As pessoas gostam daqueles que chegam aos limites do espaço conhecido e sobrevivem para contar. Então do nosso pálido Ponto Azul, chega ao ponto de fascínio. Só em meados do século XX, com o começo da aviação, e depois, o desenvolvimento das viagens espaciais, começamos a conhecer como passamos lentamente de uma atmosfera rica em oxigénio e dióxido de carbono, para um onde, protegidos de raios cósmicos ultra-violeta, somos uma bola azul, frágil perante um espaço totalmente hostil.
Ao longo dos anos, descobrimos desafios e aqueles que se propuseram a quebrar. Encaramos essas pessoas como audazes, viciados em adrenalina onde, conhecidos os perigos, resolvem fazer na mesma. Mesmo quando alguns desses desafios aconteciam ao serviço dos exércitos e das Forças Aéreas, em nome de objetivos mais guerreiros, não deixamos de pensar na coragem daqueles que, aceitando a missão, arriscam a vida pelo seu dever. Se formos ver bem, na NASA e na Agência Espacial Russa, os primeiros a irem para o Espaço, todos eles eram militares, ao serviço do seu país, enchendo as primeiras páginas dos jornais deste planeta para serem os primeiros heróis de todo um novo mundo.
Passada essa fase, apareceram os aventureiros, puros e duros. Bater recordes é uma maneira de não só satisfazer o ego, como também o de mostrar que é a sua melhor maneira de mostrar que gostam de se sentir vivos. Hoje em dia, saltar de 33 mil metros de altura é uma maneira muito cara de saltar de paraquedas e um décimo dessa altura. Ou então, saltar de um prédio alto - isso tem nome, BASE jumper - ou voar num fato voador, entre as paredes de um qualquer fiorde na Noruega, arriscando a vida. Tudo isso por essas tais descargas de adrenalina.
A história de Felix Baumgartner, morto nesta quinta-feira em Porto Ercole, em Itália, aos 56 anos, num acidente de paraquedas, é bem interessante. Ele era de um tipo que buscava a adrenalina, mas queria algo mais. A ideia de bater um recorde que não era tocado, na altura, há mais de meio século - o recorde de Joseph Kittinger, em 1960 - era demasiado boa para ser deixado de lado. E só essa ideia fez-nos ficar agarrados à televisão ou ao portátil, vendo por algumas horas o canal do Youtube onde ele iria fazer esse feito. E no final seguiu, passo a passo, aquilo que Kittinger fizera. E com ele a testemunhar.
Sempre olhei para aquilo como se olhava, há mais de 60 anos, numa era heroica, e já distante, os recordes de velocidade. Mais que uma tarde bem passada, ou colocar em perigo a sua existência, para poder dizer o teu nome como o recordista de altura em alguma categoria, sem dúvida deve ser algo que vale a pena.
Hoje em dia, sabem como Baumgartner é chamado? Em inglês, é "daredevil". Para português, é algo parecido com "desafiador". Mas ele desafia o quê? A gravidade? Capaz. A vida? Sem dúvida? As estrelas? Não indo para o espaço, fica num limbo entre o ar que nós respiramos, protegidos por camadas invisíveis, do Espaço hostil.
O que sei, no meio disto tudo, é que ele viu um desafio, aceitou-o. Trabalhou para ele, e conseguiu alcançar os seus objetivos. Mesmo que depois, esse recorde tenha sido superado - o atual recorde é de 41 quilõmetros, alcançado pelo americano Alan Eustace. Mas acho que todos sabem disso: os recordes são para ser superados. O momento que fica para sempre, que iremos sempre recordar, é aquele onde ele se colocou fora da cápsula, e saltou fora. Isso é melhor que todos os recordes do mundo. Ad astra.
O que sei, no meio disto tudo, é que ele viu um desafio, aceitou-o. Trabalhou para ele, e conseguiu alcançar os seus objetivos. Mesmo que depois, esse recorde tenha sido superado - o atual recorde é de 41 quilõmetros, alcançado pelo americano Alan Eustace. Mas acho que todos sabem disso: os recordes são para ser superados. O momento que fica para sempre, que iremos sempre recordar, é aquele onde ele se colocou fora da cápsula, e saltou fora. Isso é melhor que todos os recordes do mundo. Ad astra.



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