Um dia, ouvi Herman José, o maior comediante português dos últimos 30 anos, dizer isto numa cerimónia que o agraciava: "Só és importante se tu tiveres inimigos". Pessoalmente, não tenho inimigos, só ex-amigos, portanto, nesse aspecto, ainda não alcancei importância. Mas escrevi aquilo por causa dos Gato Fedorento.
Como sabem, eles são a nova coqueluche da comédia portuguesa. Já o eram, quando faziam os Gato Fedorento, com os seus "sketches" de absoluto "nonsense", ao melhor estilo dos Monty Python. Mas no último ano, quando decidieram fazer o "Diz Que É Uma Espécie De Magazine", foi uma nova etapa na sua evolução. Foram buscar coisas que estavam enterrados nos Arquivos da RTP (os Tesourinhos Deprimentes), e gozaram com a actualidade (o melhor exemplo foi o cartaz a gozar com a extrema-direita, no Marquês de Pombal)
Na esmagadora maioria das vezes, os visados reagiram com imenso "fair-play", mas como em tudo, houve excepções: o caso do cartaz terminou com a sua retirada poucos dias depois, obrigados pela Câmara Municipal de Lisboa, e agora, com a noticia de que tinham sido processados por difamação pelo presidente do Futebol Clube do Porto, Jorge Nuno Pinto da Costa.
A noticia veio na edição de Domingo do Diário de Noticias: "Os humoristas do Gato Fedorento e o director de programas da RTP, Nuno Santos, foram acusados de difamação por Pinto da Costa, presidente do Futebol Clube do Porto (FCP). Em causa está o programa Diz Que É Uma Espécie de Magazine, emitido a 5 de Novembro de 2006, onde os humoristas fizeram um sketch intitulado 'A história nunca contada de Pinto da Costa'".
O "sketch" foi feito para gozar com o livro "Eu, Carolina", escrito pela sua ex-amante, Carolina Salgado, em que ela descreve os "segredos de alcova" do presidente portista, há muito suspeito de esquemas que envolvem corrupção de árbitros, tráfico de influências, e fugas ao fisco envolvendo transferências de jogadores, muitos deles resultando no processo "Apito Dourado".
A acusação é feita em nome particular, pois de inicio o Ministério Público não aceitou as queixas (chegou-se a dizer que a queixa era "ridícula"), mas, continuando a ler a noticia, "a queixa foi feita porque são acusados de "cultivar o escândalo e o sensacionalismo", com afirmações e expressões "altamente difamatórias e injuriosas", as quais o presidente portista afirma "não corresponderem à verdade'", refere o site Portugal Diário.
O presidente do clube do Norte afirma que "o conteúdo do programa "abalou profundamente" a sua "vida pessoal e profissional", pelo que ficou "revoltado e indignado" com o programa e "sentiu desse modo feridas a sua credibilidade, reputação, prestígio e imagem pública". Coitadinho!
Pinto da Costa nunca teve sentido de humor. Há mais de dez anos, o programa "Contra-Informação", a versão portuguesa do "Spitting Image" britânico, fez uma caricatura de Pinto da Costa, chamando-o de Bimbo da Costa. Alguns dias depois, ele respondeu que "as unicas pessoas que gozam com a minha cara são a minha filha, o meu gato e o meu cão". Resultado: desde então e até agora, o presidente do Porto é sempre retratado na companhia do Bobi (cão) e do Tareco (gato).
São conhecidas as perferências clubisticas dos Gatos: Zé Diogo Quintela é do Sporting, enquanto que os outros três são benfiquistas. Logo, eles não devem ser lá muito bem vindos na área do Grande Porto... e lembro-me, na altura, que Pinto da Costa retaliou: vedou durante algum tempo o acesso da RTP ao centro de treinos de Gaia, coisa que passou depois de umas conversas com o pessoal da delegação do Porto. Mas isso não impediu de processar o seu Director de Programas, Nuno Santos.
Pinto da Costa pode ser o melhor presidente que o F.C. Porto jamais teve, mas ele é uma personagem pública, logo, será sempre alvo de gozo por parte dos comediantes, por muito que custe. As personagens públicas estão sujeitas a isso. Muitos até agradecem. A famosa frase "falem mal de mim, mas falem", em muitos asenta que nem uma luva. Mas as suspeições, os jogos sujos e agora, a lavagem de roupa suja da Carolina Salgado nunca o irão largar.
E num país onde a tudo se perdoa, menos a perferência clubistica, a jogada de partir para tribunal, pode ser vista como ridícula (e vamos ser honestos: é ridícula), mas mostra que certas piadas a certas pessoas podem ser perigosas... e o ridículo mata.
2 comentários:
Ridiculo! A estória do bóbi e do tareco foi bem lembrada! Continua parvo, este PC!
Olá. Prazer. História interessante.
O interessante deste relato é que o comportamento citado sempre piora a situação para o personagem.
Aqui no Brasil, numa situação um pouco mais séria, o cantor mais popular do país (Roberto Carlos, conhecido como "Rei") mandou retirar de circulação um livro biográfico dele. O problema é que isto aumentou o interesse de tal forma que a venda do livro foi recorde enquanto pode ser vendido -e hoje é peça de colecionador, chegando a se multiplicar o valor inicial...
Abraço,
Kohara do Worstlap
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