terça-feira, 10 de fevereiro de 2009

O piloto do dia - John Surtees (1ª parte)


O homem do qual falo hoje é especial, pois até aos dias de hoje, é o único piloto que venceu Campeonatos do Mundo nas duas e nas quatro rodas. E isto são só dois capítulos de uma carreira prolífica que começou, faz hoje 75 anos. John Surtees foi piloto de motos, dos melhores nos anos 50, ao volante de máquinas com Triumph , e nos anos 60, estendeu a sua carreira na Formula 1 a bordo de carros como Lola, Ferrari, Cooper e BRM, antes de começar a sua própria equipa, a Surtees. Nos seus 75 anos de vida, e no 45º aniversário do seu título mundial, ele é o “Piloto do dia” deste Blog.

Nascido a 11 de Fevereiro de 1934 na vila de Tatsfield, no condado do Surrey, John era filho de um dono de uma loja de motocicletas. Cedo descobriu-as e começou a experimentar, e após o final da II Guerra Mundial, tentou entrar nas competições, na moto Vincent do seu pai. Na sua primeira tentativa, ganha, mas quando os organizadores descobriram a sua verdadeira idade, foi desqualificado! Em 1950, com 16 anos mal feitos, sai da escola e junta-se à Vincent para ser aprendiz, e ganhar conhecimentos de mecânica, enquanto experimentava as suas máquinas. Nessa altura, com o dinheiro que ganhou, comprou o seu primeiro carro, um Jowett Jupiter.

No ano seguinte, em 1951, numa prova do campeonato local, no circuito de Thruxton, Surtees, então com 17 anos, mostra-se ao mundo especializado, ao dar luta ao melhor piloto de então, Geoff Duke. Duke ganhou, mas Surtees tinha mostrado o seu valor. Em 1952, aos 18 anos, participa na sua primeira prova do Mundial, o Ulster TT, a bordo de um Norton de 500 cc, terminando na sexta posição, e conquistando o seu primeiro ponto no Mundial. As suas participações foram esporádicas, á medida que ganhava experiência para correr na mais alta roda do motociclismo, ora consertando motos na garagem do seu pai, ora participando em provas locais, em motos Norton, consideradas as melhores da época.

Em 1955 têm a sua grande chance: Joe Craig, o chefe de equipa da Norton nas corridas de Motociclismo, dá ao jovem de 21 anos a sua chance de correr na sua equipa, na classe de 350 cc, para além de correr na classe de 250, na alemã NSU. Consegue dois pódios com a Norton, e ganha o Ulster TT com a NSU, batendo Geoff Duke. Era o inicio de uma auspiciosa carreria no motociclismo.

Contudo, em 1956, a Norton debatia-se com dificuldades financeiras, e libertou Surtees para que procurasse abrigo noutra marca, pela melhor oferta. Experimentou as motos da BMW, e mesmo depois de uma performance credível no Nurburgring Nordschleiffe, decidiu ir para a os italianos da MV Augusta, onde nas cinco temporadas seguintes, foi um dos grandes dominadores da competição, lutando contra pilotos como Geoff Duke, Keith Campbell, Libero Liberati.

Contudo, Surtees era "um estranho" numa equipa estritamente italiana, dirigida por um aristocrata apaixonado pelo motociclismo, o Conde Augusta. Algo que iria ver anos mais tarde, quando correr pela Ferrari, mas neste momento de motos, e apesar dessas resistências no topo, deu à marca os títulos que tanto ambicionava. Mas o primeiro foi como que "dado", pois a entidade que a dirigia, a FIM (Federação Internacional de Motociclismo), teve que lidar com uma greve de pilotos, que exigiam mais dinheiro de cachet pela participação nas largadas. Geoff Duke apoiou-os nas suas pretensões, e Duke foi suspenso por seis meses da competição. Surtees aproveitou o facto e venceu o título de 500 cc a bordo das MV Augusta, vencendo em três corridas. E poderia ter conseguido mais, se não fosse um acidente grave em Hockenheim, o ter colocado em fora de combate por algumas semanas...

Em 1957, as coisas foram complicadas, pois as Gilera, outra marca italiana, eram melhores máquinas que as MV Augusta, e Surtees teve de se contentar com o terceiro posto. Mas no final do ano, uma decisão surpreendente caia no pelotão do motociclismo que nem uma bomba: as marcas italianas (MV Augusta, Gilera, Moto Guzzi, Mondiale) iriam retirar-se da competição devido aos altos custos que estavam a suportar. Houve uma autêntica revolução e temeu-se pelo futuro da modalidade (as equipas japonesas só apareceriam uns anos mais tarde), mas no inicio de 1958, para alivio de Surtees, a MV Augusta reviu a decisão, e o inglês dominou as competições nesse ano, nas classes de 350 e 500 cc, vencendo em todas as provas onde participou.

A mesma coisa aconteceu em 1959 e 60, mas no contrato com a MV, havia um "buraco" em relação às provas domésticas, onde Surtees participava com as britânicas Norton, preparadas na garagem do seu pai. Quando a imprensa italiana descobriu isto, as relações azedaram-se, mas Surtees não quis quebrar correr por outra marca que não a MV, pois sabia da potencialidade dessas motas. Foi nessa altura que começou a delinear a sua mudança para as quatro rodas. Em 1959, experimentou uns Aston Martin e Vanwall, em provas extra-campeonato, e enquanto vencia os títulos mundiais de 1960 nas 350 e 500 cc, no último ano de contrato com a MV Augusta, explorava a Formula 1.

A bordo de um Lotus 18 oficial, fez a sua estreia no GP do Mónaco, onde correu até à volta 17, desistindo com problemas de transmissão. Mas foi na segunda prova oficial onde participou, o GP de Inglaterra, no circuito de Silverstone, que deu nas vistas. Numa prova ganha por Jack Brabham, no seu Coooper, Surtees levou o carro ao segundo lugar, batendo o piloto principal, o escocês Innes Ireland. Era o melhor resultado de sempre que a equipa conquistava até então, e na prova seguinte, no circuito urbano da Boavista, alcançava a primeira pole-position de sempre da equipa Lotus. Faz uma corrida sem mácula, fazendo a volta mais rápida, mas problemas com a correia de transmissão do carro o impedem de vencer a sua primkeira corrida, e aquela que poderia ser a primeira vitória de sempre da Lotus. No final, Jack Brabham venceu, e sagrou-se campeão do Mundo nas ruas do Porto.


No final do ano, a sua adaptação às quatro rodas tinha sido tão boa, que ele já sabia que o seu futuro iria ser dali. no final do ano, com os dois títulos de motos na mão, podia retirar-se tranquilamente e em alta das duas rodas, e abraçar com os dois braços uma carreira de quatro rodas, pois sabia que seria tão bem sucedido como nas motos, caso tivesse as melhores máquinas à mão.


(continua amanhã)

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