Na semana em que a Pirelli foi escolhida para ser o fornecedor único da Formula 1 a partir de 2011, a Lotus vai comemorar este fim de semana o 500º Grande Prémio da sua história. Uma marca rara para uma equipa, especialmente para um nome mítico do automobilismo, que faz este ano o seu regresso à categoria máxima do automobilismo.
Li as resistências de alguns ditos "puristas", afirmando que aquilo é uma espécie de equipa travestida, não tendo nada a ver com a firma fundada por Colin Chapman, que regressou à categoria máxima do automobilismo após dezasseis anos de ausência. Para mim isso representa a teimosia de alguns em viver agarrados a uma certa nostalgia, desligados completamente da realidade e pior, não ter qualquer noção da História. Porque existem imensos exemplos espalhados, dos quais ninguém reclamou nem na altura, nem agora.
E digo que são os cegos do pior tipo pois mesmo sabendo que esta nova equipa, liderada pelo malaio Tony Fernandes, ajudado pela Proton, que por sua vez salvou a Lotus Cars da falência, há cerca de dez anos, quer e deseja preservar a tradição da marca de Colin Chapman. Para além disso, têm a anuência do filho de Clive Chapman, o filho de Colin, e da víuva Hazel. E ainda por cima estão em Norfolk, não muito longe da sede da Lotus Cars. Em suma, a Proton e Fernandes fizeram tudo nos conformes para resgatar essa tradição, e não digo que a desbarataram porque ainda é cedo para dizer alguma coisa, mas das novas equipas, é a que esta a trabalhar melhor. E o potencial de crescimento e enorme, com Mike Gascoyne a projectar e desenvolver o chassis.
Acho que eles tem esse cuidado de preservar a tradição, ao contrário de outros exemplos no passado. A Ferrari, Brabham e a McLaren também mudaram de mãos no passado e os novos donos souberam preservar a herança anterior, mesmo que o Tio Bernie a tenha usado para os seus propósitos, e Ron Dennis, após ter lá chegado, tenha minimizado a herança de Bruce e construído a sua carreira de sucesso, que acabou por dar uma segunda vida de sucessos à equipa.
Em suma, digo que esta nova Lotus tem tanta legitimidade em usar o nome e honrar o trabalho de Colin Chapman do que as outras. Eles tem a legitimidade de comemorar em Valência o seu 500º Grande Prémio de Formula 1 porque são os seus continuadores, tão continuadores como Ron Dennis ou o Grupo FIAT, com Luca di Montezemolo ao comando. Os nomes e as suas reputações não devem morrer assim que os seus fundadores morram ou se afastem do seu projecto de vida. Eles existem para que outros as peguem quando a vida não os poder mais. Aliás, nesta Formula 1 actual, a tradição começa a ser algo para esquecer, especialmente com a curta duração das equipas no "paddock"...
Em jeito de conclusão, dou os parabéns a eles, esperando que consigam no final do ano os seus primeiros pontos no regresso à competição.
Sobre a última declaração de Bernie Ecclestone...
Bernie Ecclestone, que faz 80 anos em Outubro, disse mais uma vez à imprensa que não vai se reformar da Formula 1 enquanto for vivo. Pode-se dizer que é uma declaração de vitalidade do homem que mexe os cordelinhos da Formula 1 desde os anos 70 e que mudou a face da competição, transformando-o de um desporto a um produto, vendido a cada quinze dias a centenas de milhões de pessoas pelo mundo inteiro.
É certo que criticamos veementemente as suas opções de levar estes carros para as areias do deserto e para paragens asiáticas, sem quaisquer tradições automobilísticas, e transformar os circuitos em algo sem sabor, modificados por um gabinete de arquitectura alemão, que em regime de monopólio, dita que tipo de circuitos eles devem ter, eliminando o risco ao mínimo, a bem do espectaculo, e à custa de 500 milhões de dólares ao ano.
Hoje em dia, a Formula 1 é uma elite, é certo. Os pilotos são cada vez mais inacessíveis, as pessoas estão cada vez mais distantes dos pilotos e as boxes fazem mais lembrar "halls" de aeroporto ou enfermarias de um grande hospital. Com Ecclestone, a Formula 1 tornou-se ainda mais rica e ainda mais popular no mundo, mas tem um preço a pagar. Com os custos a aumentar exponencialmente, aos poucos transforma-se em algo parecido com o polo ou o boxe: se quiseres ver, tens de pagar. Literalmente. Aos poucos, na Europa, por exemplo, são as emissoras de desporto pagas que detêm os direitos de transmissão das corridas, sendo que começam a ser poucos os países cujas emissoras transmitem em sinal aberto. E a tendência é para diminuir...
É certo que a Formula 1 é mais uma máquina de fazer dinheiro do que uma competição pura e dura, onde os regulamentos são cada vez mais fechados, em nome de uma competitividade cada vez mais artificial, devido à alta dependência das pessoas pela aerodinâmica.
Para o mal e para o bem, o facto da Formula 1 se ter tornado extremamente popular deve-se ao Tio Bernie. Conseguiu o que queria e lucrou enormemente com isso. É um dos mais ricos homens do Reino Unido e continuará a ser, apesar do acordo milionário de divórcio com Slavica, a sua mulher 28 anos mais nova do que ele. E apesar de só estar aqui pelo dinheiro, o facto de não ter largado a Formula 1 após estes anos todos significa que no fundo, ama o automobilismo. E as suas declarações são mais uma prova de amor e afecto pela modalidade.
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