(...) "Lauda sempre odiou o Nordschleife. Três anos antes, ainda nos seus tempos da BRM, tinha tido um acidente que o impedira de correr em sua casa, na Austria, e sempre tivera receio em correr neste circuito de quase 23 quilómetros à volta do castelo de Nurburg nos montes Eifel. E sempre que podia, nunca perdia a oportunidade de afirmar que era um circuito perigoso, devido à sua estreiteza e a quantidade de curvas e elevações do qual um erro era fatal. Pior era quando o tempo na zona se tornava mau, com chuva e nevoeiro. Jackie Stewart tinha ganho em 1968 sob tais condições, mas sempre disse que tinha sentido medo nesse dia.
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"Entretanto, o pelotão da Formula 1 chegava à Alemanha e a Nurburgring. O tempo para esse final de semana era instável e causava preocupação nas hostes. Lauda, sempre critico com o circuito, leva alguns jornalistas para dar uma volta no circuito. Ao chegar à zona de Bergwerk, comenta sobre a velocidade que se passa ali, de forma estranhamente prenomonitória: "Aqui você chega em quarta, pedal a fundo, à volta de 240,250 Km/hora. Se tiver um furo não tem hipótese, já era! Não há nada que proteja o piloto: pedras, uma depressão no piso e uma cerca. Se tem azar, não sabe onde vai parar".
Minutos antes, nas boxes, Lauda comentava não só as pressões do momento como também as estranhas manias dos seus fãs. Um desses fãs tinha-lhe entregue uma fotografia, e comentou: "Para si, senhor Lauda. Estive em Graz há pouco tempo e fiz esta imagem do túmulo de Jochen Rindt”. Agradeceu a foto, colocou-o no seu porta-luvas e comentou depois: "Eu apanho cada louco. Vocês nem fazem ideia o tipo de cartas que eu recebo. Teve um que me escreveu: ‘Lauda, quando é que você vai morrer?’”
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Por essa altura, a preocupação de Lauda era saber como estava o seu rosto. Tinha queimaduras na cara, testa e orelha direita, para além de queimaduras nas mãos. Tinha também uma clavícula fraturada, mas o que ninguém sabia era que tinha os pulmões afetados devido à inalação de fumos, especialmente as resinas de fibra de vidro do seu carro. Tanto mais que depois de ter sido levado, primeiro para Koblenz, e depois para o Hospital Universitário de Mannheim, os seus pulmões iriam colapsar ao ponto de ter aparecido um padre para lhe dar a extrema-unção."
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"Quarenta e três dias depois, em Monza, era sob o espanto de todo o mundo automobilistico - e não só - que voltava a um carro e à competição. Todos aplaudiam a coragem de um homem que tinha ido ao Inferno e voltara e tiravam o chapéu a tal gesto, pois haveria luta até ao fim pelo título mundial. E a sua determinação e o seu humor continuavam intactos. Dias antes, quando John Watson vencera em Zeltweg, decidiu telefonar a Lauda para lhe desejar as melhoras. O austriaco reagiu: "Fico feliz que vocês conseguiram derrotar aquele sacana do Hunt!"
Estes são extratos do artigo que escrevi hoje para o sitio Pódium GP, para falar sobre os 35 anos do acidente de Niki Lauda, ocorrido no velho Nurburgring Nordschleife. Um acidente onde o piloto austriaco esteve em risco de vida, chegando até a receber a visita de um padre, que lhe deu a extrema-unção. Lauda ripostou e lutou para se colocar em forma o mais depressa possivel, para poder entrar dentro de um carro e ainda lutar pelo título mundial naquele ano, que acabaria por não conseguir, derrotado pelo boletim meteorológico no circuito do Monte Fuji, no Japão.
Para além deste artigo, vale também a pena ler dois artigos sobre o acidente. O primeiro, escrito em 2007 por mim, fala sobre os pilotos que salvaram Lauda naquela tarde de 1º de agosto de 1976, e o segundo, escrito há umas semanas pelo Luis Fernando Ramos, o Ico, para o Total Race, onde mostra relatos das testemunhas sobre o final de semana alemão e os momentos que se seguiram ao resgate do piloto. São leituras que valem a pena.
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