quinta-feira, 1 de março de 2018

No Nobres do Grid deste mês...

Quem vai a Orense, na Galiza, uma província no morte de Espanha, dá de caras com uma estranha estátua, em que duas pessoas estão sentadas ao lado de um carro. A estátua não é uma qualquer, porque o carro também não é um qualquer. É um Alpine de ralis e celebra a vida de um dos melhores pilotos de ralis do seu tempo, e que muito antes de Carlos Sainz, construiu uma máquina que espantou a Espanha dos anos 70 pela sua rapidez e versatilidade. E tinha uma particularidade: em vez do motor Renault, tinha um motor Porsche de dois litros.

(...) a história do carro mais famoso da (...) carreira [de Estanislao Reverter] começa com um acaso: um acidente. Em 1970, no rali internacional de Orense, José Pavon guiava um dos 911R da Escuderia Orense quando teve um acidente. O chassis ficou irremediavelmente danificado, mas o motor ainda era aproveitável. Reverter tinha um Alpine A110 parado na sua oficina, e o modificou para meter o motor, que era bastante maior do que o 1.6 litros que tinha originalmente. E para o modificar, o eixo traseiro era de um Volkswagen, pois era mais compatível com o motor e a caixa de velocidades do Porsche.

O motor alemão tinha dois litros, de seis cilindros, e tinha 220 cavalos, contra um chassis bastante leve. À partida seria um carro bem veloz, mas pouco controlável. E "pouco controlavel" significava que, por exemplo, as rodas da frente tinham tendência a levantar-se, dada a leveza do chassis. Reverter resolveu a situação, colocando uns defletores lateriais na frente do seu carro. 

Quando ficou pronto para o Rali Rias Baixas de 1971, Reverter quis chamar o carro de "REALPOR", as siglas de REverter, ALpine e PORsche. Mas a imprensa e o público foi mais veloz e começou a batizá-lo de "ALPINCHE", as iniciais de ALPINe e PorsCHE. Contudo, o carro esteve prestes a morrer à nascença. Uns dias antes do Rali Rias Baixas, um incêndio na garagem de Reverter, em Orense, ameaçou o carro, e foi Reverter que conseguiu apagar o inêndio. Contudo, ele sofreu queimaduras ligairas na cara, e ainda estava em tratamento quando alinhou à partida desse rali. (...)

Estanislao Reverter (1929-1991) foi um piloto galego de ralis, dos mais versáteis do seu tempo. Piloto, organizador e dirigente, ajudou a fundar a Escuderia Orense e a construir o Rali Ciudad Orense, um dos mais importantes de Espanha. Mas Reverter entrou na imaginação dos afficionados dos ralis graças à invenção de um carro que aproveitando o chassis Alpine de fibra de vidro, com o motor Porsche de 2,2 litros, fazendo com que fosse um dos carros mais velozes do panorama espanhol de ralis. Venceu quatro provas, entre 1971 e 73, e correu até 1975, tempo mais do que suficiente para colocar o seu nome nas bocas do mundo.

Após o seu falecimento, a cidade decidiu homenageá-lo com uma estátua no centro da cidade, mostrando a sua maior criação, o Alpinche. Uma máquina que o francês Jean-Pierre Nicolas classificou de "arma imbatível" e que hoje em dia encontra-se em restauração, esperando que um dia seja exposta no museu que tem o seu nome na cidade galega.

E é sobre o "Alpinche" e a sua carreira que falo este mês no Nobres do Grid.

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