sexta-feira, 14 de julho de 2023

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Há meio século, Silverstone foi palco de um dos mais feios acidentes da história do automobilismo. Mas o mais incrível que foi tudo mais aparatoso, e causou mais danos materiais que humanos - apenas uma perna partida. 

Sim, foi a corrida de estreia de Roger Williamson. E também foi aqui que Peter Revson conseguiu a sua primeira vitória na Formula 1, Niki Lauda deu nas vistas no seu BRM e James Hunt quase alcançou um pódio - e até a vitória, no seu March - mas o destaque tem de ser para Jody Scheckter, que no seu quarto Grande Prémio, tinha-se mostrado ser muito rápido, mas começava a ser "marcado" pela sua alegada periculosidade. E aquele despiste no inicio da segunda volta, na reta da meta, parecia confirmar aos céticos que ele era um perigo ambulante.

Mas bem vistas as coisas, era bem diferente. E chegar à Formula 1 tinha sido o culminar de uma carreira fulminante, com cerca de três anos e sem passar pelas categorias da sua terra natal.

Nascido a 29 de janeiro de 1950 em Port Elizabeth, na África do Sul, e filho de um vendedor de automóveis da Renault, era o irmão mais novo de Ian Scheckter, que ao contrário dele, saiu da sua terra natal sem ter experimentado as competições locais. Começou a correr em 1970 na Formula 3 britânica, e dois anos depois teve a sua chance na Formula 1, com um M19 no GP dos Estados Unidos, onde acabou em nono, depois de ter andado na terceira posição a mio da corrida. Logo a seguir, correu no GP da África do Sul, num terceiro McLaren, e voltou a andar bem durante a corrida, até ter problemas que o relegaram para fora dos lugares pontuáveis. 

Quando Revson não pode correr o GP de França por causa dos seus compromissos nos Estados Unidos, ele ficou com o lugar, onde conseguiu o segundo posto na grelha de partida, apenas batido por Jackie Stewart, no seu Tyrrell. Largando bem, ficou com o comando por 41 voltas, até sofrer um acidente com Emerson Fittipaldi, que o tentou passar na curva antes da meta. Ambos desistiram, com danos nos seus carros, mas o brasileiro afirmou que a culpa era dele, dizendo que era um "hooligan" e um perigo na pista.

E naqueles dias, a palavra era lei. Ele ficava marcado.  

Em paragens britânicas, Scheckter foi sexto na grelha, no seu terceiro McLaren (agora com o número 30), quatro décimos mais lento que Dennis Hulme (2º) e Peter Revson (3º), nos outros carros da equipa. E se na partida, as atenções fixaram-se em Stewart, que tinha pulado de quarto para primeiro na entrada para a Copse, a primeira curva, Scheckter pulou também para quarto... o melhor da equipa, e apenas batido por Stewart, o Lotus de Ronnie Peterson e o Brabham de Carlos Reutemann.

Mas ele corria no limite, e no inicio da segunda volta depois de Woodcote, pisou o limite e perdeu a traseira, acabando por bater no muro das boxes e ricochetear para o meio da pista, causado o despiste, porque todos o queriam evitá-lo. Resultado final: nove carros batidos, Andrea de Adamich teve de ser retirado do carro com ajuda, porque tinha a sua perna presa nos destroços do seu Brabham, e parou de correr naquele momento. 

Claro, todos culparam o sul-africano pelos seus excessos, e juntando isso ao que acontecera em Paul Ricard, os pilotos queriam aboli-lo de correr na Formula 1. A McLaren concordou em tirá-lo do seu carro para boa parte da temporada, colocando apenas nas corridas americanas. Pelo meio, foi correr na Can-Am e na Formula 5000, e em setembro, regressou à categoria máxima do automobilismo, com uma particularidade: o seu carro foi inscrito com o numero... zero. 

E pior: na volta 32 dessa corrida, bateu contra o Tyrrell de Francois Cevért, causando a entrada do primeiro Safety Car da história da Formula 1. Mas isso fica para outro dia. O que se conta aqui é a entrada atribulada de um dos pilotos que iria marcar os anos 70.   

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