Contudo, 32 anos depois, os regulamentos permitem que todos pontuem em todos os ralis do campeonato, mas o atual líder, Sebastien Ogier, apenas pontuou em... oito dos 11 feitos nesta temporada. A três ralis do final do campeonato, ele tem 224 pontos, mais dois que Elfyn Evans, seu companheiro de equipa. E o mais sensacional, no caso de Ogier, são algumas coisas: todos os resultados da temporada são pódios, incluindo cinco vitórias, ele tem 41 anos e nem tinha qualquer intenção de atacar o que poderá ser o seu nono campeonato, igualando Sebastien Loeb na lista de pilotos com mais campeonatos.
Ainda por cima, ele compete a tempo parcial desde 2022, quando tentou a sua sorte na Endurance, incluindo as 24 Horas de Le Mans, onde conseguiu um resultado relativamente modesto.
Mas, mais que ver um líder a tempo inteiro, é ver que este é um campeonato bem competitivo, um dos mais competitivos dos últimos anos. E não é um duelo entre um e outro piloto, não. É que temos quatro pilotos que, tecnicamente, podem alcançar o título: Ogier, Evans, o finlandês Kalle Rovanpera (203 pontos), o estónio Ott Tanak (181 pontos), e mais distante, mas matematicamente possível, o belga Thierry Neuville (166 pontos). São três pilotos da Toyota, dois da Hyundai.
E provavelmente, muitos podem nem saber que isto está a acontecer.
Bem sei que o Mundial de Ralis é diferente da Formula 1, IndyCar Series, ou até a Formula E, mas neste momento, em que o calendário está a ser alargado - poderá ser adicionado com ralis nos Estados Unidos, Nova Zelândia e Indonésia, e eles não esquecem da China - a competição vive uma era de crise e mudança. A FIA tomou as rédeas da promoção do espetáculo, que era da Red Bull Media, e procura outro promotor, irá haver uma nova mudança de regulamentos a partir de 2027, e o que se fala é na contenção de custos, com os carros de ralis a não custarem mais que 450 mil euros.
Para terem uma ideia: ter um Rally1 vale 1,1 milhões de euros, um Rally2 são cerca de 200 mil, conforme a marca.
Há mais marcas a correr no Rally2 - Skoda e Citroen tem os seus carros - que no Rally1, com duas marcas, e mais uma preparadora, a M-Sport, que adapta os Ford Puma Rally1, e está sub-financada. Numa era onde todos os grandes grupos de automóveis estão a escolher as suas marcas para cada categoria, com a Formula 1, a classe Hypercar do Mundial de Endurance e a Formula E cheia de marcas, ver o WRC só com três marcas, em contraste com os anos 80 e 90, onde era normal ter quatro, cinco ou até seis marcas a competirem, entende-se a escassez e onde está realmente a competividade. Os Rally1 são rápidos, mas caros e complexos.
É mais fácil ter e manter carros de Rally2, por vezes, por mais de um ano - os vários campeonatos nacionais estão cheios de carros dessa categoria - pode-se imaginar que o futuro passará por aí. Já foi anunciado que a Lancia, marca do Grupo Stellantis, regressará a um local onde foi muito feliz nos últimos 50 anos, desde o Stratos até ao Delta, onde foi campeão por oito vezes, mas o seu último título foi conquistado em 1992. E há noticias de que alguns preparadores poderão estar interessados em construir alguns carros nessa nova categoria, representando marcas novas, mas estão à espera de saber como serão esses novos regulamentos.
No final do dia, se formos pensar bem, o WRC está numa encruzilhada. Teve muito prestigio no passado e é muito competitivo, com interessados em receber a competição, dos quatro cantos do mundo, mas tem um grande problema: como irei mostrar este produto e cativar os potenciais fãs, da mesma maneira como a Formula 1 cativa novos fãs? Onde andará o nosso "Drive to Survive"? Quem fará um filme, ou documentário, sobre o WRC?
E tudo isto acontece quando as estrelas se convergiram e estão a dar o mais competitivo final em décadas.






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