16 de Abril de 1970, Madrid.
Nos últimos dias, os olhares do mundo estavam virados para as televisões, jornais e rádios, para saberem das novas sobre a sorte dos astronautas da Apollo 13, que transformara aquilo que deveria ser uma missão de rotina em algo parecido com uma catástrofe, com os três a lutarem pela sobrevivência enquanto vagueavam pelo vácuo espacial, numa luta pela sobrevivência. Mesmo estando em Madrid, Pete tinha na sua mão um exemplar do The Times de Londres, que tinha comprado na banca em Heathrow, antes de embarcar no vôo de duas horas rumo a Madrid, para acompanhar os seus pilotos, mecânicos e carros para o GP de Espanha, segunda prova do ano.
Pete trazia os dois carros oficiais, mais um terceiro carro pertencente ao Real Autómóvel Clube Sildavo, o Eagle de Augusto de Monforte, já devidamente pintado com as cores do país e com o escudo do Automóvel Clube. O seu presidente iria visitá-lo no fim de semana nas boxes, para abrilhantar a estreia do seu compatriota na categoria máxima do automobilismo. Tirou-se umas fotos de divulgação nos jornais e revistas no inicio da semana, mas a verdadeira apresentação iria ser em Jarama.
Tudo o resto já se delineava nesta segunda prova do ano. Oficialmente, a Apollo tinha dois carros oficiais, tal como a Ferrari, BRM, Jordan e Matra, mas não a McLaren, que tinha três, um deles com o Lamborghini flat-12 para o regressado John Hogarth. Para além disso, havia mais dois Jordan privados da Ecurie Holmgren, de Harry Temple, o Eagle de Monforte, apoiado pela Apollo. E havia mais apoios, especialmente dois chassis da Jordan e dois da McLaren, comprados por entusiastas um pouco por toda a Europa, um deles era da nobreza. E de Espanha.
Ao todo estavam vinte carros presentes em Jarama. E isso era outro problema a ser resolvido, porque... a Federação Espanhola e a organização não tinham dinheiro para tantos carros. Só podiam pagar a presença de dezasseis carros, e tentou-se pedir mais dinheiro para acolher os excedentes, só que fora recusado. E tinham tido muita sorte, pois durante a semana se falava na hipótese de um regresso da Cooper...
- Ay caramba, como é que vou resolver isto? questionava Don Arturo Calderon, o presidente da Federação e o homem que segurava a bandeira no momento da partida do Grande Prémio.
- Tem calma, arranja-se uma solução, respondia Jorge Saboga, o seu homólogo sildavo. O velho Teofilo dizia-me que o especáculo tem de continuar, não interessa como.
- Pois, mas o velho Teofilo nunca organizou o GP de Espanha de Formula 1. Só lidou com carritos de Formula 3, uns Sports e tal... caramba, nada que qualquer aldeia não o faça!
- Tem calma, não é preciso enervar e ofender. Eu estou aqui para apoiar o neto.
- Eu sei, eu sei, desculpa. Estou com os nervos em franja e amanhã são as verificações oficiais. E eles estão todos a caminho.
- E o Borbon? Não entra?
- Credo, não! Ainda bem que D. Juan Carlos não é piloto.
- Não é isso que pergunto. Quem é o sangue azul que entra?
- É don Rodrigo, Conde de la Mancha.
- Não, mas é desencente de Miguel de Cervantes. Tem quase 40 anos, mas adora correr.
- E tem dinheiro para isso...
- E seria um vexame se não entrar. Arranjou um Jordan do ano passado e está inscrito de forma semi-oficial. A pintura é a mesma e parece que faz parte da equipa. Pudera, pagando para entrar?
- Quanto?
- Aí umas doze mil pesetas. Duas mil libras para ser mais correcto, para correr com eles em algumas corridas. Aqui, Mónaco, Belgica, Holanda... toda a temporada europeia, creio eu. Vai ser oficiosamente o terceiro piloto. E o que me enfurece é que não sabe conduzir!
- Tem calma...
- Não sei como resolver isto, confesso.
- Tem calma, podemos fazer como no Mónaco!
- Espaço não falta, caramba...
- Não é isso. Explicas a situação, dizes o que vais fazer e impões essa solução, seja por que meio for. Simples.
- Nâo sei se vale a pena...
- Vale, acredita.
Depois de um longo periodo a pensar, que pareciam horas, pegou na garrafa de xerez e despejou o seu conteúdo no pequeno copo que tinha em cima da mesinha. Bebeu tudo de uma vez, esperou para absorver o gosto na boca e disse:
- Saboga, vou seguir-te o teu conselho. Não tenho outra escolha, não é?
- E não esqueças de devolver o dinheiro das inscrições aos não qualificados. Eles gostarão desse gesto.
- Ah... ainda por cima isso. Só espero que sejam os privados.
- Esperemos, concluiu, enquanto sorvia de uma só vez o que restava do xerez no seu copo.
(continua)
Nos últimos dias, os olhares do mundo estavam virados para as televisões, jornais e rádios, para saberem das novas sobre a sorte dos astronautas da Apollo 13, que transformara aquilo que deveria ser uma missão de rotina em algo parecido com uma catástrofe, com os três a lutarem pela sobrevivência enquanto vagueavam pelo vácuo espacial, numa luta pela sobrevivência. Mesmo estando em Madrid, Pete tinha na sua mão um exemplar do The Times de Londres, que tinha comprado na banca em Heathrow, antes de embarcar no vôo de duas horas rumo a Madrid, para acompanhar os seus pilotos, mecânicos e carros para o GP de Espanha, segunda prova do ano.
Pete trazia os dois carros oficiais, mais um terceiro carro pertencente ao Real Autómóvel Clube Sildavo, o Eagle de Augusto de Monforte, já devidamente pintado com as cores do país e com o escudo do Automóvel Clube. O seu presidente iria visitá-lo no fim de semana nas boxes, para abrilhantar a estreia do seu compatriota na categoria máxima do automobilismo. Tirou-se umas fotos de divulgação nos jornais e revistas no inicio da semana, mas a verdadeira apresentação iria ser em Jarama.
Tudo o resto já se delineava nesta segunda prova do ano. Oficialmente, a Apollo tinha dois carros oficiais, tal como a Ferrari, BRM, Jordan e Matra, mas não a McLaren, que tinha três, um deles com o Lamborghini flat-12 para o regressado John Hogarth. Para além disso, havia mais dois Jordan privados da Ecurie Holmgren, de Harry Temple, o Eagle de Monforte, apoiado pela Apollo. E havia mais apoios, especialmente dois chassis da Jordan e dois da McLaren, comprados por entusiastas um pouco por toda a Europa, um deles era da nobreza. E de Espanha.
Ao todo estavam vinte carros presentes em Jarama. E isso era outro problema a ser resolvido, porque... a Federação Espanhola e a organização não tinham dinheiro para tantos carros. Só podiam pagar a presença de dezasseis carros, e tentou-se pedir mais dinheiro para acolher os excedentes, só que fora recusado. E tinham tido muita sorte, pois durante a semana se falava na hipótese de um regresso da Cooper...
- Ay caramba, como é que vou resolver isto? questionava Don Arturo Calderon, o presidente da Federação e o homem que segurava a bandeira no momento da partida do Grande Prémio.
- Tem calma, arranja-se uma solução, respondia Jorge Saboga, o seu homólogo sildavo. O velho Teofilo dizia-me que o especáculo tem de continuar, não interessa como.
- Pois, mas o velho Teofilo nunca organizou o GP de Espanha de Formula 1. Só lidou com carritos de Formula 3, uns Sports e tal... caramba, nada que qualquer aldeia não o faça!
- Tem calma, não é preciso enervar e ofender. Eu estou aqui para apoiar o neto.
- Eu sei, eu sei, desculpa. Estou com os nervos em franja e amanhã são as verificações oficiais. E eles estão todos a caminho.
- E o Borbon? Não entra?
- Credo, não! Ainda bem que D. Juan Carlos não é piloto.
- Não é isso que pergunto. Quem é o sangue azul que entra?
- É don Rodrigo, Conde de la Mancha.
- Não, mas é desencente de Miguel de Cervantes. Tem quase 40 anos, mas adora correr.
- E tem dinheiro para isso...
- E seria um vexame se não entrar. Arranjou um Jordan do ano passado e está inscrito de forma semi-oficial. A pintura é a mesma e parece que faz parte da equipa. Pudera, pagando para entrar?
- Quanto?
- Aí umas doze mil pesetas. Duas mil libras para ser mais correcto, para correr com eles em algumas corridas. Aqui, Mónaco, Belgica, Holanda... toda a temporada europeia, creio eu. Vai ser oficiosamente o terceiro piloto. E o que me enfurece é que não sabe conduzir!
- Tem calma...
- Não sei como resolver isto, confesso.
- Tem calma, podemos fazer como no Mónaco!
- Espaço não falta, caramba...
- Não é isso. Explicas a situação, dizes o que vais fazer e impões essa solução, seja por que meio for. Simples.
- Nâo sei se vale a pena...
- Vale, acredita.
Depois de um longo periodo a pensar, que pareciam horas, pegou na garrafa de xerez e despejou o seu conteúdo no pequeno copo que tinha em cima da mesinha. Bebeu tudo de uma vez, esperou para absorver o gosto na boca e disse:
- Saboga, vou seguir-te o teu conselho. Não tenho outra escolha, não é?
- E não esqueças de devolver o dinheiro das inscrições aos não qualificados. Eles gostarão desse gesto.
- Ah... ainda por cima isso. Só espero que sejam os privados.
- Esperemos, concluiu, enquanto sorvia de uma só vez o que restava do xerez no seu copo.
(continua)
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