Primeiro que tudo, as coisas começaram bem antes. A FOCA tinha sido formada em 1974, e essencialmente tinha todas as equipas independentes, os "garagistas", e os mais importantes eram Lotus, Tyrrell e Brabham. No final de 1978, escolheram como seu presidente o patrão da Brabham, Bernie Ecclestone. Ele não era um dono qualquer: gestor astuto, conseguira atrair as televisões para transmitir as corridas, conseguindo tirar um bom acordo, no final de 1979, que distribuiu até um milhão de dólares para todas as equipas do pelotão, caso quisessem. Mas isso passava pelo crivo da FISA, e eles não gostavam muito disso, porque parte do dinheiro das televisões e publicidade dos circuitos, ficava na posse da FISA. E claro, as equipas-FOCA não achavam piada.
Mas nessa altura, surgiu um problema: a FISA, sob o comando de Balestre, que chegara ao poder em 1978, achou por bem retirar as saias laterais, sob o pretexto que, com o efeito-solo, os carros estavam a ficar rápidos demais. Eram coisas facilmente removíveis, mas para a FOCA, era retirar algo que os colocaria a par dos construtores. Ferrari, Renault e Alfa Romeo não faziam parte da FOCA e cedo iriam pular para os Turbo, e a FOCA achava que eles iriam ter uma "vantagem injusta".
No inicio de 1980, as coisas estavam lentamente a chegar a um ponto de rutura. E nos GP's da Bélgica e do Mónaco, decidiram fazer um boicote aos "briefings", obrigatórios na altura. Os pilotos foram multados em dois mil dólares, e as equipas recusaram pagar essa multa. Em retaliação, a FISA decidiu retirar as licenças aos pilotos, impedindo de participar na corrida seguinte, em Jarama.
A bola de neve tinha começado. A FOCA decidiu que iriam boicotar a corrida, e a RACE, a entidade que regulava o GP de Espanha, interveio para salvar a corrida. Primeiro, apresentou um depósito para pagar as multas que ainda não tinham sido pagas, mas a FISA recusou, alegando que só aceitaria o dinheiro se provasse que tinham vindo dos pilotos - uma admissão de culpa. Pouco depois, novo interveniente: Sua Majestade D. Juan Carlos I, rei de Espanha e notório fã de automobilismo.
Insistindo com a RACE para que as coisas continuassem, a 30 de junho, sexta-feira, esta decidiu que a corrida correria, independentemente da prova ser sancionada pela FISA. Seria... uma corrida-pirata. "A RACE organiza sob a sua própria responsabilidade no domingo, 1 de Junho de 1980, o XXVI Grande Prémio de Espanha em Jarama, e por isso já não está restringida pelos regulamentos da FISA.", lia-se no comunicado oficial.
Quando o comunicado apareceu, a sessão tinha começado há mais de meia hora. As equipas FOCA não participavam, apenas Renault, Ferrari e Alfa Romeo lá estavam. A sessão foi interrompida, a Guardia Civil chegou ao circuito com ordens para que os delegados da FISA fossem escoltados para fora do circuito. A sessão reiniciou, com as equipas FOCA a arrancar... com as equipas FISA paradas nas boxes. Depois, foram embora da pista, com a grelha reduzida a 22 carros.
Mais tarde, o francês René Arnoux, piloto da Renault, queixou-se: "Se apenas as equipas FOCA podem participar, então a corrida não deveria valer para o campeonato".
Na qualificação, Jacques Laffite, no seu Ligier, foi o mais rápido, adiante de Alan Jones, no seu Williams, e Didier Pironi, no segundo Ligier.
Domingo, 1 de junho, a corrida acabou por acontecer debaixo de um calor sufocante de 38 graus. E isso foi devastador para os carros e pilotos. Dos tais 22 carros alinhados, apenas seis chegaram ao fim. Jones foi o melhor, adiante do Arrows de Jochen Mass e o Lotus de Elio de Angelis. E nos restantes lugares pontuáveis teriam ficado o Tyrrell de Jean-Pierre Jarier, o Fittipaldi de Emerson Fittipaldi e o Ensign de Patrick Gaillard.
Mas sendo uma corrida "pirata"... não contou. A FISA, apesar das pressões de muita gente, incluindo do ministro dos Desportos britânico, decidiu que a corrida não iria contar, e que todos os pilotos receberiam mais uma multa de três mil francos suíços, ou 1400 dólares. A FOCA, vendo que esta batalha iria prejudicar mais o campeonato, decidiu pagar as multas antes da corrida seguinte, o GP de França. Mas não iria baixar os braços. A luta continuava, e Bernie Ecclestone tinha uma ideia na sua cabeça: um campeonato paralelo. Mas isso... só mais tarde.





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