quarta-feira, 21 de abril de 2010

Grand Prix (terceira vez)

(continuação do capitulo anterior)

Na cama do hospital, enquanto curava as suas feridas fisicas e se preparava para a reabilitação, e recebia as visitas da sua mulher e de alguns dos seus amigos, aguardava com alguma ansiedade a visita de Izo Yomura, para falar sobre os planos para o futuro. Quando este apareceu, estavamos numa sexta-feira, a dez dias da corrida final, o GP do México, onde fisicamente não podia tentar o seu terceiro título mundial contra Bob Turner e a Jordan.

O velho Yomura era tipicamente japonês: tinha um rosto fechado, bigode cuidadosamente aparado, fato cinzento claro e gravata preta, para além de umas impecáveis sapatos pretos, bem engraxados. Longe iam os tempos do velho soldado que no final da II Guerra Mundial, quando regressou de casa, aproveitou os seus conhecimentos de mecânica para aproveitar as sobras de guerra e construir motociclos com o seu nome, no já distante ano de 1946. Nada mal, para quem somente acabou o liceu...

- Sr. Aaron, os meus respeitos. Como está?
- Tirando as minhas pernas, tudo bem. Espero sair do hospital dentro de dez dias.
- É bom saber disso, Sr. Aaron. Estou a torcer pela sua recuperação.
- Muito obrigado, Yomura-san. Diga uma coisa, como vão ser as coisas no México?
- No México? Em principio será com o Beaufort, mas não sei quem irei colocar no seu carro, Sr. Aaron.
- Não tem ideias? Eu não gostaria de ver o Pierre contra os Jordan de Turner e Bedford. Precisamos desse título, Yomura-san.
- Estou ciente desse problema, Sr. Aaron. Também pretendo sair da competição em alta e nunca envergonhado por esta derrota. Já tivemos muitas derrotas neste ano, Sr.Aaron. E já temos uma pessoa no cemitério por causa disso. Temi por si quando o vi no chão após o seu acidente em Watkins Glen.
- O que está feito, está feito, Yomura-san. E tenho que lhe dizer isto: não vou voltar a competir.

Ambos ficaram em silêncio por uns instantes. De cabeça baixa, Yomura-san estava a digerir estas palavras que lhe chegaram como se fosse um choque, mais um nesse seu ano dificil. Mas depois conformou-se, soltando um suspiro. Ergueu-a e disse:

- Aceito a sua decisão. Afinal de contas, também já me decidi que retirarei os meus carros no final da época.
- E o que vai fazer com eles?
- Em principio, irão para o museu da nossa companhia.
- E os seus mecânicos e engenheiros?
- Serão redirecionados para outros departamentos. São trabalhadores leais e dedicados, o que é bom para todos.
- É pena, gostaria de ter alguns deles.
- Porquê, sr. Aaron?
- Porque quando sair desta cama do hospital, vou construir a minha equipa de Formula 1, e dá sempre jeito ter alguns dos seus mecânicos! exclamou.

Izo Yomura sorriu, primeiro sem mostrar os dentes, e depois mostrando-os e soltando um ligeiro sorriso.

- Ainda bem que me vou embora. Não o queria como concorrente, afirmou.
- Mas gostaria de ter os seus motores.

Yomura ficou mais uma vez em silêncio. Sabia que mais cedo ou mais tarde este tipo de conversa iria acontecer, pois sabia que havia equipas que queriam os seus motores, e que sempre resistiu a isso, pois queria o exclusivo. E não tinha passado pela cabeça continuar somente como fornecedor de motores.

- A ideia é interessante, mas confesso que não estou inclinado para aí. Primeiro tenho de falar com os outros membros da administração, e depois tomaremos uma decisão. Mas como seu patrão e amigo, não contes com isso. A nossa ideia de retirada é total: carros, motores e mecânicos.

E depois de um instante de silêncio, disparou:

- Consegue-me indicar um bom piloto para o substituir no México?


(continua)

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