Esta semana quero esmiuçar o GP da China em Xangai, e particularmente os dois incidentes de corrida: Vettel vs Hamilton e Alonso vs Massa. Muitos consideram ambas as manobras como ilegais, e com potencial de causar tempestade no seio da Formula 1. No primeiro caso faz crescer a animosidade contra Lewis Hamilton, e no segundo caso, a personalidade de Alonso causou mais uma tempestade na Ferrari, mais uma no seio da Scuderia de Maranello. E ainda deixo uma palavra final para a McLaren-Mercedes.
Polémica na saída das boxes: pouco ético, mas não ilegal
Muitos não gostaram da manobra de Lewis Hamilton ao alemão da Red Bull, na saída das boxes, em que Hamilton encosta Vettel para não perder um lugar, num chuvoso GP da China, quando ambos tinham acabado de trocar de pneus. Na minha opinião, apesar da manobra não ser éticamente correcta, não é ilegal.
Creio que as pessoas habituaram-se mal às decisões tomadas pelos comissário num passado recente. A sensação que tenho é que querem, secretamente, banir Lewis Hamilton da competição. Não digo isto para inocentar o piloto inglês, porque eu sei que é um homem faminto por vitórias e títulos, só vive para aquilo. Mas gostaria que as pessoas se libertassem dos seus preconceitos e ódios para verem o piloto por si, e vissem que aquela agressividade natural em pista é isso mesmo.
Já tivemos no passado pilotos agressivos em pista. Ayrton Senna era um deles, e nos anos 80 não via os adeptos a pedirem para que os comissários o penalizassem por cada manobra. Ou se quisermos recuar um pouco mais, podemos falar de Gilles Villeneuve, que rendia caro cada manobra de ultrapassagem. Se fosse assim, a batalha de Dijon, há 30 anos, teria acabado com os dois pilotos banidos por algumas corridas. E acreditem, nesse tempo os pilotos arriscavam-se a morrer!
Nesta temporada, a FIA fez uma coisa boa: convida ex-pilotos para o lugar de comissários de pista, no sentido de julgar as atitudes dos pilotos do actual pelotão. São pessoas que correram nos anos 70, 80 e 90, e que viram ou realizaram, em muitos casos, manobras semelhantes a essa. Acho que as pessoas foram mal habituadas pelas decisões do passado, muitas delas absolutamente polémicas, como o duelo Hamilton vs Raikonnen, no GP da Belgica de 2008. Das duas uma: ou desejam o banimento do piloto, ou querem a proibição das ultrapassagens. Decidam-se!
Agora, claro, a manobra não deixa de ser polémica. Sabendo-se que há uma espécie de lei que pretende com que os pilotos esperem alguns segundos nas boxes caso haja carros a circular a menos de cinco metros do seu lugar, é certo que merece ser analisada, mas a punição só deve ser aplicada em caso flagrante. Como isto foi ambiguo, o melhor é deixar passar. Ou seja, a penalização não aconteceu por pedagogia. Mas Hamilton está a ser avisado para não forçar os limites, caso contrário...
Ferrari: Mais cedo ou mais tarde isto viria a acontecer.
Apesar de ambos terem dito que se iriam respeitar um ao outro, e de a Ferrari ter dito que não haveria favoritismos, toda a gente minimamente inteligente sabia que mais cedo ou mais tarde, o caractér de Alonso viria ao de cima. E veio um pouco mais cedo do que se pensava, e de forma totalmente inesperada: numa ultrapassagem à entrada das boxes.
É certo que Alonso prejudicou-se a si mesmo quando queimou a partida, sendo obrigado a uma passagem extra pelas boxes. E que a manobra aconteceu por erro do Felipe Massa. Mas o tempo intermitente na pista ajudou-o a minimizar os prejuizos e o seu estilo agressivo, no sentido de recuperar lugares perdidos, fazia com que não quisesse perder mais tempo. E creio que a decisão de parar naquela volta tenha sido pensada no momento, e não fora comunicada a Stefano Domenicalli. E logo se viu as consequências, quando os mecânicos da Ferrari foram buscar os pneus para o espanhol às pressas, prejudicando definitivamente a corrida do piloto brasileiro.
Podia não haver perferências, mas Alonso, não sei se sem querer ou de propósito, impôs essa perferência. E claro, resultou: o espanhol foi quarto ao cruzar a meta, enquanto que o brasileiro foi um discreto nono classificado, perdendo a liderança que tinha no campeonato. E se ambos foram politicamente correctos aos microfones de todo o mundo, nos bastidores as faíscas devem ter voado, com mais um imbróglio que Stefano Domenicalli e Luca di Montezemolo para resolver.
Mais uma polémica a juntar aos problemas dos motores... é que ainda temos isso. A cada fim de semana de corridas, há pelo menos um motor Ferrari rebentado, quer seja na marca, quer seja nas outras fornecedoras: Sauber e Toro Rosso. E como sabem, todas as equipas tem de usar um máximo de oito motores por temporada, sob pena de penalização na grelha de partida. Isso leva à conclusão de que a temporada de 2010 pode estar condenada ao fracasso por parte da Scuderia, mesmo se decidiam dar o estatuto de primeiro piloto ao espanhol, desejo de todos os alonsistas de Espanha. Digo "alonsistas" e não os verdadeiros fãs de automobilismo.
Uma palavra final para a McLaren
Acho engraçado ver que a McLaren tem uma dupla diferenciada, e no entanto, mais "harmoniosa" do pelotão. Jenson Button prova a cada corrida que o seu título de 2009 não foi um acaso, e que é o maior mestre de estratégia desde Alain Prost. Numa máquina que não é certamente a melhor do pelotão, Button já tem duas vitórias em quatro corridas e aproveita bem quer os erros dos adversários, principalmente à chuva, quer os "enguiços" da melhor máquina do pelotão, o Red Bull RB6. E é o comandante do campeonato, na altura em que a Formula 1 chega à Europa.
Quanto a Lewis Hamilton, apesar do ódio de boa parte dos fãs, o seu estilo agressivo, a lembrar Ayrton Senna nos primeiros tempos, está a render frutos. Ainda não ganhou corridas, é certo, mas é capaz de bater os seus adversários num dia bom. E como já demonstrou em 2009, é capaz de desenvolver o carro de um ponto baixo e tornar-se um piloto vencedor. É mais uma prova de que não é um piloto comum.
Agora deixo a pergunta: será esta dupla Button-Hamilton uma cópia da dupla Senna-Prost de 1988? Se sim, estou curioso para ver o final de época destes dois.
E pronto, por esta semana já disse tudo. Semana que vem tem mais, até lá.
Polémica na saída das boxes: pouco ético, mas não ilegal
Muitos não gostaram da manobra de Lewis Hamilton ao alemão da Red Bull, na saída das boxes, em que Hamilton encosta Vettel para não perder um lugar, num chuvoso GP da China, quando ambos tinham acabado de trocar de pneus. Na minha opinião, apesar da manobra não ser éticamente correcta, não é ilegal.
Creio que as pessoas habituaram-se mal às decisões tomadas pelos comissário num passado recente. A sensação que tenho é que querem, secretamente, banir Lewis Hamilton da competição. Não digo isto para inocentar o piloto inglês, porque eu sei que é um homem faminto por vitórias e títulos, só vive para aquilo. Mas gostaria que as pessoas se libertassem dos seus preconceitos e ódios para verem o piloto por si, e vissem que aquela agressividade natural em pista é isso mesmo.
Já tivemos no passado pilotos agressivos em pista. Ayrton Senna era um deles, e nos anos 80 não via os adeptos a pedirem para que os comissários o penalizassem por cada manobra. Ou se quisermos recuar um pouco mais, podemos falar de Gilles Villeneuve, que rendia caro cada manobra de ultrapassagem. Se fosse assim, a batalha de Dijon, há 30 anos, teria acabado com os dois pilotos banidos por algumas corridas. E acreditem, nesse tempo os pilotos arriscavam-se a morrer!
Nesta temporada, a FIA fez uma coisa boa: convida ex-pilotos para o lugar de comissários de pista, no sentido de julgar as atitudes dos pilotos do actual pelotão. São pessoas que correram nos anos 70, 80 e 90, e que viram ou realizaram, em muitos casos, manobras semelhantes a essa. Acho que as pessoas foram mal habituadas pelas decisões do passado, muitas delas absolutamente polémicas, como o duelo Hamilton vs Raikonnen, no GP da Belgica de 2008. Das duas uma: ou desejam o banimento do piloto, ou querem a proibição das ultrapassagens. Decidam-se!
Agora, claro, a manobra não deixa de ser polémica. Sabendo-se que há uma espécie de lei que pretende com que os pilotos esperem alguns segundos nas boxes caso haja carros a circular a menos de cinco metros do seu lugar, é certo que merece ser analisada, mas a punição só deve ser aplicada em caso flagrante. Como isto foi ambiguo, o melhor é deixar passar. Ou seja, a penalização não aconteceu por pedagogia. Mas Hamilton está a ser avisado para não forçar os limites, caso contrário...
Ferrari: Mais cedo ou mais tarde isto viria a acontecer.
Apesar de ambos terem dito que se iriam respeitar um ao outro, e de a Ferrari ter dito que não haveria favoritismos, toda a gente minimamente inteligente sabia que mais cedo ou mais tarde, o caractér de Alonso viria ao de cima. E veio um pouco mais cedo do que se pensava, e de forma totalmente inesperada: numa ultrapassagem à entrada das boxes.
É certo que Alonso prejudicou-se a si mesmo quando queimou a partida, sendo obrigado a uma passagem extra pelas boxes. E que a manobra aconteceu por erro do Felipe Massa. Mas o tempo intermitente na pista ajudou-o a minimizar os prejuizos e o seu estilo agressivo, no sentido de recuperar lugares perdidos, fazia com que não quisesse perder mais tempo. E creio que a decisão de parar naquela volta tenha sido pensada no momento, e não fora comunicada a Stefano Domenicalli. E logo se viu as consequências, quando os mecânicos da Ferrari foram buscar os pneus para o espanhol às pressas, prejudicando definitivamente a corrida do piloto brasileiro.
Podia não haver perferências, mas Alonso, não sei se sem querer ou de propósito, impôs essa perferência. E claro, resultou: o espanhol foi quarto ao cruzar a meta, enquanto que o brasileiro foi um discreto nono classificado, perdendo a liderança que tinha no campeonato. E se ambos foram politicamente correctos aos microfones de todo o mundo, nos bastidores as faíscas devem ter voado, com mais um imbróglio que Stefano Domenicalli e Luca di Montezemolo para resolver.
Mais uma polémica a juntar aos problemas dos motores... é que ainda temos isso. A cada fim de semana de corridas, há pelo menos um motor Ferrari rebentado, quer seja na marca, quer seja nas outras fornecedoras: Sauber e Toro Rosso. E como sabem, todas as equipas tem de usar um máximo de oito motores por temporada, sob pena de penalização na grelha de partida. Isso leva à conclusão de que a temporada de 2010 pode estar condenada ao fracasso por parte da Scuderia, mesmo se decidiam dar o estatuto de primeiro piloto ao espanhol, desejo de todos os alonsistas de Espanha. Digo "alonsistas" e não os verdadeiros fãs de automobilismo.
Uma palavra final para a McLaren
Acho engraçado ver que a McLaren tem uma dupla diferenciada, e no entanto, mais "harmoniosa" do pelotão. Jenson Button prova a cada corrida que o seu título de 2009 não foi um acaso, e que é o maior mestre de estratégia desde Alain Prost. Numa máquina que não é certamente a melhor do pelotão, Button já tem duas vitórias em quatro corridas e aproveita bem quer os erros dos adversários, principalmente à chuva, quer os "enguiços" da melhor máquina do pelotão, o Red Bull RB6. E é o comandante do campeonato, na altura em que a Formula 1 chega à Europa.
Quanto a Lewis Hamilton, apesar do ódio de boa parte dos fãs, o seu estilo agressivo, a lembrar Ayrton Senna nos primeiros tempos, está a render frutos. Ainda não ganhou corridas, é certo, mas é capaz de bater os seus adversários num dia bom. E como já demonstrou em 2009, é capaz de desenvolver o carro de um ponto baixo e tornar-se um piloto vencedor. É mais uma prova de que não é um piloto comum.
Agora deixo a pergunta: será esta dupla Button-Hamilton uma cópia da dupla Senna-Prost de 1988? Se sim, estou curioso para ver o final de época destes dois.
E pronto, por esta semana já disse tudo. Semana que vem tem mais, até lá.
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