quinta-feira, 17 de julho de 2025

A imagem do dia (II)




O GP da Grã-Bretanha de 1995 foi das corridas mais imprevisíveis de uma temporada onde o duelo entre Damon Hill e Michael Schumacher raiou o radical, quando ambos se tocaram e foram para fora da pista, obrigando a abandonarem. 

E como sabem: "patrão fora, dia santo na loja". E o maior beneficiário desta colisão foi um britânico, Johnny Herbert, que comemorou a sua primeira vitória, algo que procurava há muito, mas parecia lá não chegar. Contudo, quando colocou os pés no lugar mais alto do pódio, era o culminar de um caminho das pedras que tinha começado sete anos antes, noutro circuito britânico: Brands Hatch. Que, de uma esperança na Formula 1, passou para um acidente que o deixou no fundo do buraco, com tudo em dúvida, para exílios no Japão, que lhe deram a sua mais inesperada vitória no automobilismo. E depois, no regresso, os potenciais becos sem saída deram depois em portas bem abertas para a fama que merecia. Ainda por cima, na sua corrida caseira.

Nascido a 25 de junho de 1964, em Brentwood, no Essex inglês, Herbert chegou à Formula Ford em 1985, para participar na Formula Ford Festival, em Brands Hatch. As suas qualidades levaram ao topo, triunfando à primeira, mostrando todo o seu talento. No ano aseguinte, passou para a Formula 3 britânica, para triunfar no campeonato em 1987, ao serviço da Eddie Jordan Racing, com cinco vitórias.  

Em 1988, ele e Jordan deram o salto para a Formula 3000, onde ganhou na primeira corrida do ano, em Jerez, para além de um pódio em Monza. E quando chegaram à Ronda de Brands Hatch, com um novo companheiro, Martin Donnelly, Herbert tinha a pole. No dia da corrida, o britânico aguentava-se na liderança contra uma concorrência que queria o seu lugar a qualquer custo. Quando o suíço Gregor Foitek tentou passá-lo, na zona de Pilgrim's Drop, ele tocou no carro de Herbert e atirou-o para a parede de cimento. Uma carambola seguiu, eliminando seis carros, e Herbert era o piloto mais maltratado. Os seus tornozelos estavam seriamente maltratados, e transportado para o hospital, o trisco de amputação era sério.

Longos meses de fisioterapia, para além de mais operações para corrigir as fraturas, o colocaram na cama do hospital. Mas no final do ano, algo inesperado aconteceu: ele iria guiar um carro de Formula 1. E para um lugar na Benetton! Apesar das feridas apresentarem sequelas permanentes - não poderia correr mais e o seu estilo de condução teve de ser modificado - Herbert preparou-se bem. E na primeira corrida do ano, no Rio de Janeiro, ele acabou na quarta posição, conseguindo três pontos na sua estreia. O que era um feito!

Contudo, ainda sofria com as lesões. Ele descobriu que carregar o pé no pedal de travão lhe causava imensas dores, e isso afetava nos tempos que tirava, mas isso não impediu de conseguir mais dois pontos, resultantes de um quinto lugar em Phoenix, na romda americana. Mas mesmo com esse palmarés, saiu da Benetton depois do GP do Canadá. Ainda correu em duas provas pela Tyrrell, em substituição de Jean Alesi, que tinha sido o seu sucessor na Eddie Jordan Racing, na Formula 3000. 

A partir dali, foi uma mistura de reabilitação e corridas no Japão. A Lotus chamou-o para substituir Martin Donnelly nas corridas finais da temporada de 1990, e no ano seguinte, regressou à equipa depois do GP do Mónaco, em substituição de Julian Bailey. Mas quase a seguir, foi correr nas 24 Horas de Le Mans ao lado do norte-irlandês Eddie Irvine e o alemão Wolker Weidler, num Mazda 787, com poucas chances de vitória. Mas... surpreendentemente, acabaram por ganhar! Nada mau para um carro de motor rotativo. Contudo, foi sol de pouca dura: dividindo o seu lugar na Lotus com o alemão Michael Bartels, acabou por não pontuar.

A partir de 1992, Herbert tinha o lugar garantido na Lotus. Graças também à amizade com Peter Collins, que o conhecia desde os tempos da Formula 3000, e o acolhera na Benetton, ele ficou na equipa ao lado de gente como Mika Hakkinen e Alex Zanardi. Ajudou a colocar a equipa no meio do pelotão, e voltou a pontuar, ao ponto de em meados de 1993, ter ajudado na recuperação da Lotus até ao meio do pelotão. Os seus 11 pontos tinham siudo os melhores na carreira.

Contudo, em 1994, as coisas acabaram em desastre, com o motor Mugen V10 e os problemas de tesouraria com a equipa. Sem pontuar, depois do GP de Portugal, com a Lotus em insolvência, o seu contrato foi comprado por Tom Walkinshaw, e depois de uma passagem pela Ligier em Jerez, acabou a temporada como piloto da Benetton, não marcando qualquer ponto.

Mas a ideia era ficar a longo prazo, e para 1995, manteve-se como piloto, ao lado de Michael Schumacher. E logo de inicio, o seu primeiro pódio, quando foi segundo em Barcelona, numa dobradinha com Schumacher... depois do seu rival, Damon Hill, ter ficado sem caixa de velocidades. O primeiro momento de sorte da temporada. Sexto no campeonato, com 12 pontos, conseguiu o quinto melhor tempo numa Silverstone que, tanto ficava a seco, como a chuva fazia a sua aparição. Mantendo a mesma posição no inicio da corrida, com Hill, Alesi, Schumacher e Coulthard na sua frente, Herbert manteve o ritmo e o lugar até Coulthard ir às boxes para a sua primeira paragem para reabastecimento, na volta 21, indo para terceiro, pois parou depois de Alesi e Coulthard.

Depois disso, beneficiou das desistências de Hakkinen e Berger, porque assim não iria ser pressionado por eles na sua estratégia de boxes. Estando na terceira posição, assistia na primeira fila no duelo entre Hill e Schumacher, onde o britânico tinha conseguido alargar a sua vantagem na primeira parte da corrida, para depois, o alemão se aproximar do Williams do britânico, mesmo que tenha ficado temporariamente na liderança, pois o britânico tinha parado para reabastecer.

O momento da corrida aconteceu na volta 44, com a segunda paragem para abastecimento. Hill foi às boxes e regressou na traseira de Schumacher, e partiu para o ataque, determinado a ficar novamente com a liderança. Duas voltas depois, ambos os carros chegam à curva Stowe, e Hill tentou a sua sorte, mas teve de abortar por causa do Sauber de Bouillon, que perdia uma volta. Tentou novamente mais à frente, na Priori, uma curva feita à esquerda, antes da reta da meta. Contudo, ambos não cederam e tocaram-se, causando furor nas bancadas. Ambos os carros voaram para fora, e desistiram no impacto. 

Claro, com isto tudo a acontecer, a liderança caiu ao colo de Herbert. Que estava a lutar pela liderança com o Williams de David Coulthard. Contudo, o escocês tinha uma penalização de 10 segundos, e ele tinha de cumprir, apesar de o ter passado na volta 49. Cumpridos os 10 segundos, Herbert não foi mais incomodado até à meta, conseguindo a sua primeira corrida na Formula 1. E logo "em casa"!

Na conferência de imprensa, Herbert afirmou:

"Assim que assumi a liderança, a multidão começou a agitar Union Jacks por todo o circuito, mas eu apenas me foquei no trabalho. Fiquei a pensar no carro e em tudo o que poderia correr mal nas últimas dez voltas. Mas tudo continuou. Devia ter apostado em mim, uma vez que me ofereciam uma aposta de 25 para 1 para a vitória, mas não o fiz. Devia ter tido mais confiança em mim mesmo. Mas agora acho que esta vitória deve ser um bom impulso para a minha carreira e vou sentir-me muito mais confiante a partir de agora."

Sim, foi uma vitória caída do céu. Sim, os líderes desistiram e o seu rival teve de cumprir uma penalização. Mas independentemente do resultado, tenho a certeza que deve ter lembrado dos eventos de Brands Hatch no momento que subiu ao lugar mais alto do pódio e receber o troféus de vencedor naquele dia. E os seus mecânicos também celebraram bem forte. Afinal, ele era bem popular no pelotão da Formula 1.

E foi assim, numa tarde nublada, há 30 anos, em Silverstone: a história de redenção de um piloto que tinha potencial para ganhar, mas um acidente quase acabou a sua carreira.  

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