Agora que a Formula 1 tira três semanas de férias para gozar o Verão do Hemisfério Norte, há tempo para ler com calma as noticias e os rumores sobre a tempoestade que lentamente a categoria máxima do automobilismo atravessa, relacionada com a guerra surda entre a FIA e a FOM, com a FOTA na expectativa, sobre o controlo da Formula 1 no seu todo. E um bom exemplo dessas tensões li esta semana na Autosport portuguesa, do qual o habitual Luis Vasconcelos conta e eu coloco aqui.
"O relacionamento entre alguns dos responsáveis da FIA e da FOM está a atingir niveis bem baixos. No Nurburgring, o Chefe de Comunicação da FIA, Matteo Bonancini, e o braço direito de Ecclestone, Pasquale Lattuenddu, chegaram a vias de facto quando este último quis retirar um logotipo da federação da zona em que os três primeiros da qualificação iam ser fotografados. Bonancini fez valer o seu ponto de vista e, seguramente por coincidência, a entrega dos passes aos jornalistas estrangeiros acreditados na Hungria - outorgados pela FIA mas geridos pela FOM - só estiveram prontos na tarde de quinta-feira, quando por norma devem estar prontos logo pela manhã, o que criou problemas a muitos dos nossos colegas, impedidos de aceder ao circuito. Os dois italianos voltaram a falar no circuito, mas parecem não chegar a acordo, no que é um reflexo da guerra aberta entre os seus patrões, que estão a fazer faísca em todos os detalhes."
E neste final de semana, houve dois casos que exemplificam essa tensão entre todos. A apresentação de uma proposta de calendário de 2012, do qual todos reclamaram pelo fato de haver seis fins de semana consecutivos no final do ano, quando se sabe que, por exemplo, não há vôos diretos entre Austin e São Paulo, e a noticia do acordo entre a BBC e a Sky Sports onde a partir de 2012, parte das transmissões televisivas serão asseguradas pelo canal pago, e detido parcialmente por uma News Corp agora caída em desgraça.
Sobre o primeiro caso, essa proposta de calendário foi totalmente apanhada de surpresa pelas equipas, pois nada sabiam sobre isto e alguns murmuram que pode ser uma forma de Bernie Ecclestone ter colocado uma casca de banana para Jean Todt escorregar e a FOTA - ou seja, as equipas - colocarem as mãos à cabeça pelo desgastante trabalho que terão pela frente e as viagens que farão. E segundo, há etapas ainda em dúvida, desde as histórias à volta da Turquia até às polémicas sobre Valencia, relacionadas com o escândalo de corrupção que abala o governo local.
Sobre o segundo caso BBC/Sky, falamos da Grã-Bretanha, que adora automobilismo e sempre viu a Formula 1 em sinal aberto. A BBC tem contrato até 2015, mas está a braços com cortes na despesa, que está a levar a despedimentos e a cancelamentos. E a BBC paga bem para ter a melhor transmissão do mundo: 40 milhões de libras por ano. E os seus apresentadores, Martin Brundle e David Coulthard, juntos recebem um milhão de libras por ano. Comentadores a peso de ouro, pode-se ver...
Assim, com este novo contrato, a SkySports transmitirá a partir do ano que vêm as qualificações e doze das vinte corridas do calendário, com a BBC a transmitir as restantes dez. Só que quem queiser ver tudo, terá de gastar 40 euros por mês para ter acesso às transmissões da Sky Sports, e isso caiu muito mal no seio das equipas, que apesar de ganharem um pouco mais com este contrato, arriscam-se a ver os custos publicitários diminuirem pelo fato de terem perdido o sinal aberto, apenas porque Bernie Ecclestone continua a ser ganancioso e insensível à crise que ainda há lá fora.
E vejo isto como mais um sinal de que esta exigência cada vez maior de dinheiro como um "caminho para a perdição". Ainda não é a degola da galinha dos ovos de ouro, mas é mais uma facada no seu corpo. Se em mercados mais pequenos, a elitização da Formula 1 passa ao lado do "comum dos mortais", quando se trata de mercados maiores, como a Espanha, Alemanha, Itália, Grã-Bretanha e Brasil, o cerco fecha-se. Mais ano, menos ano, as pessoas, para verem a Formula 1, terão de pagar tanto como se fossem ao autódromo.
E nesta demanda quase maluca por tudo que é asiático por parte de Ecclestone, o anãozinho octogenário quer esquecer que o núcleo duro da Formula 1 ainda é europeu. São esses que enchem autódromos, pois os mercados chinês e o indiano ainda não tem nem interesse, nem público, nem poder de compra para isso. Basta ver a quantidade de pessoas que aparece nos fins de semana em Xangai para dar razão a esse cepticismo. E mesmo os próprios asiáticos já dão conta do presente envenenado que são os contratos assinaram com Ecclestone. Confesso que ficaria bastante surpreendido se os autódromos indiano ou o coreano estiverem cheios de pessoas, dentro de algumas semanas...
Para finalizar, todas estas pequenas polémicas mostram um quadro maior, de que estamos a entrar numa tempestade parecida com a de 2009, onde a luta entre Max Mosley e as equipas levou a que se partisse a corda e as equipas a ameaçarem a criar uma liga paralela. A coisa acalmou-se logo, com Mosley a abdicar do poder e a eleger Jean Todt. Mas em 2012 acaba o Acordo da Concórdia e as equipas querem uma fatia maior do bolo, e ainda por cima, Jean Todt não é o aliado que Bernie deveria contar para continuar a exercer o seu poder.
O que me leva a recear que no próximo ano vejamos a "tempestade perfeita". Será? O que vejo, neste momento, é que andamos muito longe do fundo do poço, pois toda a gente quer esticar a corda até ao ponto de ruptura.
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