É de uma amarga ironia saber que as primeiras imagens dos carros de 2017 venham de uma equipa que anunciou o seu desaparecimento, efectivo a partir de hoje. O carro da Manor para esta temporada, cujo desenvolvimento foi congelado no final de novembro do ano passado, mostra-nos o que vão ser os carros para este ano... e com mais um acrescento: uma barbatana traseira, como já tiveram em 2012 e 2013.
De resto, parece ser um chassis convencional, com o motor Mercedes a puxar por eles, talvez poderiam dar o pulo para o meio do pelotão, pois conseguiram um ponto na temporada passada, graças ao décimo posto do Pascal Wehrlein na Áustria. Contudo, daquilo que li no sitio do Joe Saward por estes dias, a Manor esteve sempre em défice de dinheiro, mesmo quando estava nos dez primeiros. Ele fala que em média, havia 40 milhões de dólares de défice, mesmo com a garantia dos 35 milhões dados pela FOM, se ficasse nessas posições. Logo, mais cedo ou mais tarde, Stephen Fitzpatrick teria de vender parte ou a totalidade da equipa para dar conta desses prejuízos.
No ano passado, quando falei da situação periclitante da Sauber, fiz calculos sobre quanto é que era preciso para manter uma equipa à tona de água. Cheguei à conclusão de que o mínimo para sobreviver andava à volta dos 110 milhões de dólares. É imenso dinheiro, mesmo sem injeções de dinheiro por parte da FOM, e que mostra que é um desporto muito, mas muito caro. E também mostra a péssima distribuição de dinheiros na altura, mas ali havia um propósito: abrir a diferença entre as equipas grandes e as pequenas. Esses 110 milhões que falei era quase o equivalente que Bernie Ecclestone entregava à Ferrari todos os anos, ainda antes que eles fabricassem o primeiro parafuso do chassis de cada temporada.
E também era isso do qual Sauber e Force India se queixavam ao público e do qual fizeram uma queixa à União Europeia. Sendo equipas que não faziam parte do Grupo de Estratégia, que não eram de fábrica - os famosos "garagistas" - e que estavam dependentes de patrocinadores, mecenas e pilotos pagantes para sobreviver - e ambos fizeram trabalhos notáveis, diga-se - eles se queixavam com razão de que deveria haver uma melhor redistribuição dos lucros vindos da FOM, que por estes anos chegam aos mil milhões de dolares. Cem milhões por cada uma dessas equipas seria mais do que suficiente para garantir a sua sobrevivência... por agora. Porque como sabem, isto é uma "corrida às armas" e neste "Club Piraña", só ficarão felizes se eliminarem a concorrência.
É por isso que a Liberty Media tem de se mexer. Nisso e num tecto orçamental, para suster a competição. Não vale a pena angariar dinheiro se as equipas perderem o controlo dele, não é?
Quanto à Manor... há noticias de que poderá haver uma espécie de "golpe de última hora", esperando pela aquisição de bens da equipa num futuro leilão de liquidação, mas não creio que tal aconteça. Independentemente do resultado, o fim de uma equipa destes, para os fãs da Formula 1, é isso mesmo: uma perda. Porque também precisamos de um pouco de "colorido" destas marcas do fim do pelotão.
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