Passaram-se duas semanas sobre a corrida belga, quando máquinas e pilotos voltaram a encontrar-se no circuito holandês de Zandvoort, para disputar o GP da Holanda, a quinta prova do campeonato do Mundo. Nestas duas semanas, aconteceram inúmeras novidades no pelotão da Formula 1.
Ken Tyrrell finalmente encontrara o substituto para Johnny Servoz-Gavin no segundo lugar da sua equipa, que corria com chassis Matra. O seu escolhido continuava a ser francês, e tinha fama de piloto talentoso e rápido, mas pouco consistente. Contudo, quer Tyrrell, quer Stewart viam-no como um piloto de futuro. E esse escolhido, então com 26 anos, chamava-se Francois Cevért. Mas estes não eram os únicos chassis March presentes. Havia os dois carros oficiais, para Jo Siffert e Chris Amon, e havia o March privado do sueco Ronnie Peterson. Em suma, na Holanda estavam cinco chassis dessa marca na lista de inscritos.
A McLaren estava de volta às pistas, depois de chorar a perda do seu fundador, Bruce McLaren. Dennis Hulme decidiu tomar conta da equipa, embora nas boxes quem comandava as operações era o americano Teddy Mayer. Mas Hulme não podia correr, pois ainda estava magoado nas mãos, devido ao seu acidente em Indianápolis. Para o lugar do neozelandês ia o americano Dan Gurney, um já veterano piloto, com os seus 40 anos de idade, e a cuidar da sua Eagle, agora somente a competir nos Estados Unidos. No lugar de McLaren, chegava o inglês Peter Gethin, que também fazia a sua estreia na categoria máxima do automobilismo. Para além da dupla oficial, John Surtees também estava de volta com o seu McLaren privado, e o italiano Andrea de Adamich também estava presente, no seu carro com motor Alfa Romeo.
A Ferrari continuava com dois carros, mas desta vez, ao lado de Jacky Ickx não estava Ignazio Giunti, mas sim um ítalo-suiço de 30 anos, cuja rapidez e talento para dar e vender na Formula 2 já tinha sido demonstrava. O nome dele era Gianclaudio “Clay” Regazzoni. Contudo, Regazzoni e Siffert, no seu March, não eram os únicos suíços na lista de inscritos, pois Sílvio Moser estava de volta com um projecto próprio: o Bellasi, que tinha como base um dos chassis Brabham que tinha usado no ano anterior.
Na BRM, para além de Pedro Rodriguez e Jackie Oliver, voltaram a inscrever um terceiro carro, desta vez para o canadiano George Eaton, que também voltava depois de duas não-qualificações consecutivas e a ausência no GP da Belgica. A Lotus tinha Jochen Rindt e John Miles nos seus modelos 72, enquanto que Graham Hill e o americano Pete Lovely conduziam cada um o seu modelo 49, o primeiro inscrito pela Rob Walker Racing Team, e o segundo na sua equipa pessoal.
A Brabham tinha o seu único carro oficial, para Jack Brabham, enquanto que Rolf Stommelen corria no segundo chassis, mas como inscrição privada. Os Matra traziam Henri Pescarolo e Jean-Pierre Beltoise e por fim, Piers Courage corria no seu De Tomaso inscrito por Frank Williams.
Nos treinos, o melhor foi Rindt, que por fim conseguiu tirar o potencial do modelo 72, dando a primeira pole-position deste modelo. Logo a seguir ficou Jackie Stewart, no seu Matra, enquanto que na segunda fila estavam o Ferrari de Ickx e o segundo March de Amon. Jackie Oliver era o quinto a largar, tendo a seu lado o novato Regazzoni, que não só demonstrava a sua rapidez, como a sua adaptabilidade no chassis Ferrari. A quarta fila tinha o segundo BRM de Rodriguez e o segundo Lotus de John Miles, e para fechar o “top ten” estavam o De Tomaso de Courage e o Matra de Beltoise.
Na Holanda, dos 24 pilotos inscritos, somente 20 podiam alinhar na corrida. O Bellasi de Moser, o Brabham de Stommelen, o Lotus de Lovely e o McLaren de De Adamich não conseguiram tempo suficiente para escapar à não-qualificação. Quanto aos estreantes, já vimos que Regazzoni foi sexto na grelha. Gethin foi o 11º e Cevért conseguiu o 15º posto. A ultima fila tinha dois honráveis veteranos: Dan Gurney, no seu McLaren, e Graham Hill, no seu Lotus. A soma das suas idades superava os 80 anos, e a experiência acumulada era superior a 200 GP’s… numa altura em que poucos eram os que sobreviviam mais do que cinco temporadas, o feito destes dois pilotos era louvável.
Contudo, estes treinos ficaram marcados por dois grandes acidentes. O primeiro foi com Jack Brabham a perder o controlo do seu carro e a capotar, ficando de cabeça para baixo, e o segundo foi com o BRM do recente vencedor do GP da Bélgica, o mexicano Pedro Rodriguez. Ambos saíram destes acidentes sem ferimentos de maior e alinharam na corrida do dia seguinte.
O dia da corrida calhou, coincidência das coincidências, com a final do Campeonato do Mundo, na Cidade do México. Para que os espectadores pudessem ver brasileiros e italianos a digladiarem-se no Estádio Azteca, no México, ambos em busca de um tricampeonato e a posse definitiva da Taça Jules Rimet, a partida do Grande Prémio fora antecipada. O tempo em Zandvoort era nublado, mas não haveria sinais de chuva. A partida começa com o March de Amon parado na pista, com uma falha na embraiagem, com todos a conseguirem evitar o choque. O Ferrari de Ickx estava na frente, com Rindt, Oliver e Stewart logo atrás, e tinham cavado uma boa vantagem para o quinto classificado, o Lotus de Miles.
Na segunda volta, Rodriguez consegue passar Miles e parte em busca do quarteto da frente, e na volta seguinte, Rindt consegue superar Ickx para alcançar a liderança. Entretanto, Stewart passa Oliver e o seu companheiro Rodriguez preparava-se para alcançá-lo. Outro que se tentava chegar à frente era Regazzoni, que impressionava na sua primeira corrida. Caindo para o nono posto na primeira volta, recuperou a forma e passou Miles, Courage e Beltoise para ficar com o sexto lugar, e estava no encalço de Oliver. Courage tentava acompanhar Regazzoni, e tinha passado Miles, ficando com o sétimo posto.
Ao final da 20ª volta, as coisas tinham-se acalmado em termos de trocas de posições: Rindt era o líder, seguido de Ickx, Stewart, Oliver, Rodriguez, Regazzoni, Courage e Miles. Contudo, na volta 23, o desastre acontece: Courage sofre um furo lento e despista-se na Curva Schleivak, e o seu carro colide com um banco de areia e um poste, capotando e arrastando-se pela pista por algumas dezenas de metros. O seu chassis, feito de magnésio, um metal leve, mas volátil, pega fogo com o piloto lá dentro. Pouco se pode fazer para salvá-lo, e em 19 dias, a Formula 1 sofria o seu segundo acidente mortal entre os seus pilotos.
Sem saberem do desastre que tinham entre mãos, Rindt continuava na frente, com Ickx atrás. Contudo, este sofre um furo e tem de ir às boxes para trocar de pneus, atrasando-se na classificação. Contudo, regressou à corrida disposto a recuperar algum dos lugares perdidos, e conseguiu passar o seu companheiro Regazzoni e ficar com o terceiro lugar.
Mas ao final de 80 voltas, Rindt dava à Lotus a segunda vitória do ano, e a segundo para Rindt, mas sobretudo era a primeira vitória de sempre para o modelo 72. Stewart fora segundo, com o seu March, e o único a ficar na mesma volta do vencedor, enquanto que Ickx ficava com o lugar mais baixo do pódio. Clay Regazzoni era o quarto, outro excelente resultado na sua estreia na Formula 1, e nos restantes lugares pontuáveis ficavam o Matra de Beltoise e o McLaren de Surtees. Contudo, toda esta festa ficava definitivamente assombrada por mais uma morte em pista de alguém que lhes era querido. Courage era amigo pessoal de Rindt, e consta-se que ao saber do que tinha acontecido, tomou a decisão (e guardou para si próprio) de se retirar no final da época, caso fosse ou não Campeão do Mundo.
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1 comentário:
História ESPETACULAR. Parabéns pelo seu blog, um legítimo registro do mundo automotivo.
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