domingo, 24 de setembro de 2017

Os salários dos pilotos: uma acumulação

Em 1978, Niki Lauda causou impacto quando exigiu a Bernie Ecclestone que pagasse um milhão de dólares por cada temporada, e no ano seguinte, quando pediu um aumento para dois milhões, que acabaram por ser pagos pela patrocinadora da altura na Brabham, a Parmalat. Dois anos antes, em 1976, James Hunt, seu adversário no mundial, tinha sido campeão do mundo com a McLaren a pagar 250 mil dólares, depois de ter pago 500 mil a Emerson Fittipaldi no ano anterior. 

Contudo, Lauda pode não ter sido o primeiro piloto com salário milionário. Cinco anos antes, em 1973, Clay Regazzoni foi para a BRM, cheia de dinheiro por causa do patrocínio da Marlboro, a troco de um milhão de dólares. Contudo, esse rumor nunca foi totalmente confirmado... ou desmentido.

Para terem uma ideia, os dois milhões que Lauda exigiu serviam para sustentar uma equipa de Formula 1 do meio do pelotão. A Copersucar pagava três milhões de dólares para sustentar a equipa montada pelos irmãos Fittipaldi e Frank Williams, com dinheiro saudita, foi campeão do mundo com um orçamento de cinco milhões de dólares, em 1980. Quem lê isto e sabe quanto é que se ganha na Formula 1, quanto é que se gasta para ser campeão, os orçamentos das equipas e os salários que são pagos aos pilotos de ponta, todos estes números são risíveis. Dois milhões de dólares serve para pagar um piloto do meio do pelotão, e cinco milhões não é mais do que 3 por cento do orçamento da Force India.

Mas há uma coisa do qual falamos muito pouco, quando falamos de dinheiro: que fortuna e´que os pilotos acumularam ao longo da sua carreira? Sabemos que alguns voltaram a competir porque precisavam de dinheiro. Niki Lauda voltou à Formula 1 em 1982 para ter dinheiro para sustentar a sua paixão pela aviação - tinha formado a Lauda Air - e James Hunt pensou seriamente em regressar - teve uma oferta séria da Brabham em 1980 - porque o seu estilo de vida descontrolado tinha dado cabo da sua fortuna.

Pois bem, hoje, quando olhava para o Twitter do Auto Business & Sport, reparei num gráfico sobre as fortunas acumuladas dos pilotos de Formula 1 ao longo das suas carreiras, e reparou-se que apenas há mais de vinte anos é que os pilotos de Formula 1 começaram a ser verdadeiramente milionários. Do género... ter dinheiro para algumas gerações. Uma coisa é ter dinheiro para ter a sua casa, o seu carro e um estilo de vida confortável, outra coisa é ter tanto dinheiro que poderia investir de modo mais sábio, e os seus descendentes herdarem a fortuna.

Se formos ver, os grandes impulsionadores das fortunas foram a Ferrari e a McLaren. No inicio da temporada de 1990, eles eram as equipas que davem contratos bem chorudos, da ordem dos 20 milhões de dólares por um determinado período de tempo. Tanto que, quando em 1993, Ayrton Senna voltou de forma relutante à McLaren, exigiu de Ron Dennis o pagamento de um milhão de dólares... por corrida. Ganhar 16 milhões de dólares por ano deveria ser excelente, tanto quanto Alain Prost ganhava na Williams, por exemplo. Mas o que poucos sabem é que parte desse salário era pago pela Renault, pois o "titio Frank" era um notório "unha de fome".

A partir dos anos Schumacher, os salários explodiram. É por isso que temos pilotos como Jacques Villeneuve, que foi melhor pago na BAR do que na Williams, onde foi campeão do mundo. E Michael Schumacher sempre foi muito bem pago, com salários na ordem dos 25 a 30 milhões de dólares nos dez anos que esteve na Ferrari. Também foi bem pago quando voltou à Mercedes, em 2010. Aliás, na altura circulou um rumor de que uma das razões pelo regresso tinha sido um mau negócio imobiliário no Dubai e que carcomeu parte da sua fortuna pessoal...

Dos pilotos que correm hoje em dia, Fernando Alonso e Kimi Raikkonen ganharam muito dinheiro. E mais uma vez, foi a Ferrari que deu a "parte de leão". É a equipa que paga melhor aos seus pilotos, daí vermos que Alonso teve sempre pagamentos anuais da ordem dos 35 milhões de dólares por temporada, e que Kimi Raikkonen era pago... para não correr na Formula 1 em 2010, que aproveitou fazendo a sua investida no WRC. E uma investiga paga pelo seu próprio bolso, diga-se.

Mas o que esta tabela não diz é que para além dos salários, estes pilotos tem contratos paralelos com patrocinadores pessoais, que divulgam as suas caras em contratos publicitários. São contratos opacos, não sabemos muito bem quanto é que são pagos para darem a cara por relógios, roupas, shampoos e outros. Porque, por exemplo, se vermos Lewis Hamilton ou Valtteri Bottas nas publicidades da Mercedes, sabemos que são os ´"sideshows" do contrato que fizeram com a marca na Formula 1. Mas mesmo depois das suas carreiras terem acabado, esses pilotos ainda ganham dinheiro dando a cara para essas publicidades pessoais. Um bom exemplo é o boné de Lauda, que é patrocinado a bom preço. 

Em suma, correr na Formula 1 é um bom exemplo de ganhar uma fortuna e acumulá-la ao longo da sua carreira. Mesmo que a Red Bull pague muito dinheiro para moldar um piloto até chegar ao topo (os oito milhões que gastaram com Carlos Sainz Jr, segundo dizem eles), se ele tiver talento, é um investimento que pode valer a pena. Mas isso... é se tiver talento. E isso é uma pequena percentagem.  

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