quinta-feira, 5 de agosto de 2010

Grand Prix (numero 45, Gran Prémio de España - II)

Mais à noite, Hotel Atlântico, Avenida de Jose Antonio, na Gran Via de Madrid

- Novidades? perguntou Pam.
- Confesso que não precebo espanhol, respondeu Sinead. E daqui a pouco é o jornal deles. Vou tentar perguntar por aí, se encontrar algum jornalista pelo caminho.

Ambas estavam no Hotel Atlantico, em plena Gran Via de Madrid, onde tinham um grande salão onde se fumava e tinha aceso uma televisão grande, mas a preto e branco. Aparentemente passavam variedades, mas à medida que se aproximava da hora do jantar, o restaurante se enchia para que os convidados começassem a jantar. Sinead apanha Alexandre, que estava no salão enquanto esperava a chegada do Sr. Saboga.

- Oi! Há novidades?
- De quê?
- Do pessoal da Apollo 13.
- Não sei de muito, confesso. Parece que ainda não resolveram o problema. Eu sei que eles vão tentar aterrar amanhã. Vou tentar ver se apanho alguém.
- Obrigado.
- O teu irmão?
- Não faço ideia, confesso. Ainda não voltou do circuito, acho.
- Não, que eles já voltaram. Eu vim com eles.
- Estranho, não me disseram nada...
- Também, chegamos há pouco... olha, aí vem ele.

Entrando pelo hotel adentro, John O'Hara tinha na mão um jornal e a seu lado um velho conhecido, acompanhado por uma senhora que nunca tinha visto na vida. Alexandre franziu o sobrolho, pois notava que era magra mas com peitos grandes, de cabelo loiro e altura média, com um nariz de tamanho médio mas pontiagudo, e à distância, as feições da sua cara lhe pareciam ovaladas.

- Sinead, o teu irmão... virou-se e viu que ela não estava. Não tinha reparado que ela tinha saído dali e ido para ao pé da televisão. Quando a viu, esta vinha a correr na sua direcção:

- Vem. Sabes espanhol?
- Sim, sim. Mas ouve, estou à espera...
- Vai começar o noticiário deles. Vem!
- Ei, isso vai demorar...

Nem teve tempo para acabar a frase. Ela sentou-se no sofá, com Alexandre a seu lado, algo embasbacado com o que se passava. Ele, com o seu fato azul escuro, camisa branca e gravata preta, nem sequer teve tempo para tirar um cigarro para descontrair enquanto esperava a sua visita.

Enquanto isso, ele ouvia atentamente ao noticiário. Passado o genérico inicial, este começou com a visita do primeiro ministro a uma fábrica em Segóvia, depois outra noticia sobre a visita de outro ministro a Zaragoza, aparentemente para inaugurar uma escola, e depois falavam da Apollo 13, mas era mais uma chamada de atenção do que a noticia propriamente dita. Ele afirmou:

- Se for como no meu país, deve demorar uns vinte minutos. Espera aqui, vou ter com o teu irmão, que parece que está com um repórter.
- Ah é, e não dizias nada?
- Digo porque o conheço. O teu irmão deve tê-lo conhecido agora.
- Então, vamos ter com eles.

Ambos sairam do salão e foram ter com o trio. Ele estava à conversa com um velho conhecido de Alexandre, André Barros, que tinha a jovem mulher a seu lado, que ouvia atentamente o que o ruivo irlandês lhe dizia sobre a actualidade automobilistica.

- Velha arara, que fazes aqui?
- Oi Alex, vim ter contigo.
- Já não estas farto de me entrevistar?
- Contigo, nunca.
- Bolas, para de assediar o John. Ele não te vai dar emprego...

Ambos riram-se, num conversa em diferentes tons de português, sem que os outros não se aprecebessem do que falavam. Alexandre mudou de lingua e disse:

- Que sabes dos desgraçados da Lua?
- Não muita coisa. Por acaso cruzei-me com um colega meu da Agência Efe, que me disse que as coisas andam pretas, mas que ainda estão vivos. No final de amanhã, em principio, poderão reentrar na atmosfera.
- E sabe alguma coisa sobre as causas?
- O que falam é que foi uma explosão no depósito de oxigénio. Por agora é especulação, não há confirmação de espécie alguma. Só querem é trazê-los de volta à Terra.
- Vamos torcer por isso... já agora, que indelicado sou! André, esta é a Sinead, a irmã do John.
- Bela senhora. André Barros, um seu criado, afirmou, estendendo a mão.
- Sinead O'Hara, muito prazer. E obrigado pelas informações.
- E a ilustre desconhecida é, senhor esquecido...?
- Ahhh... sou mesmo burro! Teresa Lencastre, uma compatriota tua, Alex.
- Hã?
- Prazer.
- O prezar... perdão, o prazer é todo meu. Não sabia que o André tinha uma bela namorada, senhorita Lencastre.
- Na realidade, somos colegas, e só o conheço desde hoje.
- Ah... pior ainda. Trabalha no?
- O Liberal.
- Ah... por fim, primeira divisão! Já ando farto dos especializados e da Tribuna de Monforte.
- Sei pouco de desporto e nada de automobilismo.
- Então não se preocupe. Aqui o meu amigo André fala-lhe do básico sem sequer tocar um cabelo na senhorita... isso é, presumo que seja casada.
- Solteira. Só tenho 24 anos.
- Fantástico! É a minha idade. Vamos-nos dar otimamente.

Entretanto, ao olhar pelo canto, nota um vulto conhecido a entrar porta adentro, aquele que estava á espera desde que chegou ao hotel. Era o sr. Jorge.

- Caro Sr. Saboga, estava à sua espera.
- Desculpa lá, atrasei-me na minha conversa com o meu homólogo. Está a resolver uns problemas...
- Nada de grave, presumo?
- Não, não há problema.
- Nada que não impeça a apresentação?
- Não. Vai ser amanhã de manhã, no circuito, como planeado.
- Otimo.
- Só uma coisa: consegue ser rápido?
- Creio que sim, porquê?
- Se calhar tenho novidades, e vou ser o primeiro a dá-las ao seu patrão. Mas falamos com calma ao jantar. Senhorita... e com isto entrou hotel adentro.
- Ele sabe que é jornalista?
- Deve saber. Estou aqui a convite dele.
- Hmmm... hmm... "John, we might have a problem", afirmou aos O'Hara que estavam ao seu lado a conversar com André.

(continua)

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