domingo, 18 de abril de 2010

O homem cuja vida deu uma Ópera



Se estivesse vivo, Karl Jochen Rindt comemoraria hoje o seu 68º aniversário natalicio. A história da sua vida é fascinante: nascido na Alemanha, perde os seus pais com um ano de idade, no bombardeamento aliado em Hamburgo, e vai viver com os avós, uma próspera familia de Graz, na Austria, tera natal da mãe. Isso resultou num detalhe curioso: apesar de correr sob licença desportiva austriaca, no seu bilhete de identidade era cidadão alemão.

Começou a correr mesmo contra a opinião negativa dos avós, que queriam que seguisse o negócio de familia. O neto já tinha sido atingido pelo bicho das corridas, especialmente por causa de Wolfgang von Trips. Tinha um espírito livre e determinado, e na década de 60, provavelmente a mais agitada do século XX, esse seu espírito rebelde o fez elevar a herói de toda uma geração. A sua estreia na Formula 1 é com um Brabham da Rob Walker Racing, no aeródromo de Zeltweg, na Austria. A sua carriera começa e quase termina na Austria, pois foi aí que fez a sua última corrida completa, seis anos mais tarde e já como um nome consagrado na Formula 1. No meio disto tudo, venceu uma edição das 24 horas de Le Mans, ao volante de um Ferrari 250 LM, ao lado do americano Masten Gregory.

Começou uma onda no seu país, pois tornou-se um ídolo num país que antes dele, era conhecido por ser o sitio natal de Mozart ou Freud, para não falar de um certo senhor de bigode ridículo... Foi graças a ele que ajudou a colocar o seu país no mapa do automobilismo e abriu caminho a Niki Lauda, Helmut Marko, Gerhard Berger, Alexander Wurz... e provavelmente a própria Red Bull, pois o seu fundador, Dieter Mateschitz, é de Salzburgo. Era um homem que vivia obcecado por ser o melhor, mas que odiava as criações de Colin Chapman, o unico que o queria na sua equipa. A relação sempre foi tensa: quando estreou o Lotus 72, no fim de semana do GP de Espanha de 1970, não andou nem 300 metros com o carro, despistando-se, vítima de uma falha nos travões dianteiros, voicefrou: "Nunca mais piloto esta m**** de carro!" Mais tarde, deu-lhe quatro vitórias nesse ano... e tornou-se no seu túmulo automobilistico.

Algum tempo antes, no final de 1968, Jochen Rindt estava indeciso entre ficar na Brabham e rumar à Lotus, a convite de Chapman. Sabia que ir para lá significava que podia lutar verdadeiramente pelo título, mas que ficaria mais exposto que nunca a um acidente fatal, algo que nem Jim Clark escapou, e que Graham Hill escaparia por muito pouco. "Black Jack" Brabham aconselhou-o com a seguinte frase: "Se quiseres ser campeão do mundo, vais para a Lotus. Se quiseres ficar vivo, o meu conselho é ficares na minha equipa."

No Inverno de 1969-70, Rindt procurou alternativas à Lotus: tentou voltar à Brabham, mas Chapman, com o dinheiro da Imperial Tobacco (primeiro com a Gold Leaf, depois da John Player Special), dobrou a oferta, tentou ingressar na BRM, com o apoio da Goodyear, mas não conseguiu. E ainda sondou a novata March, que estaria disposta a construir a sua equipa somente à volta dele. Contudo, quando visitou as instalações da sua oficina, em Bicester, desistiu da ideia e conformou-se em manter mais uma temporada na equipa de Chapman.

Todas estas acções eram ajudadas pelo seu manager, um baixote inglês, então com 39 anos e um antigo piloto de competição que tinha prosperado a vender peças de automóveis. Tinha ideias mirabolantes para fazer vender a fama do seu piloto. Chegou a fazer um circo à sua volta, no sentido de atrair publicidade, televisão e patrocinadores, outra ideia recém chegada á Formula 1. Mesmo depois da sua morte, continuou a fazê-lo para outras coisas, comprando a Brabham apóis a partida do seu fundador para a Austrália. Seu nome? Bernie Ecclestone.

Detestava as asas nos carros. Tanto mais que quando chegou a Monza, e Chapman mandou tirá-las, ele concordou. "Sem as asas faço mais 800 rpm nas retas, e sem ir no vácuo de outro". Mas não fora isso que causaria o seu acidente fatal. Foi mais uma falha nos travões, que o levou a despistar-se e bater de frente contra um pilar de ferro nos rails de protecção. E para além deste azar, mais outro: só estava unido em dois pontos do seu cinto de segurança, pois temia acabar queimado vivo, se estivesse preso pelos quatro pontos, pois isto era então uma novidade nos carros.

Ao vermos os seus feitos e o destino que teve, aquela situação unica de ser campeão depois de morto, ficamos com a certeza de que a sua vida daria um filme de Hollywood. O resultado é melhor: resultou numa Ópera.

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