segunda-feira, 2 de junho de 2025

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Em 1970, a McLaren vivia uma época alta. Correndo na Formula 1, CanAm e IndyCar, com um grupo de companheiros leais e um bom piloto na figura de Dennis Hulme, Bruce McLaren via concretizar os seus sonhos de uma equipa moldada pelas suas ideias e segundo um plano que deu muito certo. 

Explica-se: em finais de 1963, McLaren trabalhava e corria pela Cooper, na Formula 1, mas como tinha acontecido a Jack Brabham, no final de 1961, achava que a equipa, fundada por Charles Cooper e dirigida pelo seu filho, John Cooper, era limitada. Quando foi correr a Tasman Series, na temporada de 1963-64, decidiu construir dois chassis e inscrevê-los sob a guisa de Bruce McLaren Racing Team, ao lado de Timmy Meyer, um americano e tão apaixonado pelo automobilismo, fazendo parte de um grupo de americanos que tinha gente como o seu irmão, Teddy Meyer, e o herdeiro dos cosméticos Revlon, Peter Revson

Três anos depois, em 1966, terminando o seu contrato com a Cooper, ele montou a sua equipa, começou humildemente na Formula 1, mas tinha olhos para as competições no outro lado do Atlântico, mais ricas que na Europa. Indianápolis era uma boa hipótese, mas uma competição estava a surgir nos Estados Unidos, que tinha duas coisas muito boas: muito dinheiro e quase nenhuma regra: a Canadian-American Challenge Cup. Abreviado para CanAm. Sancionado pela Sports Car Club of America, eram basicamente carros desportivos, segundo as regras da Formula Libre, mas também pelo Grupo 7 da FIA, eram alimentados por motores Ford ou Chevrolet de 7 litros, davam prémios de até meio milhão de dólares por temporada, um valor bem alto na altura. Com eles, poderia atrair os melhores construtores, mas na realidade, o que atraiu era um jovem neozelandês, então com 29 anos, que tinha jeito para a aerodinâmica.

Os primeiros carros aparecerem em 1967, mas no ano seguinte, começaram a vencer em cadeia, quer ele, Bruce, quer o seu novo companheiro de equipa, o seu compatriota Dennis Hulme, o campeão de 1967 da Formula 1. Campeonatos ganhos entre 1967 e 69 e conseguinte domínio da competição deram o nome não oficial de "The Bruce and Denny Show". Houwe até uma ocasião, em 1969, onde monopolizaram o pódio numa corrida em Michigan, com McLaren, Hulme e o americano Dan Gurney

Em 1970, McLaren continuava a dominar na CanAm, tinha já ganho corridas na Formula 1 e participava na InsyCar. Aliás, nessa corrida, Dennis Hulme sofreu um acidente que causou queimaduras nas mãos. A ideia era que o seu substituto nas corridas seguintes fosse Pete Revson. Mas o projeto mais interessante que ele tinha em mente... era um carro de estrada. 

O M6GT era um protótipo de estrada, baseado no M6 de Can-Am, e a ideia inicial era para correr no Grupo 4 de Le Mans. Contudo, esses planos foram abortados em 1967 e decidiu-se construir um carro de cockpit fechado, para ser o "muleto" ou seja, veículo de testes, para a temporada da nova CanAm. Alguns foram produzidos e McLaren usou um deles como seu transporte pessoal, com matricula para poder andar na estrada. Com o sucesso dos carros na CanAm, pensou na ideia do carro ser verdadeiramente vendível, como fazia Enzo Ferrari. 

Contudo, a 2 de junho de 1970, McLaren ia para Goodwood, não muito longe de Londres, para testar o M8D, uma evolução do seu carro de CanAm, porque a temporada estava à esquina. Sempre gostava de testar as coisas novas, especialmente porque queria também que a nova temporada fosse a continuidade dos triunfos das anteriores. Na pista, um carro de Formula 1 estava a ser testado, para um novo piloto, o britânico Peter Gethin. A ideia era participar no programa da Formula 5000, mas ser o substituído de Hulme durante as corridas onde não iria participar também estava nos planos. Se andasse suficiente bem... porque não?

Cerca do meio dia, McLaren queria dar umas voltas no M8D antes da pausa para o almoço. Dava umas voltas num autódromo vazio quando de súbito, a carroçaria do carro saiu a voar. Sem controlo, o carro deslizou para um posto de controlo para comissários de pista, que estava vazio, embatendo com força. Quando os funcionários chegaram a ele, estava morto. Tinha 32 anos. 

Talvez o melhor tributo a ele foi um que... ele mesmo escreveu, em 1964. Em Longford, na Austrália. durante uma corrida da Tasman Series, a primeira onde correu com os seus próprios chassis, embora sob a chancela da Cooper, o seu companheiro de equipa, Timmy Mayer, sofreu um acidente mortal. Semanas depois, escreveu numa revista o seguinte: 

"A notícia de que [Meyer] morreu de imediato foi um choque terrível para todos nós, mas quem pode dizer que não viu mais, fez mais e aprendeu mais nos seus poucos anos do que muitas pessoas aprendem em toda a vida? Fazer algo bem vale tanto a pena que morrer a tentar fazê-lo melhor não pode ser temerário. Seria um desperdício de vida não fazer nada com a própria capacidade, pois acredito que a vida se mede pelas conquistas, e não apenas pelos anos."

Daquilo que fez em quase uma década, e o que aconteceu depois, pode-se afirmar que escreveu o seu próprio epitáfio. Bruce McLaren está enterrado no Cemitério de Waikumete, nos arredores de Auckland, na Nova Zelândia. Um monumento semelhante existe no circuito de Goodwood. 

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