quarta-feira, 11 de junho de 2025

A imagem do dia





Há 30 anos, Jean Alesi deixou de ser o Chris Amon da sua geração para estar ma galeria dos vencedores. E o mais doido é que comemorou no Canadá, nação de um outro mítico piloto da Ferrari... e nos flancos de Michael Schumacher. E pergunto-me: é coisa de gente carismática... ou é o espírito de Gilles Villeneuve, que visita a Formula 1 em todas as vezes que aparece no circuito com o seu nome e consegue tirar alguns coelhos da cartola que surpreendem os fãs?

Mas recuemos a 1995. E falar de um jovem de Avignon, que naquele dia... fazia anos. 

Nascido Giovanni Roberto Alesi, os seus pais são de origem siciliana. O seu pai, Roberto, foi um piloto de rali amador, enquanto geria uma loja de peças para automóveis. E entre o seu circulo de amigos estava Jean Ragnotti, que se tornaria uma das lendas dos ralis, correndo pela Renault e Alpine. Naturalmente, os primeiros passos foram nos ralis. 

Foi tarde para o kart, aos 16 anos, em 1983, foi para a Renault 5 Turbo Cup, ficando por três temporadas, antes de seguir para a Formula 3, que era onde estava em 1986, quando aconteceu o acidente mortal de Elio de Angelis, então piloto da Brabham. Em sua honra, adotou as riscas laterais que usava no seu capacete. Campeão da Formula 3 em 1987, passou logo para a Formula 3000, correndo pela Oreca.

Em 1989, ficou numa segunda temporada na Formula 3000, mas saltou para a Eddie Jordan Racing, que era apoiado pela Camel. O seu maior rival, num populoso pelotão, era Eric Comas, então piloto da DAMS. O companheiro de Alesi era o norte-irlandês Martin Donnelly. Foi uma temporada bem competitiva, e não só conseguiu bater o seu companheiro, como também boa parte da concorrência. E quem estava de olho nele era Ken Tyrrell, cujo talento para encontrar talentos tocava a lenda. Em junho de 1989, depois de se zangar com Michele Alboreto, que tinha regressado à marca depois de ter vindo da Ferrari, pensou em Alesi e no patrocínio que ele trazia consigo. 

Acertados os pormenores, entrou no carro na sua corrida caseira, em Paul Ricard, semanas depois de ter se aventurado nas 24 Horas de Le Mans, sem sucesso. Sem deslumbrar na qualificação, sobreviveu entre os pingos da chuva da carambola na primeira curva, para depois, começar a subir na classificação. A certa altura, já era segundo na geral, sobrevivendo aos problemas que os outros tinham nos seus carros. No final, ficou em quarto e recolheu os primeiros três pontos da sua carreira. Assim sendo, ficou para o resto da temporada, ao mesmo tempo que corria na Formula 3000, competição que queria ganhar. Quando os compromissos colidiam, escolhia a intrerior - alguém faria isso hoje em dia?

No final, conseguiu cinco pontos na Formula 1, enquanto ganhava o campeonato de Formula 3000... empatado com Eric Comas. O desempate foi porque ele tinha mais vitórias que o seu compatriota.

Ficando na Tyrrell a tempo inteiro, logo no inicio de 1990, nas ruas de Phoenix ao liderar por 34 voltas e andar de igual para igual com Ayrton Senna... e ganhando, numa manobra ousada. Senna depois aplicou-se, superou-o e afastou-se, para ganhar a corrida. Algumas provas mais tarde, no Mónaco, conseguiu um segundo pódio, a bordo do novo 019, o carro com o nariz alto. Nessa altura, ele era o terceiro classificado do campeonato, apenas superado pelos McLaren de Ayrton Senna e Gerhard Berger

Naturalmente, as equipas da frente queriam-o. E naturalmente, ele assinou contratos-promessa, especialmente com a Williams. Mas havia um problema: Frank Williams não o anunciava. E entretanto pouco tempo depois, a Ferrari ofereceu um contrato. Naturalmente, sendo italiano, quem não recusaria correr pela Scuderia? E ainda por cima, iria correr ao lado de Alain Prost

No final, Ferrari pagou uma multa de quatro milhões de dólares, e deu a Frank Williams um Ferrari 640, que o expôs no seu museu, em Grove. Três pódios em 1991 até foram bons para ele, mas o que não sabia era que tinha chegado a Maranello na pior altura possível. O 643 foi uma desilusão, Prost foi despedido no final do ano, e em 1992, o F92A foi um dos piores carros da história da Scuderia, do qual apenas dois terceiros lugares foram um (muito) fraco consolo. 

Ser o primeiro piloto de uma Scuderia nas piores alturas da sua história é uma honra que muitos dispensariam, mas a sua paixão galvanizava os "tiffosi", lembrando outros pilotos carismáticos de outros tempos, como Gilles Villeneuve. 

Mas mesmo assim, havia ocasiões onde ele poderia ter ganho... e não aconteceu. O melhor exemplo desses tempos foi no GP de Itália de 1994, onde tinha feito a pole-position, perante os "tiffosi", liderou a corrida com folga até ao momento em que  vai às boxes para reabastecer e quando arranca para a pista... a sua caixa de velocidades falhou.

Na temporada de 1995, as coisas melhoraram um pouco, com dois segundos lugares em Buenos Aires e Imola, e quando a competição chegou a Montreal, ele era quarto no campeonato, com 14 pontos. E ainda tinha conseguido uma volta mais rápida no Mónaco. Quinto na qualificação, parecia que ele iria conseguir um pódio, porque Michael Schumacher estava a ter uma corrida irrepreensível naquele final de semana. Tinha conseguido uma vantagem acima de meio minuto no final da volta 57... quando começou a ter problemas elétricos no seu Benetton, que afetavam a troca de marchas no seu carro. 

Indo para as boxes, Schumacher perdeu mais de um minuto para resolver esse problema, parado. Quando assim fez, descobriram que... não tinham feito a troca de pneus. No final, apesar de ter tentado recuperar o tempo perdido, acabou na quinta posição, enquanto na meta, todo um circuito celebrava de pé a vitória, para depois, trocar as bancadas pela pista, invadindo-a. Entretanto, Alesi ficara sem gasolina e por acaso, Schumacher passou por ali. Ele parou o carro e perguntou se não queria boleia para as boxes. Ele acedeu e lá foi ele, em cima do carro, comemorando a sua vitória perante os tiffosi.

E... não ficaria admirado se alguns deles não pensassem se ele não fosse Gilles reencarnado. Ou que o seu espírito não colocassem alguma justiça neste mundo do automobilismo.

Sem comentários: