Passam hoje 30 anos sobre um dos momentos mais controversos da Formula 1, e de como ela, em termos de direitos humanos e de democracia, tem um registo absolutamente execrável. Para quem seja mais novo, e não viveu isto, quero dizer que estas visitas do calendário a países com um registo democrático duvidoso não é de agora. Não é de agora a Formula 1 visite sítios como o Golfo Pérsico ou a Rússia, e ter a intenção de visitar o Azerbeijão, que gastam dezenas de milhões de dólares das receitas petrolíferas (enquanto que a cotação do ouro negro esteve bem alta) para fazerem "elefantes brancos" dos quais, passada uma Formula 1 que nestes dias que passam vive cada vez mais no alto da sua bolha, vire um deserto. Vemos isso agora com a Coreia do Sul, Turquia e India, por exemplo.
Mas na geração anterior, Bernie Ecclestone arranjava os seus lugares exóticos e de reputação duvidosa, fora da Europa, em sitios como a Argentina, o Brasil e a África do Sul. E o caso sul-africano era o mais flagrante, especialmente a partir de meados da década de 80.
Desde 1948 que a África do Sul vivia um regime de segregação racial, num governo de minoria branca (cerca de dez por cento da população) de um partido "afrikans", ou seja, uma minoria de descendentes de holandeses numa antiga colónia britânica. E nesse regime, aos negros, a grande maioria (cerca de 75 por cento), eram-lhes negado tudo: o direito a uma habitação condigna, a uma educação, a oportunidades de emprego, até de casar com brancos! E se achariam que só eles é que eram discriminados pela cor da pele, diremos que isso era aplicado a todos que não fossem brancos: mestiços, indianos, asiáticos. E como seria de esperar, nenhuma dessas etnias tinha direito ao voto. Num país de 30 milhões de pessoas, cerca de três milhões de pessoas tinham todos os direitos.
Nos anos 60, a descolonização faz valer a ideia de que viviam num regime anacrónico, do quak até a Grã-Bretanha achava que tinha de ser mudado. Mas eles não mudaram, tanto que quando os britânicos encostaram-os à parede, eles simplesmente decidiram declarar a independência e sair da Commonwealth. Isso foi em 1961, altura em que o Congresso Nacional Africano, liderado por Nelson Mandela, decidiu desobedecer ao governo racista, com as consequências que conhecemos.
A Formula 1 já estava na África do Sul desde 1962, primeiro em East London e depois em Kyalami, nos arredores de Joanesburgo. Mas nos anos 70, decidiu-se criar um movimento para isolar a Africa do Sul de forma internacional - e a Rodésia, que tinha seguido o mesmo caminho em 1965 - com vários boicotes, sendo o mais significativo o desportivo. Sem equipas multiraciais, os sul-africanos estavam barrados de competir. E aos poucos, tinham sido expulsos do futebol, dos Jogos Olimpicos, e até dos desportos dos quais eram bons, como o cricket e o rugby. Mas havia uma notória excepção: o automobilismo.
Bernie, como sabem, odeia a democracia. E todos que tentam contrariá-lo são fortemente rejeitados. E em 1985, a Formula 1 era a unica modalidade que visitava uma África do Sul mais isolada do que nunca. Os apelos à libertação de Nelson Mandela, por exemplo, eram diários, e o governo do Partido Nacional - o tal que estava no poder desde 1948 - era praticamente excluido do concerto internacional das nações. Ter um passaporte sul-africano "queimava".
A Formula 1 já estava na África do Sul desde 1962, primeiro em East London e depois em Kyalami, nos arredores de Joanesburgo. Mas nos anos 70, decidiu-se criar um movimento para isolar a Africa do Sul de forma internacional - e a Rodésia, que tinha seguido o mesmo caminho em 1965 - com vários boicotes, sendo o mais significativo o desportivo. Sem equipas multiraciais, os sul-africanos estavam barrados de competir. E aos poucos, tinham sido expulsos do futebol, dos Jogos Olimpicos, e até dos desportos dos quais eram bons, como o cricket e o rugby. Mas havia uma notória excepção: o automobilismo.
Bernie, como sabem, odeia a democracia. E todos que tentam contrariá-lo são fortemente rejeitados. E em 1985, a Formula 1 era a unica modalidade que visitava uma África do Sul mais isolada do que nunca. Os apelos à libertação de Nelson Mandela, por exemplo, eram diários, e o governo do Partido Nacional - o tal que estava no poder desde 1948 - era praticamente excluido do concerto internacional das nações. Ter um passaporte sul-africano "queimava".
E em 1985, aquela corrida era incontornável. Os americanos e os britânicos já tinham pedido às suas multinacionais para que parassem de ter negócios por lá, e já havia pressões politicas junto da FIA para que cancelasse a ida da Formula 1 à Africa do Sul, mas numa entidade presidida então por Jean-Marie Balestre, a sua decisão era a melhor decisão, decidiu-se ir contra a corrente. E isso causou indignação internacional.
Para piorar as coisas, o regime tinha condenado à morte cinco pessoas, cuja execução estava marcada para essa altura. Havia também pressão internacional para que isso não acontecesse, e isso tudo combinou para aquela altura. A França impediu as suas equipas - Renault e Ligier - se deslocassem para Kyalami, mas pilotos como Philippe Streiff, por exemplo, decidiram correr pela Tyrrell, que ainda lambia as feridas pela morte de Stefan Bellof. Alguns países como o Brasil, pressionavam os seus pilotos para que não participassem, mas eles acabariam por aparecer na mesma. Na corrida - a última vez que aconteceu num sábado - alinharam 21 carros, mas apenas sete chegaram ao fim.
O grande vencedor foi Nigel Mansell, que conseguiria ali a sua segunda vitória da carreira, com um Keke Rosberg que conseguiu uma recuperação notável, depois de problemas no inicio da corrida. Alain Prost, o campeão do mundo, acabou no terceiro posto, mas o seu McLaren não tinha qualquer patrocínio, pois estes decidiram juntar-se ao boicote.
Quando o material chegou à Austrália, poucos dias depois, os trabalhadores do aeroporto de Adelaide decidiram que não iriam tocar nesse material, em solidariedade com os que apoiaram o isolamento internacional do regime racista sul-africano. Mas Bernie Ecclestone, desafiante, ainda dizia que pretendia lá ir em 1986. Contudo, o bom senso falou mais alto e a Formula 1 só voltou a paragens sul-africanas em 1992, quando o regime tinha abolido as odiosas leias raciais e libertado Nelson Mandela. E tal como acontecera em 1985, em 1992, Nigel Mansell voltou a ser vencedor da corrida, no começo da caminhada para o seu título mundial, no dominante Williams FW14.
Para piorar as coisas, o regime tinha condenado à morte cinco pessoas, cuja execução estava marcada para essa altura. Havia também pressão internacional para que isso não acontecesse, e isso tudo combinou para aquela altura. A França impediu as suas equipas - Renault e Ligier - se deslocassem para Kyalami, mas pilotos como Philippe Streiff, por exemplo, decidiram correr pela Tyrrell, que ainda lambia as feridas pela morte de Stefan Bellof. Alguns países como o Brasil, pressionavam os seus pilotos para que não participassem, mas eles acabariam por aparecer na mesma. Na corrida - a última vez que aconteceu num sábado - alinharam 21 carros, mas apenas sete chegaram ao fim.
O grande vencedor foi Nigel Mansell, que conseguiria ali a sua segunda vitória da carreira, com um Keke Rosberg que conseguiu uma recuperação notável, depois de problemas no inicio da corrida. Alain Prost, o campeão do mundo, acabou no terceiro posto, mas o seu McLaren não tinha qualquer patrocínio, pois estes decidiram juntar-se ao boicote.
Quando o material chegou à Austrália, poucos dias depois, os trabalhadores do aeroporto de Adelaide decidiram que não iriam tocar nesse material, em solidariedade com os que apoiaram o isolamento internacional do regime racista sul-africano. Mas Bernie Ecclestone, desafiante, ainda dizia que pretendia lá ir em 1986. Contudo, o bom senso falou mais alto e a Formula 1 só voltou a paragens sul-africanas em 1992, quando o regime tinha abolido as odiosas leias raciais e libertado Nelson Mandela. E tal como acontecera em 1985, em 1992, Nigel Mansell voltou a ser vencedor da corrida, no começo da caminhada para o seu título mundial, no dominante Williams FW14.
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