quinta-feira, 17 de julho de 2025

A imagem do dia


Sabemos que a um dia, passa outro. 

Sabemos que ao verão, aparecerá o outono, e depois o inverno. O Natal e Ano Novo. E depois, esperamos calmamente para que chegue a primavera e depois o verão, para podermos aproveitar os dias agradáveis, e olhar para a paisagem que amamos, mais uma vez. 

Entendemos sempre que existe um "próximo ano". Entendemos a ideia dos 365 dias, da volta completa que a Terra dá à volta do Sol. Mas mais além disso... não, não entendemos. A nossa ideia do mundo, do tempo, não vai além de um ano. Uma década, um século... não, não temos. Achamos que tudo fica no seu lugar, no mesmo tempo, e não damos conta que esse momento vai embora, ficará distante, não voltará. E as pessoas que vivem deixam de existir, aos poucos, lentamente. 

E quando hoje se lembra de Jules Bianchi, o piloto da Marussia que sofreu o seu acidente fatal em Suzuka e demorou nove meses para morrer, custa a crer que passou uma década de algo que julgávamos que tinha acabado, essa ideia de "pilotos de Formula 1 que morrem em pista. Acabou com o Senna, certo?"

Podem achar um disparate, mas acreditem: muitos pensavam nisso na altura. Lembro, cinco anos antes, quando Felipe Massa levou com uma mola na cabeça nos treinos livres do GP da Hungria de 2009, falou-se (e mostrou-se um video) da FIA com dispositivos para proteger a cabeça, incluindo o HALO. Claro, eles "arrastaram os pés", e tenho aquela sensação que se tivessem colocado antes, Bianchi estaria melhor protegido da colisão em Suzuka e teria aguentado melhor o impacto com o trator.

No final, mais do que lembrar alguém que poderia ter sido um bom piloto e ter arrancado um milagre ao conseguiu um nono posto nas ruas do Mónaco, agora estamos aqui a recordar um talento que se foi cedo demais, e a última morte na Formula 1. E as mudanças que causou. 

Bom saber que depois disso houve gente salva em situações "in extremis", mas eu sei, melhor que ninguém, que levar os acidentes mortais para zero no automobilismo... não creio que aconteça. Se calhar, o espaço entre mortes alargou-se, mais nada. Porque se alguns de vocês podem lembrar-se de Romain Grosjean, eu lembro-me de Anthony Hubert, apesar de ter acontecido na Formula 2, mas foi num fim de semana de Formula 1.  

Não será mais esquecido. Hoje, é verdade, é mais um dia. Mas hoje lembramo-nos dele. Ars longa, vita brevis.

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