Na semana que passou, vimos a Ferrari a vencer na bela paisagem singapuriana (ou será singaporense?) numa corrida que mesmo no seu limite de tempo, vaelu a pena ver. A segunda vitória consecutiva de Fernando Alonso demonstrou uma Ferrari em alta, muito em alta, que joga num equilíbrio muito precário entre o estado de saúde do seu motor, que cada vez mais gasto e cada vez mais sujeito a provações, lá aguenta o mais que puder, e vence a Red Bull.
A vitória de Fernando Alonso valeu porque foi decidido antes, na qualificação. Sebastien Vettel teve um erro e viu inesperadamente ver um Ferrari na frente, quando isto tudo poderia ser uma corrida da Red Bull. Contrariando o favoritismo, Alonso fez a pole, meio caminho andado para a vitória e para uma corrida perfeita, pois aguentou as pressões de Vettel nas 61 voltas a uma pista demasiado comprida para conseguir fazer duas horas de duração. As duas entradas do Safety Car o colocaram no limite. E se tivesse chovido? Certamente que não se fariam as 61 voltas, e para mim, continuo a colocar uma dúvida: para quê um circuito tão longo, feito a uma tão baixa velocidade? As razões técnicas são o primeiro factor, sem dúvida, mas acho que com este exemplo, a regra dos 305 quilómetros deve ser modificada. Não a das duas horas, que acho estar bem, mas a quilometragem das corridas.
Enquanto isso, na península coreana, ao mesmo tempo em que no Norte se escolhe o sucessor do Querido Lider, na unica monarquia estalinista do mundo, no Sul, todos andam às pressas para colocar a camada final de asfalto no circuito de Yeongnam, para que tudo esteja pronto no próximo dia 24 para o GP da Coreia do Sul. Os atrasos no circuito e na inspecção final do circuito demonstram uma tolerância para lá do tolerável aos coreanos, pois a FOM e Bernie Ecclestone sabem que o cancelamento do GP da Coreia do Sul é muito mais gravoso do que corrê-lo com algumas "pontas soltas", ou seja: estradas por acabar, alojamento deficiente, etc. O que interessa é que o palco esteja suficientemente bonito e que os carros corram lá sem problemas. Ponto.
Isto revela a obsessão da actual cúpula dirigente pelas paragens asiáticas. Este ano é a Coreia do Sul, no ano que vêm será a India. Por estes dias, a pista de Nova Delhi está a ser construída para que dentro de um ano, o circo da Formula 1 estará no subcontinente para correr pela primeira vez. Será que em Outubro de 2011 estaremos aqui a falar dos mesmos problemas de agora? Pelo que vejo e leio, temo que sim. Porque esta cúpula dirigente vê a Ásia como "a" tábua de salvação. E pelo que ando a ler por parte da grande maioria dos organizadores, a FOM anda no mundo da fantasia.
Quando Bernie Ecclestone falou que Singapura pode ficar no calendário por vinte anos, a organização retorquiu dizendo que com os valores pedidos pela FOM, não pensam ir mais além de 2012. E sei que, por ano, Singapura desembolsa 50 milhões de dólares para os cofres do Tio Bernie. Em era de crise, não se admira esta obsessão asiática. Mas mesmo eles que navegam em dinheiro, sabem que estes valores são incomodativos, e provavelmente devem saber que na Europa, eles pagam menos do que ali. E é bem possível que toda esta conversa sirva para baixar o preço daquilo que andam a pagar. Confrontado com isto, o Tio Bernie continuará a ter o desplante de pedir valores fantasiosos para acolher o Grande Circo?
E mais uma coisa: volto a tocar no assunto do "subcontinente indiano" porque por estes dias se fala da polémica das instalações para os Jogos da Commonwealth, que começam este Domingo em Nova Delhi, a capital indiana. O grande escândalo destes dias são os atrasos nas obras e os defeitos da aldeia olímpica, onde os observadores viram de tudo, desde dejectos de animais até casas de banho imundas. O governo teve de mobilizar milhares de empregados de hotéis próximos para que tudo brilhe para receber as delegações de 72 países de língua inglesa, mas a polémica está instalada e o perigo de fracasso é bem real.
Em suma, a "mina de ouro" que a FOM vê está condicionada por vários factores. E no final, é por causa da mentalidade capitalista no seu estado puro e duro que temos todas estas pistas na Ásia e subsequentes problemas. E é nesta mentalidade de "a qualquer custo" que a Formula 1 vive.
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