terça-feira, 15 de julho de 2025

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A pista de Silverstone é uma antiga base aérea que esteve ao serviço da RAF na II Guerra Mundial, e depois da guerra, foi desativada para a vida civil e ganhou uma segunda vida como circuito de automóveis. Desde 1948 serviu como palco para o GP da Grã-Bretanha, a par de outros circuitos como Aintree e Brands Hatch, mas em 1986, decidiu-se que a alternância com a pista situada no Kent iria acabar.

Desde 1987 que, naquele lugar em definitivo, viu-se velozes competições numa pista cujo desenho nunca tinha sido alterado desde 1949, excepto uma chicane para a curva Woodcote, antes da meta. Mas desde então que se sabia de uma coisa: aquela pista era demasiadamente rápida para os carros existentes. Se queriam tirar a pole-position a média teria de ser superior a 250 km/hora. Assim sendo, a pista iria ser modificada de forma profunda, e as obras iriam começar assim que fosse possivel.

Para Nigel Mansell, triunfar ali era sempre um lugar especial. Tinha sido assim em 1987, com a multidão a invadir a pista para o celebrar. E até em 1988, quando acabou em segundo, debaixo de chuva, foi comemorado como se fosse um campeonato. Contudo, em 1990, Mansell, agora na Ferrari, estava descontente. A chegada do piloto francês tirou-lhe o estatuto de primeiro piloto (ou privilégio) na Scuderia de Maranello. Aparentemente, nos "briefings", que eram feitos em inglês, porque Mansell não sabia falar italiano, Prost, que de inicio falava em inglês com os mecânicos e os engenheiros, a certa altura começava a falar italiano com eles, e ele ficava "às aranhas"...

E para piorar as coisas, Prost tinha ganho as duas últimas corridas dessa temporada até então, e Mansell queria reagir. E que melhor lugar que "em casa"?

Na corrida onde Riccardo Patrese alcançava o seu 200º Grande Prémio - o primeiro de sempre de um piloto de Formula 1, agradeçam ao calendário ter 16 corridas nessa altura - Mansell entrou a matar quando conseguiu a pole-position, perante o delírio dos britânicos. E melhor ainda: quase um segundo de avanço sobre Prost, que tinha conseguido apenas o quinto melhor tempo. Entre eles estavam os McLaren de Ayrton Senna e Gerhard Berger, e o Williams de Thierry Boutsen. E no meio disto tudo estavam os Lola-Lamborghini de Aguri Suzuki e Eric Bernard, oitavo e nono na grelha. 

Na partida, Senna largou bem e superou Mansell, mantendo-se na frente até à 11ª volta, altura em que Senna efetuou um pião e foi às boxes para trocar de pneus, Mansell, sempre a carregar, graças à velocidade da pista, ficou com o comando. Atrás, Ivan Capelli, no seu Leyton House-March, aproveitava a competividade do seu carro, depois da excelente corrida em Paul Ricard, para passar alguns pilotos, acabando em nono no final da primeira volta. Mas pouco depois, fez um pião para evitar uma colisão com o Williams de Patrese e o Benetton de Alessandro Nannini, que tinham batido um no outro na 15ª volta. Sem aparentes danos, Capelli engatou a marcha e começou a carregar, tentando chegar aos pontos. Ali, começou a encetar uma recuperação notável.

Na volta 22, Berger foi para a frente de Mansell, mas cinco voltas depois, foi novamente passado por Mansell, e depois, o austríaco foi passado por Prost, acabando em terceiro e a ser ameaçado por um... Capelli que se aproximava a passos largos. Nas voltas seguintes, Prost aproximou-se, com Berger a ver tudo à distância, e o ritmo imprimido pelo francês foi o suficiente para apanhar o britânico na volta 43, quando este era abrandado pelo Arrows do italiano Alex Caffi. Atrás, Berger era apanhado por Capelli, que por momentos... era o piloto mais rápido em pista! E com problemas no sistema de escape!

Mas foi sol de pouca dura: na volta 48, o sistema de combustível rompeu e ele acabou por desistir, deixando parra trás mais uma chance de pódio. 

Mansell queria voltar ao comando, mas o carro e a equipa não o deixavam. Quando ficou longe do francês, teve de se conformar, e a desistência de Capelli não ameaçava a eventual dobradinha. Mas na volta 55, o desastre, quando a sua caixa de velocidades avariou e ele encostou à berma, perante a multidão de compatriotas seus desiludidos. 

No final, Prost levou o carro até ao fim, e Berger perdeu um segundo posto mais que assegurado quando o acelerador do seu McLaren avariou, entregando o segundo posto para Boutsen. Senna chegou a terceiro, na frente dos Lola de Bernard e Suzuki, e pelo meio, no quinto lugar, ficava o Benetton de Nelson Piquet, nos pontos depois de ter largado de 11º.

Prost saía de Silverstone com o comando do campeonato, para contentamento da Ferrari, mas no final, da corrida, poucos queriam saber disso. Mansell, o homem que corria em casa, ainda tinha algo a dizer à imprensa, e iria abalar a todos: iria pendurar o capacete.

Era o final de uma era, o que era adequado para uma pista que tinha construído a reputação de ser veloz. Poucos dias depois, começavam as obras de remodelação. Dali a um ano, quando regressassem, iriam competir numa pista mais lenta, esperando que mantivesse a competividade.      

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