quarta-feira, 23 de junho de 2010

Grand Prix (capitulo 24, Que Viva México!, parte dos)

(continuação do episódio anterior)

No momento da partida, os carros lançaram-se numa longa recta que parecia não acabar, ao que se segue uma curva feita à direita, primeiro feita de forma suave, que depois se apertava. Após isso, outra recta, um pouco mais curta, que acabava num "hairpin", assinalando ali a primeira parte do circuito.

No final da primeira volta, Beaufort mantinha a liderança, mas logo a seguir estava o BRM de Solana e o Eagle de O'Hara, que superara o Jordan de Bob Turner. De uma certa forma, o irlandês conseguira intrometer-se na luta pelo título entre os três pilotos, Já que Bruce McLaren estava atrás de Turner, e com intenções de o ultrapassar na recta. E assim foi, pois ao assumir o quarto posto, estava a fazer uma tática de puxar ao máximo, no sentido de chegar à frente e ter hipóteses para alcançar o título, pois bastava-lhe, no mínimo, sete pontos para se sagrar campeão.

Já Beaufort mantinha-se na liderança, pois era isso que precisava para comemorar o campeonato. Mas tinha de chegar ao fim para comemorar o feito. Contudo, tinha o BRM de Solana a pressioná-lo, pois queria mostrar serviço à frente do seu público natal, que acorreram em massa para o ver.

Nas boxes, Pete via tudo da beira. Assinalava as voltas e as diferenças com a placa que segurava na mão, enquanto que a sua mulher Pat e a irmã de John, Sinead, tiravam os tempos dele e dos outros. Analisavam os tempos e verificavam o andamento da corrida. Ele via que Turner e McLaren puxavam, enquanto que Beaufort estava numa atitude dita normal, pois estava numa posição mais favorável em relação aos outros. Mas sabendo ele que os carros respiravam pior em altitude, tinha consciência que caso um dos candidatos desistisse, seria o fim.

McLaren puxava pelo seu carro, para apanhar e superar O'Hara. Ao ver os tempos, Aaron viu que McLaren conseguia ser meio segundo mais rápido do que o seu piloto sabia que o ia superar. E foi o que aconteceu no final da décima voltam, após a temida Curva Peraltada, McLaren saiu melhor que O'Hara e conseguiu ultrapassá-lo, partindo em busca de Solana, o segundo classificado. O'Hara tinha agora de manter a distância perante Bob Turner, que estranhamente nesta corrida não conseguia apanhar nenhum dos seus adversários. Parecia que estava numa espécie de jogo de espera...

Se sim, este teve os seus frutos no final da volta 24, quando nas boxes não se viu a passagem do carro laranja. As pessoas interrogaram-se sobre o seu paradeiro, mas pouco depois começou-se a ouvir que estava parado na recta oposta à meta, não muito longe da Peraltada. Quando a informação estava a chegar aos ouvidos de Pete, o speaker do circuito anunciou: "O carro de Bruce McLaren está parado na berma da recta oposta, vitima de ao que aparenta ser um motor partido".

De facto, nos momentos em que antecederam a desistência, um fumo branco saiu da traseira do seu carro, abrandando drasticamente a marcha. Sabendo disto, o piloto neozelandês, que já tinha o BRM de Solana no seu horizonte, encostou-se na berma à direita, saiu do carro e rumou às boxes. A sua candidatura ao título terminava ali.

Pete soube e reagiu:

- Menos um candidato. Agora é entre o Bob e o Pierre. E o francês está mesmo na frente, caramba!
- Achas que ele ganha? perguntou Pat.
- Só no fim é que saberemos. Mas ele tem as cartas na mão, respondeu.
- E o meu irmão?
- Pelos vistos, está tudo bem, afirmou Pete. Até pode ser bom sinal para o final da corrida.

Mesmo com a desistência de McLaren, Bob Turner parecia não conseguir apanhar ninguém. Nem mesmo O'Hara, que estava dez segundos à frente de Bob, e a cada volta que passava, perdia algum tempo. Em poucas voltas, tinha o BRM de Molina nos seus escapes, ameaçando o seu quarto posto. E quando passou na meta pela 35ª vez, todos começaram a ouvir um barulho estranho. Parecia que a sua marcha tinha ficado presa num elemento qualquer e não passava dali. E poucos metros adiante confirmou-se quando Molina o passou com uma espantosa facilidade. Bob Turner debatia-se agora com a caixa de velocidades presa na quarta marcha, e parecia ser incapaz de reduzir. Tinha perdido a terceira e passava por dificuldades. Começava o seu calvário na corrida.

Pela mesma altura, Solana estava em cima de Beaufort, mas não o atacava na liderança. O ritmo era calmo, o que permitiu a aproximação de O'Hara, e os três ficaram com cerca de cinco segundos de diferença, e eles estavam já a mais de vinte e cinco segundos de Molina, que por sua vez tinha agora o francês Carpentier, que também ultrapassara um cada vez mais problemático Bob Turner.

Quando na volta 38 se viu um Jordan negro e dourado parado na berma, pensava-se que era ele, mas afinal era Bob Bedford, que parava devido, também, a um problema de motor. Mas não tiveram de esperar muito, quando na volta 40, Turner chegou à boxe, parou o carro e saiu do cockpit. A sua corrida tinha sido boa, mas não chegou. Iria haver um novo campeão do mundo, e não seria Bob Turner, nem guiaria um Jordan.

Na passagem seguinte, nas boxes da Matra, um elemento da marca francesa colocava entre o contente e o exultante, a placa a dizer TUR OUT e começava a festejar aquilo que poderia ser um inédito título francês. E na volta 46, colocou outra placa a dizer SLOW quando passou o carro azul pela recta, no sentido de o levar inteiro até ao fim, e de preferência nos pontos.

Aos poucos, Beaufort abaixou o ritmo e ambos os seus adversários ficaram à vista. De repente, Pete pega na placa a a ordem para O'Hara aumentar o ritmo e atacar os outros dois. Sinead e Pat viram e perguntaram a razão. Ele disse:

- Acho que podemos ter aqui uma chance.

Imediatamente, O'Hara aumentou o ritmo e tentou passar Solana. Este reagiu, também aumentando o ritmo e tentando ambos apanhar Beaufort. O francês foi alcançado na volta 54 e não resistiu ao maior ritmo dos dois, deixando-os passar, já que ele estava a mais de 35 segundos do seu companheiro Carpentier, dado que Molina tinha abandonado com uma ruptura no tubo de combustível, a meio da 50ª volta.

O duelo estava bom de se seguir. Ambos não ficavam mais distantes do que um segundo, dado que a potência do motor V12 nas rectas era compensada com a velocidade e habilidade do Eagle em curva. O duelo animava as bancadas, que vibravam à passagem do seu ídolo pela recta da meta, à frente do Eagle. Mas a potência gerada pelo motor não era suficiente para o afastar, e ele ganhava nas curvas, especialmente as mais lentas. À medida que o fim se aproximava, a incerteza crescia, pois não se sabia se Solana aguentava a pressão, ou se O'Hara conseguiria a sua chance.

E na volta 63, à saída do hairpin, uma curva feita em primeira marcha, Solana perde tempo precioso ao não conseguir engatar a segunda. Tinha acabado de a partir, e tinha de meter a terceira para voltar a andar. Mas esse foi o momento em que O'Hara passou para a liderança, pela primeira vez um Apollo estava no comando de um Grande Prémio. Quando viu a passar no primeiro lugar, Pete, Pat, Sinead e os mecânicos exultavam um "Yes", ao mesmo tempo que se ouvia um bruáá nas bancadas, tamanha era a desilusão de ver esvair a hipótese de vitória de um piloto local. Contudo, nem tudo estava perdido, pois ele conseguira continuar, e iria acabar a corrida na segunda posição.

Quando a bandeira de xadrez foi mostrada para o carro verde e branco, um exultante Pete abraçava a Pat e depois a Sinead. Os mecânicos explodiam de alegria, enquanto que um deles fazia o sinal de vitória com uma mão, e com a outra segurava a placa a dizer P1. Momentos depois, Solana passava no segundo posto e a festa maior acontecia quando Beaufort cruzava a meta na terceira posição, como o novo campeão do mundo. Naquela tarde todos estavam contentes, pois vira-se algo inesperado: um ex-piloto, construtor que não Bruce McLaren, vencia um Grande Prémio. Era a primeira vitória para todos: construtor, director e piloto. Um dia em cheio. E claro, para Beaufort e a Matra: o sonho francês tinha sido concretizado: eram campeões do mundo!

Sinead chorava de alegria, e quando o seu irmão saiu do carro foi o primeiro a abraçá-lo, primeiro até que Pete. Ele estava com um sorriso rasgado e afirmou: "Que dia! Que dia!"

John tirou o capacete, e assaltado por tudo e todos, afirmou:

- Sou um homem feliz. Consegui algo que não esperava conseguir tão cedo, mas estou feliz.

Sinead distribuia beijos a todos. A Pete, Pat, aos mecânicos e dizia:

- Tenho de ligar à mãe e ao Tio Arthur. Eles ficarão felicíssimos.

Quanto a Pete, interrogado por um jornalista sobre o resultado, respondeu:

- De facto, esta vitória foi inesperada, pois o projecto só vai arrancar realmente no próximo ano, com o nosso próprio chassis. Por isso, mais do que uma vitória minha ou do John, esta é também uma vitória do meu amigo Dan Gurney, pois foi ele que desenhou o chassis e foi a ele que fui comprá-lo e a adquirir a estrutura existente. De uma certa forma, parte desta vitoria se deve a ele.
- E agora, o que vai ser para o ano?
- Será melhor, se tudo correr bem. Aí já teremos dois carros para cuidar, e se possível, incomodar os outros.

Pouco depois, John O'Hara, Teodoro Solana e Pierre de Beaufort subiam ao pódio para receber a coroa de louros, o troféu, entregue por uma menina com a faixa a dizer "Miss Gran Premio del Mexico" e a beijou logo de seguida, e depois a garrafa de champanhe. Fez-se silêncio para ouvir o hino da Irlanda e quando a cerimónia terminou, levou a garrafa para ser aberta na boxe e a abriu à frente do grupo, exultantes pelo resultado. Beaufort apareceu para dar os parabéns pela vitória, ao que trocaram cumprimentos pela sua vitória no campeonato.

E assim, em festa nas duas boxes, terminava a temporada de 1969, sabendo toda a gente que a temporada que viria a seguir iria ser tão emocionante como esta...

(contiua)

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