Três meses depois da última corrida do ano, na Cidade do México, máquinas e pilotos estavam a preparar-se na ponta sul de África, mais concretamente no circuito de Kyalami, arredores de Joanesburgo, para uma nova temporada com inúmeras modificações no plantel, não só com pilotos e máquinas novas, mas também estavam a entrar novos actores na cena automobilística, todos com intenção de ficar.
A primeira grande novidade era a entrada de um novo construtor: a March Engeneering. Fundada alguns meses antes por um grupo de entusiastas, o nome eram as iniciais dos seus quatro fundadores: Max Mosley, ex-piloto e filho de Oswald Mosley, um politico que fundara nos anos 30 a British Union of Fascists; Alan Rees, ex-piloto de Formula 2; Graham Coaker e Robin Herd, ex-projectista que trabalhara na BRM. Mosley tratava da parte comercial, Herd era o desenhista, Coaker era o director de produção na fábrica que tinham montado em Bicester, e Rees era o director desportivo. O objectivo inicial era o de construir máquinas simples que poderiam vender a um preço competitivo para a Formula 1, Formula 2, Formula 3, Can-Am e Formula Ford.
Em relação à sua equipa de Formula 1, o projecto inicial era correr com Jochen Rindt na equipa, mas este não gostou do projecto e resolveu ficar na Lotus. Assim, a equipa oficial iria ser constituída pelo neozelandês Chris Amon e pelo suiço Jo Siffert. Um outro March privado, patrocinado pela companhia americana STP Oil Treatment, era inscrito para o americano Mário Andretti, em mais uma das suas incursões pela Formula 1.
Mas a sorte grande iria-lhes chegar naquela temporada, sob a forma de Ken Tyrrell. No final de 1969, com a conquista do campeonato do Mundo de pilotos e construtores, Jean-Luc Lagardere, presidente da Matra, queria que Tyrrell usasse em 1970 o motor Matra V12 em vez dos potentes e fiáveis Cosworth V8. Como Tyrrell sabia que o motor francês não era nem fiável, nem tão potente como a sua arquitectura aparentava, resolveu então abandonar os chassis Matra com Jackie Stewart a seu lado, e levar consigo os motores Cosworth.
Stewart e Tyrrell escolheram ir para a March, mas não iriam para a equipa oficial. Decidiram sim comprar dois chassis para a sua equipa Ken Tyrrell Racing Organisation, um para Stewart e outro para o francês Johnny Servoz-Gavin, que era apoiado pela petrolifera francesa Elf. Contudo, algumas dúvidas pairavam sobre a capacidade de pilotagem de Servoz-Gavin, pois sofreram um acidente durante o Inverno e a sua vista ficara afectada. Quanto à Matra oficial, colocou o seu motor francês no seu chassis e promoveu Jean-Pierre Beltoise a piloto principal. Como companheiro de equipa, veio outro francês: Henri Pescarolo.
Na Brabham, “Black Jack”, a caminho dos 44 anos de idade, decidiu adiar a reforma e correr um último campeonato, tentando alcançar um inédito quarto título. Nessa temporada iria apresentar o modelo 33, que por fim era um monocoque de alumínio, algo que a Lotus, por exemplo, já fazia desde 1962. Sem Jacky Ickx, que tinha regressado à Ferrari, o segundo piloto era um estreante alemão chamado Rolf Stommelen, cuja carreira tinha sido feita na Endurance e cujo lugar era parcialmente pago por uma revista alemã.
Na Lotus, Colin Chapman conseguiu manter Jochen Rindt por mais uma temporada, e promoveu John Miles para segundo piloto, enquanto que Graham Hill, que ainda estava a recuperar dos ferimentos sofridos no GP dos Estados Unidos, em Outubro, alinha com um carro inscrito pela Rob Walker Racing Team. De início, os modelos que correrão em Kyalami serão os Lotus 49, mas a idade já pesava e Chapman planeia estrear na Europa o modelo seguinte.
Na McLaren, Bruce McLaren e Dennis Hulme eram os pilotos oficiais, mas um terceiro chassis estava nas mãos de John Surtees, que após sair da BRM, decidiu construir a sua própria equipa. O chassis ainda estava a ser feito, e até lá iria correr num modelo M7A. Já a equipa de onde tinha vindo, a BRM, voltava a ter Pedro Rodriguez como piloto oficial, com Jackie Oliver e o canadiano George Eaton a seu lado. Estreavam um novo modelo, o P153, mais aerodinâmico do que o anterior e do qual depositavam muitas esperanças.
Em contraste, a Ferrari só levava um carro para a Africa do Sul. Jacky Ickx foi o piloto designado a conduzir o modelo 312B que estava pronto para aquela corrida.
Outra equipa que alinhava com um só carro era Frank Williams. Depois de uma boa temporada de 1969, Williams e o seu piloto, o escocês Piers Courage, decidiram correr com um chassis feito pela De Tomaso, uma fabricante argentino de carros, que voltava a aventurar-se na Formula 1 com um chassis aerodinamicamente mais leve, feito de magnésio. A tentativa de correr com outro chassis era corajosa, mas o resultado era incerto.
Para fechar as inscrições estavam os habituais pilotos do campeonato local. Nesta corrida alinharam três: John Love, o veterano rodesiano, num Lotus 49, Dave Charlton, noutro Lotus 49, e Peter de Klerk, num Brabham BT26. Ao todo, 23 pilotos alinhariam na primeira corrida oficial do campeonato do Mundo de 1970.
Nos treinos oficiais, o melhor foi Jackie Stewart. O campeão do mundo foi o piloto ideal para dar à March a sua primeira pole-position da sua carreira... logo na sua primeira corrida! A seu lado estava outro March, o de Chris Amon. No seu primeiro fim de semana oficial, a equipa dos quatro ingleses causava sensação. No terceiro posto, estava Jack Brabham.
A segunda fila tinha o Lotus de Jochen Rindt e o Ferrari de Jacky Ickx, enquanto que na terceira estavam o McLaren oficial de Dennis Hulme, o McLaren privado de John Surtees e o Matra de Jean-Pierre Beltoise. A fechar os dez primeiros estavam o March de Jo Siffert e o segundo McLaren oficial de Bruce McLaren.
O dia 7 de Março de 1970 tinha amanhecido com sol e muito calor. No momento da partida, Stewart larga melhor, com Rindt a tentar passar Amon, mas quando o pelotão chega à primeira curva, o austriaco toca no March do neozelandês e entra em pião. Brabham trava para evitar a colisão e nessa altura cai para o oitavo lugar, sendo ultrapassado por Ickx, Oliver, Rodriguez e McLaren. A partir daqui, o australiano iria encetar uma corrida de recuperação.
Na frente, Stewart tentava afastar-se da concorrência, mas Brabham estava ao ataque. No final da sexta volta tinha conseguido ultrapassar estes pilotos e chegar à segunda posição. A partir daqui, partiu para o ataque, em busca da liderança de Stewart. No final da volta 20, conseguiu alcançar, ultrapassar o escocês e ficar com a liderança. Por esta altura já tinha acontecido a primeira desistência do ano: Chris Amon viu o seu motor Cosworth sobreaquecer e ficou pelo caminho na volta 14.
As coisas estavam calmas na frente, mas a meio do pelotão, Dennis Hulme fazia uma corrida de trás para a frente, passando carros uns atrás dos outros e aproximando-se de Stewart. Na volta 38, conseguiu ultrapassar o March do escocês e ficar com o segundo posto, e a partir daqui, as coisas na frente ficariam assim até à bandeira de xadrez. Nos restantes lugares pontuáveis chegariam o Matra de Jean-Pierre Beltoise e os Lotus de John Miles e Graham Hill, num desempenho soberbo, dado que ainda recuperava das suas lesões de Watkins Glen.
No pódio, Jack Brabham tinha-se tornado no vencedor mais velho desde Juan Manuel Fangio, em 1957. Mostrava que o seu chassis era bem feito e que estava em forma. Contudo, os carros da March mostravam o seu potencial e começavam a ser encarados a sério, mas em termos oficiais, nenhum dos seus carros cortara a meta em lugares pontuáveis, pois Siffert chegara em décimo. Contudo, o Mundial de 1970 tinha acabado de começar...
Fontes:
http://en.wikipedia.org/wiki/1970_South_African_Grand_Prix
http://www.grandprix.com/gpe/rr185.html
A primeira grande novidade era a entrada de um novo construtor: a March Engeneering. Fundada alguns meses antes por um grupo de entusiastas, o nome eram as iniciais dos seus quatro fundadores: Max Mosley, ex-piloto e filho de Oswald Mosley, um politico que fundara nos anos 30 a British Union of Fascists; Alan Rees, ex-piloto de Formula 2; Graham Coaker e Robin Herd, ex-projectista que trabalhara na BRM. Mosley tratava da parte comercial, Herd era o desenhista, Coaker era o director de produção na fábrica que tinham montado em Bicester, e Rees era o director desportivo. O objectivo inicial era o de construir máquinas simples que poderiam vender a um preço competitivo para a Formula 1, Formula 2, Formula 3, Can-Am e Formula Ford.
Em relação à sua equipa de Formula 1, o projecto inicial era correr com Jochen Rindt na equipa, mas este não gostou do projecto e resolveu ficar na Lotus. Assim, a equipa oficial iria ser constituída pelo neozelandês Chris Amon e pelo suiço Jo Siffert. Um outro March privado, patrocinado pela companhia americana STP Oil Treatment, era inscrito para o americano Mário Andretti, em mais uma das suas incursões pela Formula 1.
Mas a sorte grande iria-lhes chegar naquela temporada, sob a forma de Ken Tyrrell. No final de 1969, com a conquista do campeonato do Mundo de pilotos e construtores, Jean-Luc Lagardere, presidente da Matra, queria que Tyrrell usasse em 1970 o motor Matra V12 em vez dos potentes e fiáveis Cosworth V8. Como Tyrrell sabia que o motor francês não era nem fiável, nem tão potente como a sua arquitectura aparentava, resolveu então abandonar os chassis Matra com Jackie Stewart a seu lado, e levar consigo os motores Cosworth.
Stewart e Tyrrell escolheram ir para a March, mas não iriam para a equipa oficial. Decidiram sim comprar dois chassis para a sua equipa Ken Tyrrell Racing Organisation, um para Stewart e outro para o francês Johnny Servoz-Gavin, que era apoiado pela petrolifera francesa Elf. Contudo, algumas dúvidas pairavam sobre a capacidade de pilotagem de Servoz-Gavin, pois sofreram um acidente durante o Inverno e a sua vista ficara afectada. Quanto à Matra oficial, colocou o seu motor francês no seu chassis e promoveu Jean-Pierre Beltoise a piloto principal. Como companheiro de equipa, veio outro francês: Henri Pescarolo.
Na Brabham, “Black Jack”, a caminho dos 44 anos de idade, decidiu adiar a reforma e correr um último campeonato, tentando alcançar um inédito quarto título. Nessa temporada iria apresentar o modelo 33, que por fim era um monocoque de alumínio, algo que a Lotus, por exemplo, já fazia desde 1962. Sem Jacky Ickx, que tinha regressado à Ferrari, o segundo piloto era um estreante alemão chamado Rolf Stommelen, cuja carreira tinha sido feita na Endurance e cujo lugar era parcialmente pago por uma revista alemã.
Na Lotus, Colin Chapman conseguiu manter Jochen Rindt por mais uma temporada, e promoveu John Miles para segundo piloto, enquanto que Graham Hill, que ainda estava a recuperar dos ferimentos sofridos no GP dos Estados Unidos, em Outubro, alinha com um carro inscrito pela Rob Walker Racing Team. De início, os modelos que correrão em Kyalami serão os Lotus 49, mas a idade já pesava e Chapman planeia estrear na Europa o modelo seguinte.
Na McLaren, Bruce McLaren e Dennis Hulme eram os pilotos oficiais, mas um terceiro chassis estava nas mãos de John Surtees, que após sair da BRM, decidiu construir a sua própria equipa. O chassis ainda estava a ser feito, e até lá iria correr num modelo M7A. Já a equipa de onde tinha vindo, a BRM, voltava a ter Pedro Rodriguez como piloto oficial, com Jackie Oliver e o canadiano George Eaton a seu lado. Estreavam um novo modelo, o P153, mais aerodinâmico do que o anterior e do qual depositavam muitas esperanças.
Em contraste, a Ferrari só levava um carro para a Africa do Sul. Jacky Ickx foi o piloto designado a conduzir o modelo 312B que estava pronto para aquela corrida.
Outra equipa que alinhava com um só carro era Frank Williams. Depois de uma boa temporada de 1969, Williams e o seu piloto, o escocês Piers Courage, decidiram correr com um chassis feito pela De Tomaso, uma fabricante argentino de carros, que voltava a aventurar-se na Formula 1 com um chassis aerodinamicamente mais leve, feito de magnésio. A tentativa de correr com outro chassis era corajosa, mas o resultado era incerto.
Para fechar as inscrições estavam os habituais pilotos do campeonato local. Nesta corrida alinharam três: John Love, o veterano rodesiano, num Lotus 49, Dave Charlton, noutro Lotus 49, e Peter de Klerk, num Brabham BT26. Ao todo, 23 pilotos alinhariam na primeira corrida oficial do campeonato do Mundo de 1970.
Nos treinos oficiais, o melhor foi Jackie Stewart. O campeão do mundo foi o piloto ideal para dar à March a sua primeira pole-position da sua carreira... logo na sua primeira corrida! A seu lado estava outro March, o de Chris Amon. No seu primeiro fim de semana oficial, a equipa dos quatro ingleses causava sensação. No terceiro posto, estava Jack Brabham.
A segunda fila tinha o Lotus de Jochen Rindt e o Ferrari de Jacky Ickx, enquanto que na terceira estavam o McLaren oficial de Dennis Hulme, o McLaren privado de John Surtees e o Matra de Jean-Pierre Beltoise. A fechar os dez primeiros estavam o March de Jo Siffert e o segundo McLaren oficial de Bruce McLaren.
O dia 7 de Março de 1970 tinha amanhecido com sol e muito calor. No momento da partida, Stewart larga melhor, com Rindt a tentar passar Amon, mas quando o pelotão chega à primeira curva, o austriaco toca no March do neozelandês e entra em pião. Brabham trava para evitar a colisão e nessa altura cai para o oitavo lugar, sendo ultrapassado por Ickx, Oliver, Rodriguez e McLaren. A partir daqui, o australiano iria encetar uma corrida de recuperação.
Na frente, Stewart tentava afastar-se da concorrência, mas Brabham estava ao ataque. No final da sexta volta tinha conseguido ultrapassar estes pilotos e chegar à segunda posição. A partir daqui, partiu para o ataque, em busca da liderança de Stewart. No final da volta 20, conseguiu alcançar, ultrapassar o escocês e ficar com a liderança. Por esta altura já tinha acontecido a primeira desistência do ano: Chris Amon viu o seu motor Cosworth sobreaquecer e ficou pelo caminho na volta 14.
As coisas estavam calmas na frente, mas a meio do pelotão, Dennis Hulme fazia uma corrida de trás para a frente, passando carros uns atrás dos outros e aproximando-se de Stewart. Na volta 38, conseguiu ultrapassar o March do escocês e ficar com o segundo posto, e a partir daqui, as coisas na frente ficariam assim até à bandeira de xadrez. Nos restantes lugares pontuáveis chegariam o Matra de Jean-Pierre Beltoise e os Lotus de John Miles e Graham Hill, num desempenho soberbo, dado que ainda recuperava das suas lesões de Watkins Glen.
No pódio, Jack Brabham tinha-se tornado no vencedor mais velho desde Juan Manuel Fangio, em 1957. Mostrava que o seu chassis era bem feito e que estava em forma. Contudo, os carros da March mostravam o seu potencial e começavam a ser encarados a sério, mas em termos oficiais, nenhum dos seus carros cortara a meta em lugares pontuáveis, pois Siffert chegara em décimo. Contudo, o Mundial de 1970 tinha acabado de começar...
Fontes:
http://en.wikipedia.org/wiki/1970_South_African_Grand_Prix
http://www.grandprix.com/gpe/rr185.html
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