segunda-feira, 30 de outubro de 2023

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Que ninguém tenha dúvidas: as coisas que Ayrton Senna e naquela tarde em Suzuka é da matéria de lendas. É verdade que a reta da meta fica numa zona de descida, o que ajudou a que o carro não morresse na partida, mas a recuperação que fez nas voltas seguintes, apesar de ter o melhor carro do pelotão, não pode ser menosprezado. Afinal de contas, passou Alain Prost na volta 27, depois de ter sido travado pelo Rial de Andrea de Cesaris, do qual tentava dobrá-lo. 

E quando o fez, ele foi embora, rumo à vitória e ao título que sempre ambicionou, desde o primeiro dia em que se sentou num kart, quase década e meia antes, em Interlagos.

Mas neste dia existiu um outro herói. Um piloto e uma equipa que tinha mostrado toda a sua potência ao longo dessa temporada com um pódio em Portugal, depois de ter sido terceiro na grelha. Ivan Capelli tinha sido o piloto que mais deu nas vistas, para além dos pilotos da McLaren, num chassis encomendado à March, desenhado por um ilustre desconhecido chamado Adrian Newey. Italiano, então com 25 anos, já tinha corrido na Tyrrell e AGS, mas na realidade sempre foi o "poster boy" de uma equipa chamada Genoa Racing, montado por Cesare Gariboldi, que o conheceu quando ele corria na Formula 3, e o acolheu como se fosse o seu filho. Pouco depois, ambos conheceram um japonês que tinha enriquecido no setor imobiliário, Akira Akagi, e tinha a paixão do automobilismo. Mais do que passar os cheques, quando eles chegaram à Formula 1, no GP do Brasil de 1987, todos eles não chegavam a 20 elementos. Todos. 

E em 1988, com a decisão de escolher os motores 3.5 litros atmosféricos, da Judd, o carro se tornou num dos melhores desse pelotão, a par dos Benetton. E muitas vezes, batiam até os Lotus, com motor Honda Turbo. Os primeiros pontos foram alcançados no Canadá, com um quinto lugar, e depois mais dois pontos foram conseguidos na Alemanha, mas foi na Bélgica que as coisas também correram bem, quando primeiro, acabaram em quinto, mas depois quando os Benetton de Thierry Boutsen e Alessandro Nannini foram desclassificados por irregularidades no combustível, ele chegou ao pódio, no terceiro lugar.

No Japão, Capelli tinha 16 pontos. E estando na casa do seu patrocinador, queria brilhar. E começou, com um quarto lugar na qualificação. Na corrida, chegou a terceiro, e não largou, quer os Ferrari, quer o McLaren de Prost, e depois andou perto do carro do piloto francês.

E então, na volta 16, surgiu a oportunidade. Capelli seguia atrás de Prost quando este falhou uma marcha, e o italiano acelerou, ficando na frente do carro da McLaren na linha de meta. Ao fazer isso, tinha acabado de marcar história: pela primeira ocasião desde 1983, um carro atmosférico liderava um Grande Prémio de Formula 1. 

Prost aproveitou o poder superior do seu motor Honda para o passar e ficar com o comando, aguentando até que Senna o passasse. Mas quando isso aconteceu, ele já não estava na corrida: um problema elétrico na volta 19 evitou que continuasse. Provavelmente, teria ritmo para chegar a um novo pódio.

Capelli iria pontuar na Austrália, com um sexto posto. Para Cesare Gariboldi, o pai automobilístico de Capelli, foi o seu ultimo grande momento. Iria morrer num acidente de automóvel em Itália e apesar de ele ficar por ali até ao final de 1991, e conseguir mais um pódio, antes de rumar para a Ferrari, os momentos de 1988 não voltariam a repetir.

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