terça-feira, 19 de janeiro de 2010

O piloto do dia - Gilles Villeneuve (2ª parte)

(continuação do capitulo anterior)

A meio de Julho, Gilles Villeneuve iria fazer a sua estreia na Formula 1. No GP da Grã-Bretanha, a bordo do McLaren numero 40, Villeneuve impressiona os observadores presentes, ao fazer uma sucessão impressionante de piões em todas as curvas! Depois descobriu-se que ele usava uma técnica que costumava usar na Formula Atlantic: conhecer os limites do carro o mais depressa possível. E isso resultou nos treinos: Villeneuve fez o nono tempo, a menos de um segundo da “pole-position”, num velho chassis M23, enquanto que Hunt e Mass usavam o M26, que tinha estreado algum tempo antes. Na corrida, passa para sétimo no final da primeira volta, e podeia ter chegado aos pontos, caso não tivesse perdido duas voltas a descobrir a razão pelo qual o mostrador da temperatura da água subira vertiginosamente. Afinal, era do mostrador.

No final, acabou na 11ª posição a duas voltas do vencedor, e a sua performence tinha sido convincente. Contudo, isso foi um “one off”, dado que Teddy Mayer não cumpriu a sua parte do acordo. Ao mesmo tempo que Mayer lhe dava essas noticias no seu Canadá natal, corriam rumores de que a Ferrari estava interessada nos seus serviços. A principio despropositadas, o rumor logo se tornou verdadeiro quando recebeu uma chamada de Maranello, perguntando se queria vir a Itália para falar com o próprio Commendatore.

A reunião aconteceu no final de Agosto, e havia uma razão por detrás: nessa altura, Niki Lauda estava de saída da equipa, após conquistar o bi-campeonato pela marca de Maranello, e Villeneuve era um dos possíveis substitutos para a temporada de 1978. Mas Enzo Ferrari queria que ele corresse nas duas corridas americanas, num terceiro carro, tal como tinha acontecido na McLaren.

Depois de um teste em Fiorano, onde fez a mesma tática de Silverstone e que Mauro Forgheri descreveu mais tarde como “desastrosa”, Enzo Ferrari disse: “Ele pode aprender aqui. Ele precisa de trabalhar muito. Você pode ver pela forma como ele entra numa curva que ele sabe o que está a fazer. Nós não devemos ser muito exigentes. Vimos todo aquele espectáculo em Silverstone e além disso ele foi-me referenciado por Wolf e por Amon”.

Esta referência não era uma qualquer. Alguns meses antes, Villeneuve tinha corrido num Dallara de Can-Am, inscrito pela Walter Wolf Racing. O seu director desportivo era Chris Amon, acabado de se retirar da competição, e Villeneuve correu em algumas provas, uma das quais com outra lenda da Ferrari: Jacky Ickx. O carro era horrível, mas Villeneuve conseguiu menorizar com boas performances, impressionando Amon, que o comparou a Jim Clark. Depois dessas performances, recomendou Villeneuve à Ferrari, e daí se poderia explicar o interesse vindo da Scuderia do Cavalino Rampante.

Poucos dias depois, Ferrari decidiu contratar Villeneuve por 75 mil dólares por ano, mais 15 mil para despesas com a família. Anos depois, Enzo Ferrari explicou a razão pelo qual contratou um piloto quase desconhecido na Europa: “Ele é o produto de uma aposta que eu fiz comigo próprio. Quando o contratei pensei que nunca ninguém seria capaz de por algum dinheiro nele. Todos nós sabemos que muitas vezes tomamos decisões na nossa vida baseadas em impulsos emocionais em vez de argumentos racionais. Todos me criticaram por ter contratado um ilustre desconhecido. Bem, já o tinha feito uma vez com Lauda e tinha dado certo e sendo assim deveria haver outros Laudas por ai. Eu gosto de pensar que a Ferrari sabe construir pilotos tão bem como sabe construir carros. Alguns diziam que Villeneuve era doido. Eu disse, vamos experimenta-lo.”

Villeneuve entrou na Ferrari em Mosport, palco do GP do Canadá, no carro que deveria ser corrido por Niki Lauda, mas que abandonou a equipa mais cedo, devido a desentendimentos. Alegadamente, o despedimento do seu mecânico Ermano Cuoghi foi a “gota de água” para o piloto austríaco. Villeneuve pegou no carro dele, mas não fez grandes feitos, ainda por cima, corria “em casa”. 17º nos treinos, a sua corrida acabou na volta 72, vitima de despiste quando passou pela mancha de óleo causada pelo Lotus de Mario Andretti.

Na corrida seguinte, no circuito de Fuji, no Japão, não fez melhor, ao partir do 20º posto, e na volta oito, estava encostado no Tyrrell de Ronnie Peterson, quando no final da recta da meta, os travões falharam e foi catapultado no ar, matando dois espectadores que estavam em zona proibida. Ambos os pilotos safaram-se sem ferimentos.

No inicio de 1978, Villeneuve era piloto oficial, ao lado do argentino Carlos Reutmann. Deu nas vistas na Argentina, ao fazer a volta mais rápida da corrida, mas as primeiras corridas desse ano foram uma sucessão de azares e desistências. A mais mediática tinha sido em Long Beach, onde depois de uma bela partida, dominou a corrida até que na volta 38, viu Clay Regazzoni à sua frente, prestes a perder uma volta. Villeneuve, afoito, tentou livrar-se do suíço o mais rápido possível, mas tentou a abordagem num sitio onde não cabiam dois carros, acabando ali a sua corrida.

Os primeiros pontos de Villeneuve foram alcançados com um quarto lugar em Zolder, na Bélgica, depois de uma performance impressionante, após sofrer um furo e recuperar do sexto posto e mais de 40 segundos de atraso subsequentes. A partir daí, as suas performances começavam a solidificar-se, bem como a sua adaptação ao carro. Até que em Zeltweg, palco do GP da Áustria, e debaixo de chuva, conseguiu chegar ao fim no terceiro posto, atrás do Lotus de Ronnie Peterson e do Tyrrell de Patrick Depailler.

Duas corridas depois, Villeneuve consegue em Monza a sua melhor prestação até aí, ao ser segundo classificado, atrás de Mario Andretti. Mas a corrida viria a ser marcada pelo desastre: devido à inexperiência com o sinal de partida electrónico, que iria ser experimentado naquele dia, a partida tinha sido confusa, com os pilotos de trás a arrancarem primeiro e houve uma carambola, causando ferimentos graves a Ronnie Peterson. Hora e meia depois, nova partida é dada, mas Andretti e Villeneuve antecipam-na e são penalizados em um minuto, logo, o segundo lugar do canadiano, quando recebeu a bandeira de xadrez, não contava.

No dia seguinte, Peterson estava morto devido a complicações derivadas dos seus extensos ferimentos. Um fragmento da medula óssea tinha entrado na circulação sanguínea, causando uma embolia.

Villeneuve não terminou na corrida seguinte, em Watkins Glen, devido a problemas de motor. Mas na corrida seguinte, na sua terra natal, iria acontecer no novo circuito da ilha de Notre Dâme, em frente a Montreal. Terceiro na grelha, perde um lugar para Jones, mas aos poucos apanha o australiano e o sul-africano Jody Scheckter, piloto da Wolf, mas que já tinha anunciado que iria para a Ferrari em 1979. Villeneuve era segundo na volta 19, e começou a atacar o líder, o francês Jean-Pierre Jarier, que corria como substituto de Ronnie Peterson na Lotus. Esperava que o azar nesse dia estivesse do lado dos outros e não dele, e conseguiu: na volta 50, Jarier abandona com um radiador furado, e Villeneuve simplesmente geriu a corrida até ao fim. Perante 70 mil espectadores, fazia história ao ser o primeiro piloto local a ganhar um Grande Prémio de Formula 1. "Foi o dia mais feliz da minha vida", afirmou depois. No final dessa temporada, o canadiano foi nono classificado na geral com 17 pontos, uma vitória e uma volta mais rápida.

(continua amanhã)

2 comentários:

Carlos Cezar disse...

Aguardando ansiosamente pela continuação. Conheço um pouco da história de Gilles, mas nunca é demais aprender mais um pouco.

Seu texto está excelente. Parabéns!

Fleetmaster disse...

Um de meus piltoso favoritos ! Belo post ! Parabens !