sábado, 7 de agosto de 2010

A entrevista a David Richards

O regresso da Mini aos ralis, confirmado esta semana pela BMW depois de varios meses de especulação, representa também o regresso de cena da Prodrive e de David Richards, que depois do final do projecto Subaru, no inicio de 2009, andava um pouco fora dos holofotes, depois de tentar entrar na Formula 1 e de se dedicar à Le Mans Series, com os Aston Martin a gasolina, marca que adquirira por essa altura por pouco mais de 650 milhões de euros.

Numa entrevista à Radio WRC, Richards explicou como decorreu o processo de escolha do modelo para o regresso ao WRC e como está a decorrer o desenvolvimento do mesmo para o ano que vem. Quanto à confiança do antigo navegador de Ari Vatanen nos tempos da Ford, essa, é inabalável.

O projeto MINI marca o regresso da Prodrive ao WRC, depois da Subaru ter abandonado em 2008. Como manteve a equipa no ativo durante estes dois anos?

"Tivemos pessoas muito talentosas na equipa e sabíamos que se não fizéssemos algo de imediato elas desapareceriam para outras áreas. Algumas, de facto, foram embora, mas a maioria esteve ocupada de outros projetos. O objetivo agora é desenhar o melhor carro de ralis de acordo com as regras.

A forma tradicional de construir um carro de rali acontece quando um construtor nos pede para fazer um carro com um determinado produto. Contudo, nós pegamos nas novas regras e dissemos: 'Como seria o melhor carro?'
Portanto, optamos pelo inverso. Em março de 2009 tínhamos onze possíveis carros alvo e fomos falar com os construtores."

Então o MINI assume-se como um bom carro para levar o "tratamento WRC"?

"Ironicamente o MINI não estava nessa lista porque o carro, tal como o conhecíamos, era demasiado pequeno e não encaixava nas regras. Mas, durante as discussões com a marca, foi-nos dito que existia um carro maior em desenvolvimento - o Countryman de quatro portas - que passou diretamente para o topo da nossa lista. Primeiro, porque era perfeito em termos de dimensões e configuração, e segundo, porque é um ícone dos ralis."

Quando começaram os trabalhos no Countryman?

"Em julho de 2009 reduzimos a lista a três construtores e a três produtos que julgámos adequados e, ao mesmo tempo, continuamos a trabalhar em elementos comuns do projeto, como um novo tipo de coluna de direção e de amortecedor. Foi a primeira vez que tivemos tempo de fazer estas coisas de forma metódica e lógica.

Em dezembro já tínhamos decidido que iríamos trabalhar com a MINI e eles deram-nos alguma informação sobre o carro, com a qual começamos a trabalhar. Portanto, já estamos a trabalhar no carro, em si, há nove meses e, tirando a parte mecânica, o primeiro carro já está pronto."

Quando é que a BMW Motorsport vos vai entregar o primeiro motor?

"As regras da FIA, em termos de turbocompressor e outros detalhes mecânicos, foram adiadas, mas esperamos ter os primeiros motores em meados de agosto. No fim desse mês iniciaremos os primeiros testes ao carro."

E quando estará o carro pronto para correr?

"Normalmente são precisos cerca de seis meses antes de terminar o processo de desenvolvimento, a homologação, a produção de sobresselentes e ter a certeza que está tudo em condições. Só iremos competir antes de meados do próximo ano.

No próximo ano vão enfrentar construtores estabelecidos no WRC como a Ford e a Citröen. Como acha que se vão sair?

"Nunca subestimaríamos o poder da concorrência, mas fizemos tudo de forma metódica. Sabemos, por experiência própria, o que é preciso para ganhar e temos a colaboração da BMW Motorsport na parte mecânica, portanto não temos ilusões relativamente à tarefa em mãos e quão bom tem de ser o carro.

Mas o MINI, enquanto carro, já é um produto soberbo e este novo Countryman é um produto muito bom e, com base nele, vamos construir um carro muito especial."

Vão vender o carro a equipas privadas?

"Claro. Fizemos isso com a Subaru no passado e vender carros a clientes é algo que continuaremos a fazer com este programa. Já temos algumas encomendas de clientes atuais, aos quais temos de dar prioridade, mas esperamos produzir um destes carros a cada 15 dias.

Os carros privados serão idênticos aos que nós mesmos vamos fazer correr no WRC. Tal comporta algumas vantagens, pois deixa-nos mais desafogados economicamente e dá-nos outro ponto de vista do desenvolvimento do carro, seja qual for o ponto do globo onde ele corra."

Já selecionaram os vossos pilotos de teste?

"O que não faltam são candidatos. Mas, os testes iniciais srão levados a cabo pelos nossos engenheiros e por um pequeno grupo de pilotos de teste que costumamos usar aqui na Grã-Bretanha. A maioria destes testes irá decorrer entre agosto e Setembro. Mas, quando começarmos os testes mais a sério em Espanha e Portugal já devemos ter contrato com um ou dois pilotos."

E quanto aos vossos pilotos de fábrica. Nomes como Markko Martin ou Marcus Gronholm têm sido ligados à MINI.

"O Markko já trabalhou connosco no passado e o Marcus é um bom amigo, que fez o Rali de Portugal em 2009 num carro nosso. Mas também há por aí jovens talentos e penso que devemos tomar alguns riscos.

No passado, não fomos sucedidos através de decisões seguras.
Contratamos McRae quando ninguém acreditava nele e vejam o que aconteceu. E pegamos no Richard Burns e levámo-lo ao título. É isso que queremos voltar a fazer, a MINI está focada no futuro."

Há hipótese de contratarem um britânico?

"A MINI é uma marca internacional e nós precisamos dos melhores pilotos, mas eu adorava ver um britânico na equipa. Afinal de contas, foi Paddy Hopkirk que conseguiu as últimas vitórias da MINI, não seria fantástico ver um piloto britânico a repetir esse feito? Mas vamos com calma, o nosso programa só começa, em pleno, em 2012, portanto temos tempo ainda."

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