Pesquisando os meus companheiros na Net, cheguei a um excelente blog, o do paulista Luiz Antônio Pandini, que com as suas excelentes "Moscas Blancas" conta deliciosas histórias sobre a Formula 1 e dos seus intervenientes. Ora, nesta semana de cópias e mais cópias dos dois lados do Atlântico, o Pandini falou de uma história que faz daqui a meia dúzia de meses 30 anos: o "Caso Arrows".
Para isso, e para os que ainda não sabem, dou a palavra ao Pandini para contar essa história. Atenção! Só vou colocar aqui parte do post transcrito, pois a segunda parte fala de um outro caso nunca provado, ocorrido na Lotus dez anos depois do primeiro...
Toca o telefone no meio da tarde. É Marcus Zamponi, um dos três jornalistas que eu queria ser quando tinha meus 15, 16 anos de idade. (Os outros eram Tarso de Castro e Otávio Ribeiro, o popular “Pena Branca”.) Está escrevendo sua coluna para a revista Racing e quer trocar uma idéia sobre o caso de espionagem no qual Nigel Stepney, da Ferrari, é acusado de passar informações confidenciais ao colega Mike Coughlan, da McLaren.
− Acho que foi apenas o primeiro que veio a público − comentei.
− É exatamente o que eu penso! − respondeu Zampa.
A conversa evolui e, com a memória começando a funcionar, lembrei que na verdade não foi o primeiro caso de espionagem ocorrido na F1. No final de 1977, funcionários da Shadow armaram uma tramóia para tomar a equipe de seu dono, Don Nichols. Foram descobertos antes da execução do plano e sumariamente demitidos. Os “golpistas” − Franco Ambrosio, Alan Rees, Jackie Oliver, Dave Wass e Tony Southgate − não perderam tempo: reuniram-se e criaram uma nova equipe, cujo nome foi criado a partir das iniciais de seus sobrenomes. Nasceu assim a Arrows. O segundo “R” foi incluído apenas para formar uma palavra com significado: “flecha”, em inglês.
Franco Ambrosio era um banqueiro italiano e patrocinou a Shadow em 1977. Nem chegou a pintar seu nome nos Arrows: antes mesmo do começo da temporada de 1978, foi preso por participação em negócios escusos diversos. (Outro bloguista, do Saco Vazio de Gatos, afirma que teve a ver com o escândalo da loja maçónica P2, em Itália, que entre outras coisas, pode ter sido a causa da morte de João Paulo I, no Verão daquele ano). Foi por isso que o Arrows A1 estreou no GP do Brasil, no Rio, todo pintado de branco e com um patrocínio de última hora da Varig, apenas para aquela corrida.
Sendo Southgate ex-projetista da Shadow e tendo a mesma função na Arrows, nada mais − digamos assim − natural que o Arrows A1 ser idêntico ao Shadow DN9. Ao notar a semelhança, Don Nichols não teve dúvidas: foi aos tribunais e acusou Southgate e a Arrows de roubo de projetos. A Shadow fez as primeiras corridas de 1978 com o DN8, de 1977, e o DN9 acabou estreando depois do Arrows A1. Mesmo assim, no segundo semestre a justiça inglesa deu ganho de causa à Shadow e obrigou a Arrows a modificar o A1, sob pena de impedir sua participação no restante do campeonato.
Já agora, acrescento: A Arrows teve um pódio e 11 pontos nesse ano, todos conseguidos por Riccardo Patrese. A Shadow só conseguiu seis (quatro por Clay Regazzoni e dois por Hans Stuck). Em 1980, a equipa de Don Nicols extinguiu-se, a Arrows tornou-se numa equipa média de pelotão, com muitos proprietários, até à sua extinção em 2002, nunca ganhando uma corrida na sua história.
Quanto a história em si, será que aqui o crime compensou? Pelo resultado, sim. E as consequências mostraram que o poder por si só não significa sucesso, se não tens os talentos para criar e manter esse sucesso...
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