As 142 voltas de Robert Kubica no circuito de Hungaroring, ontem, fez entusiasmar muita gente, ao ponto de já "exigirem" a sua presença no final do mês em Sopa-Francochamps. É verdade que o piloto polaco mostrou que está em forma e as suas lesões não o afetaram na pilotagem deste carro de 2017, fazendo um tempo... decente.
Contudo, no "the day after", andei a ler aqui algumas opiniões sobre ele e sobre esta bateria de testes que a Renault lhe tem andado a providenciar desde meados da primavera. Depois de duas voltas no E20, em junho, em Valência, e em julho, em Paul Ricard, onde ele fez mais de cem giros, pode-se dizer que ele tem passado nestes testes com distinção. Tanto que provavelmente, o passo seguinte será colocá-lo numa sessão de treinos livres, algures na segunda metade do ano.
Hoje li o sitio do Livio Orrichio, na Globoesporte.com que dá detalhes do que foi este teste em Budapeste, e pode-se dizer que as condições não foram as ideais. Estava calor (quase 40ºC), havia humidade, e houve uma sessão de bandeiras vermelhas que impediram Kubica de marcar melhores tempos com os pneus ultra-macios. Só que tudo isto não o afetou: “Pode esquecer essa questão, ele não tem nenhum problema para pilotar os carros híbridos”, começou por dizer o engenheiro Ricardo Penteado, da Renault.
Outra pessoa, o jornalista e amigo pessoal Roberto Chinchero, foi mais prudente nessa avaliação. “Um dado que chama a atenção é o número de voltas que ele percorreu, o equivalente a dois Grandes Prémios”, lembrou. “Nós estávamos com 40 graus de temperatura e Robert não saiu do carro reclamando de exaustão”, continuou.
No final, Kubica afirmou: “Hungaroring é uma das pistas mais difíceis. Foi um trabalho duro e creio que a maior parte dos pilotos que hoje treinou não teve vida fácil. Completei mais de 140 voltas e me sinto em condições de pilotar já amanhã de novo, portanto estou contente, embora haja áreas onde preciso melhorar. Se alguém me dissesse há três meses que eu poderia vir nesta pista e dar 140 voltas, não acreditaria. Eu nunca me preparei tanto fisicamente como agora”.
Contudo, apesar dos méritos de Kubica, há quem questione a utilidade do piloto polaco na Formula 1. Aos 32 anos de idade (fará 33 em dezembro) parece que a Renault lhe quer dar uma chance de correr a tempo inteiro, à custa de Joylon Palmer, do muitos já desejam que saia... ontem. A atitude "futebolística" de muitos fãs está a chegar a este ponto, mas também porque eles querem um final de "conto de fadas", a do regresso impossível, ao melhor estilo de Niki Lauda em 1976. Só que o austríaco voltou ao volante ao fim de 40 dias, e não de seis anos e meio, pois o acidente foi em fevereiro de 2011.
E é sobre isso que o João Carlos Costa escreveu hoje na sua página de Facebook. Não que duvide dos méritos do polaco, mas acha que com a sua idade, está mais para a saída de uma modalidade que precisa de sangue novo do que ver um veterano de regresso, especialmente quando fala daquilo que andou a fazer no WRC, onde a sua velocidade nem sempre significou consistência.
"Terá a F1 alguma coisa a ganhar com o regresso de Robert Kubica? Com tantos jovens de enorme valor a 'bater à porta', como vimos até nos testes desta semana em Hungaroring, capazes de pegar num carro e andar no ritmo dos 'donos do lugar', quais as razões que levam a Renault a apostar num piloto que ultrapassou os trinta (32 anos), que não conhece os monolugares desta geração, nem da anterior, e por essa razão não terá tanto ou mais input que um desses jovens?", começa por perguntar.
"Percebo que dá uma história de comeback perfeita. Que até a F1 precisa delas. Fiquei feliz com este teste e entusiasmado com os resultados e o números de voltas feitas, o duplo stint sem problemas. Quem é que não ficaria?! Como ficarei encantado se se sentar no carro já em Spa. É a história perfeita para se perceber que a força de vontade nos leva onde queremos ir. Uma história que fez correr rios de tinta e de pageviews, e vai fazer correr mais ainda", continuou.
"Mas, verdadeiramente, estão a ver Kubica ser uma mais valia para a Renault? Sinceramente... se calhar, será... mas pela mesma razão que levou a marca do losango a apostar no piloto de Cracóvia na década passada - o mercado polaco. A História tem uma tendência natural para se repetir...", concluiu.
Se calhar, a pergunta que ele faz se auto-respondeu, mas Kubica tem um talento que não perdeu, que é a velocidade. E a aposta do piloto é fora do vulgar, dado o que se passa com as outras equipas, que preferem jovens. Vi neste teste na Hungria que fizeram "loas" ao monegasco Charles Leclerc (Ferrari) ou ao britânico Lando Norris (McLaren), e do qual, sobre o primeiro, dominador na nova Formula 2, já se fala para o lugar de Pascal Wehrlein na Sauber em 2018. Isto, se conseguir lugar na Formula 1 nesse ano porque como sabem, lugares a abrirem-se por lá é algo muito raro.
Interessante é saber qual é a alternativa a Kubica na Renault: é Carlos Sainz Jr. Falou-se há semanas de que a Red Bull o poderia libertar do seu contrato em 2018 a troco de oito milhões de euros, e que houve conversas nesse sentido. Mas desde que o polaco anda por aqui, parece que esse interesse se esfriou. Mas nesta equação, Joylon Palmer está excluído, apesar da marca do losango ter dito que até ao final do ano, serão necessários os seus serviços.
Mas Kubica tem outra coisa do qual todos estes pilotos que referi não tem: carisma. Popularidade. E Kubica têm isso tudo. Viram quantos foram vê-lo no teste em Budapeste? Foram alguns milhares que enfrentaram o calor para o ver correr. E isso é importante, nos tempos que a Liberty Media quer aproveitar para aumentar a popularidade e o contacto com os fãs. No final do dia, o marketing também ajuda a reunir esta gente toda. É por isso que vão fazer de tudo para que Fernando Alonso fique em 2018, apesar de ter um mau motor à sua disposição. Não repararam no mural pintado no chão de Budapeste? Ele gosta de ser o centro das atenções...
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