 anos. Dessas 585 corridas, venceu 209 até que um sério acidente durante uma prova extra-campeonato em Goodwood terminou abruptamente a sua carreira profissional. O livro omite o seu breve regresso em 1980, onde correu num Audi 80 no BTCC (British Touring Car Championship). “Foi um grande erro. Correr com pneus slicks e tração à frente era novo para mim. Nunca gostei muito”, afirmou. Para além disso, não refere também as suas participações em eventos históricos, normalmente ao volante de um Osca de 1956.
“Um carro pequeno serve-me perfeitamente” afirma Sir Stirling. “Tem apenas 1500cc e consigo manejá-la optimamente. Um carro grande e poderoso como um Jaguar Type D já me dá algum trabalho guiá-lo nos dias que correm. Sempre corri no máximo das minhas capacidades nos meus dias de competição, e reconheço que hoje em dia devo estar nos meus 80 por cento ao volante do meu Osca”. Caso ainda não tenha percebido, Sir Stirling faz 80 anos este mês…
Correndo antes que os contratos comerciais restringirem os volantes nos quais os pilotos têm de guiar, ele estima que deve ter guiado 108 modelos diferentes ao longo da sua carreira. “As pessoas presumem que os pilotos são pessoas ocupadas nos dias de hoje, porque a Formula 1 tem 17 ou 18 corridas, e nós tínhamos apenas 8 ou 10 para lidar, mas nos meus dias, corria em outros eventos e muitas corridas extra-campeonato, pois eram também importantes eventos.”
O seu maior sucesso? “Provavelmente a minha vitória nas Mille Miglia de 1955”, afirma Sir Stirling. “Porque não consegues memorizar mil milhas de estradas públicas, e ainda por cima estavam cheios de espectadores, que tapavam muitas das vezes as placas sinalizadoras. Eu tinha o Jenks [Dennis Jenkinson (1921-96), jornalista do Motorsport] no lugar do passageiro, como o meu cão-guia, lendo as notas. Mesmo assim tinha de improvisar, pois isto era muito diferente dos circuitos.”
“Em termos de Formula 1, eu teria de escolher o GP do Mónaco de 1961. A corrida durava então 100 voltas. Tinha conseguido qualificar na pole-position o Lótus 18 inscrito pela Rob Walker, um carro com um ano de idade, e na corrida, perdi a primeira posição para um dos Ferrari, mas recuperei-a ao fim de 12 voltas. Tive que andar ao nível do meu tempo da pole em todas aquelas cem voltas, sob pressão dos Ferrari que estavam atrás de mim, e sabia que tinham um pouco mais de potência do que o meu carro. E no final, venci com 40 segundos de diferença. Só para ver a dureza que foi fazer aquela corrida.”
A sua habilidade de ganhar com carros menos potentes sempre foi um marco, mas o fracasso de Sir Stirling em vencer qualquer título mundial – foi vice campeão por quatro vezes e terceiro por outras três ocasiões, entre 1955 e 61 – não o afecta muito. Aliás, uma das razões pelo qual nunca alcançou esse feito pode passar pela sua intrgridade. Em 1958, Sir Stirling venceu quatro Grandes Prémios e o seu companheiro de equipa na Vanwall, Tony Brooks, venceu em outras três ocasiões, mas o solitário sucesso de Mike Hawthorn, acompanhado pelos seus sucessivos pódios foram suficientes para que este se tornasse no primeiro britânico a ser campeão do mundo de Formula 1.
Em Portugal, Hawthorn tinha sido inicialmente desqualificado do seu segundo lugar por ter sido empurrado quando voltou à corrida, após um despiste, mas foi o testemunho voluntário de Moss aos comissários de corrida, afirmando que ele não foi empurrado, que o fez recuperar o segundo lugar conquistado em pista. “Os meus sentimentos em relação a aquele incidente nunca mudaram”, afirmou. “Mike não fez nada de errado. Ficou preso uma área de escape e foi empurrado num sítio que não era propriamente a pista. Não via isso como justificação para a exclusão. É irrelevante que foi por causa disso que não consegui o título. O facto de ter sido vice-campeão por quatro vezes consecutivas, dá-me um certo sentido de exclusividade, e sei que era mais rápido do que certos pilotos que foram campeões.”
Correr somente para chegar ao fim e conseguir alguns pontos nunca me interessou. Há quem faça isso e vi muitos a fazê-lo ao longo dos anos, mas a minha filosofia era diferente. Podia ser a errada, mas eu era piloto”, declarou.
Em 1962, uma prova extra-campeonato no circuito de Goodwood terminou com a sua carreira automobilística, quando se despistou no seu Lótus 18/21 na curva St.Mary, uma rápida curva à direita, e sofreu graves ferimentos na cabeça. Nunca se soube a causa do acidente e na mente de Sir Stirling, não se recorda: ”Eu me lembro de sair do hotel onde estava hospedado, em Chichester, no meu Lótus Elite, estacionei-o no parque, vi um tipo porreiro chamado Paul Bates, que era paraplégico, e lembro de ter conhecido uma bela sul-africana na noite anterior. Para além disso… nada. A coisa que me lembro a seguir é de acordar no hospital, um mês mais tarde, e ver flores por todo o meu quarto. E disse: 'Caramba, devem ter pensado que ia mesmo morrer'. E não gostei muito de saber que estive perto disso.”
Um ano mais tarde, Sir Stirling regressou a Goodwood para testar um Lótus 19 de turismos. A pista estava húmida, mas os seus tempos eram respeitáveis. Contudo, achava que a sua condução não era mais instintiva, e optou pela retirada das pistas. Actualmente, acha que essa foi uma decisão demasiadamente prematura.
Em jeito de resumo, Sir Stirling tem poucos arrependimentos. Gostaria de ter guiado pela Ferrari, mas ficou ressentido depois de ter ido a Itália para correr numa prova para descobrir que os seus serviços não eram mais precisos. “Teria sido mais agradável se me tivessem avisado atempadamente”, afirmou. “Depois disso jurei que nunca mais iria guiar pela Ferrari, que iria batê-os em pista. A ironia era que eles me iriam dar um carro para a temporada de 1962. Não estava pronto a tempo da minha corrida fatal em Goodwood. Provavelmente se esse carro estivesse lá, o meu acidente nunca teria acontecido”.
Moss também gostaria de ter tentado pelo menos por uma vez as 500 Milhas de Indianápolis, mas o facto de ter de perder todo um mês para se dedicar exclusivamente a uma corrida, quando poderia correr em algumas durante esse mesmo período de tempo, retirou essa chance. “Gostaria de ser recordado como o piloto que preferiu perder títulos enquanto conduzia depressa e vencia corridas do que vencer títulos a guiar devagar e perder corridas”, concluiu.
1 comentário:
Parabens por mostrar a vida e carreira deste grande piloto . No Brasil quem o acompanhou quando aqui veio entregar o "Premio Victor" foi meu amigo Expedito Marazzi , que sempre me contava as histórias que ouviu .
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