quinta-feira, 12 de fevereiro de 2009

O piloto do dia - John Surtees (3ª parte)

(continuação do capitulo anterior)

Depois da temporada de 1966, John Surtees decidiu aproveitar o convite de Sohichiro Honda para desenvolver a sua equipa de Formula 1, e especialmente, arranjar um chassis adequado para o potente motor de 3 litros que tinham construido. Depois de pensar um pouco, recorreu aos serviços da Lola, a mesma equipa que tinha construido cinco anos antes o chassis para a Yeoman Credit. Construiram aquilo que se veio a chamar oficialmente de Honda RA300, mas que era também conhecido como "Hondola".

Contudo, o carro só se estrearia em Monza, e até lá tinham que lidar com o chassis anterior, devidamente adaptado ao motor V12 nipónico. O melhor resultado de Surtees foi um terceiro lugar em Kyalami, no inicio do ano, mas quando o carro estreou em Monza, o britânico entrou num duelo fratricida com Jack Brabham e Jim Clark pela liderança. Clark ultrapassou-o por duas vezes, depois de ter tido um furo no inicio da corrida, que o fez atrasar uma volta, e depois os apanhou a todos, numa recuperação épica! Contudo, quando o escocês ficou sem gasolina, Surtees e Brabham disputaram a vitória ombro a ombro, ficando-a para o piloto da Honda, por 0,1 segundos! No final do ano, Surtees e a Honda conseguiram 20 pontos, e o piloto inglês foi o quarto da classificação geral.

As coisas prometiam para 1968, mas tirando dois pódios, uma "pole-position" e uma volta mais rápida, as coisas não melhoraram muito. Para piorar as coisas, o sucessor do RA 300, o 302, era pesado e inguiável para Surtees, e quando passou para as mãos de Jo Schlesser, no GP de França, este se tornou numa bola de fogo à segunda volta da corrida, matando instantaneamente o piloto francês. Assim, a Honda decidiu retirar-se da competição no final dessa temporada.

Sem lugar nas equipas de fábrica, como a Lotus, Brabham e Ferrari, vira-se para a BRM. Esta era um "ninho de gatos" na temporada de 1969, e ao lado de Pedro Rodriguez, não conseguiram muita coisa. O melhor que conseguiu foi um terceiro lugar em Watkins Glen, perto do final da temporada.

Por esta altura, establecera-se como um bem sucedido contstrutor de chassis na Formula 5000, graças aos seus talentos e conhecimentos. No final de 1969, com 35 anos, decidiu que era altura de continuar a sua carreira na Formula 1 com a sua própria equipa, constituindo o Team Surtees.

Enquanto o novo carro não estava pronto, adquiriu um chassis McLaren, onde conseguiu o seu primeiro ponto como construtor. Em Brands Hatch, estreou o novo Surtees TS7, que tinha tido uma estreia auspiciosa em Oulton Park, vencendo essa prova extra-campeonato, com Surtees ao volante. Mas fora a sua última vitória a bordo de um Formula 1. No resto da época de 1970, o melhor que conseguiu foram dois pontos em Mont-Tremblant. No final do ano, Surtees tinha conseguido três pontos e o 16º lugar no campeonato.

Em 1971, consegue financiamento através de Rob Walker, o mítico "Team Owner" de equipas privadas nos anos 60. Essa iria ser a sua última temporada completa como piloto, onde conseguirá como melhor posição um quinto lugar em Zandvoort. Mas por esta altura, tinha razões para cuidar da equipa: tinha não só arranjado um segundo piloto (o alemão Rolf Stommelen) como também tinha arranjado outros pilotos que, ora compravam chassis a ele, ora corriam como terceiros pilotos, como o seu amigo do tempo das motos Mike "The Bike" Hailwood. No final dessa segunda temporada completa, a Surtees tinha conseguido nove pontos e uma volta mais rápida.

A sua carreira na Formula 1: 111 Grandes Prémios, em 13 temporadas (1960-72), seis vitórias, 24 pódios, oito pole positions, dez voltas mais rápidas, 180 pontos no total. Foi Campeão do Mundo de Pilotos em 1964, e Vencedor da Can-Am de 1966.

Em 1972, Surtees passa a ser dono da equipa, mas ainda faz uma perninha no GP de Itália desse ano, para estrear o TS14, onde retira na 22ª volta, com um problema na bomba de combustivel. Mas esse foi o seu melhor ano na Formula 1 como construtor, pois consegue o seu primeiro pódio e com três carros, para Hailwood, o australianio Tim Schencken e o italiano Andrea de Adamich, consegue 18 pontos e o quinto lugar no campeonato.

No ano seguinte, Surtees tem como piloto um jovem brasileiro que quer ver se segue os mesmos passos que os irmãos Fittipaldi e compra um lugar na equipa. O seu nome é José Carlos Pace. É com o brasileiro que consegue duas voltas mais rápidas e um pódio, na Austria, mas são os unicos resultados de relevo. No ano seguinte, Pace continua, mas as suas desavenças com Surtees (que tinha mesmo um trato difícil como director de equipa!) fizeram com que o brasileiro saísse a meio da época, para prosseguir a sua carreira na Brabham. O quarto lugar do brasileiro em Interlagos foram os unicos pontos que a equipa conseguiu naquele ano.

Entretanto, Surtees construia e vendia chassis a privados, alguns deles sem capacidade para pilotar um Formula 1, outros futuras esperanças. Mas o chassis TS15 era mau, e em 1975, Surtees começa a ver a sua vida andar para trás. Em 1976, aceita o controverso patrocinio dos preservativos Durex, e consegue sete pontos, através do jovem australiano Alan Jones.

Em 1977, Jones vai para a Shadow, e para o seu lugar vai o italiano Vittorio Brambilla, e o seu carro laranja, vindo do patrocinador pessoal BETA, a firma italiana de metalomecânica. O simpático (e veterano) "Gorila de Monza" consegue seis pontos em 1977 e mais um em 1978, mas no final desse ano, a aventura de Surtees tinha o deixado exaurido e com um monte de dívidas. Logo, no final desse ano, decidiu fechar as portas.

A partir de então, Surtees passou a gozar uma reforma activa: participando em eventos de motos e carros antigos, fazendo consultadoria para as várias marcas de motos e para a equipa britânica da A1GP, e mais recentemente, gerindo a carreira do seu filho Henry Surtees, que aos 17 anos, já esteve na Formula Renault 2.0 britânica e Formula 3, e prepara-se para correr em 2009 na nova Formula 2.

E ao longo dos anos, as homenagens à carreira do piloto se acumularam: incluido no International Motorsports Hall of Fame em 1996, a FIM o honrou com o título de "lenda" em 2003, pelos seus títulos no motociclismo, e é agora membro da Ordem do Império Britânico (OBE), depois de ter sido condecorado com um MBE em 1959, pelos seus feitos no motociclismo. No final, o seu lugar na História está garantido!

Fontes e referências sobre John Surtees:



Livro:

Santos, Francisco: Grand Prix, a História da Formula 1, Ed Público, Lisboa, 2003

Net:

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