A 30 de Abril, a Formula 2 europeia tinha o seu inicio no circuito inglês de Thruxton, com dois dos candidatos ao título presentes: o finlandês Antti Kalhola e o sildavo Alexandre de Monforte. Segundo e terceiro classificado no campeonato de 1969, ganho por Gilles Carpentier, que como recompensa teve um lugar na equipa oficial da Matra, a edição deste ano tinha estes dois, um deles já com um programa na Formula 1, e com algumas caras novas a ter em conta nos anos futuros.
Duas dessas caras eram o francês Pierre Brasseur e o brasileiro Pedro Medeiros. Brasseur estava num Matra e era o campeão francês da Formula 3, e tinha até dado nas vistas no GP do Mónaco de Formula 3, embora não tenha ganho. Quanto ao brasileiro, era uma pessoa do qual ninguém conseguia tirar os olhos dele desde que aterrou, vindo das quentes paragens brasileiras no inicio de 1969. De seis em seis meses, mudava de carro, e era sempre um vencedor, dada a sua capacidade de adaptação inata. Deu tanto nas vistas que Bruce Jordan o tratou de o contratar para a equipa oficial da Jordan, ao lado de Kalhola. Bruce estava convencido que tinha encontrado a sua dupla para toda a década que aí o vem, e tratou de fazer planos para os ter na sua equipa na temporada seguinte, estando disposto a alargar a sua equipa para três carros. Pelo menos, pensava dessa forma.
Quem também andava pela Formula 2 era o sul-africano Peter Hocking, um dos rapazes que Henry Temple queria levar para a Europa. Depois de lhe ter dado um lugar na sua equipa, a troco de um bom patrocínio, Temple inscreveu um Jordan de Formula 2, sustentado por ele, pois tinha fundadas esperanças.
Havia outros bons pilotos no pelotão. A Tecno, para além de Monforte, tinha o espanhol Alvaro Ortega, uma "torre" de 1.85 metros, mas com talento suficiente para incomodar Brasseur na Formula 3 francesa, e a fazer umas corridas extra na Interseries. Outros bons pilotos eram o australiano Bruno Donahue, um ruivo de 25 anos, que tinha dado nas vistas numa das séries da Formula 3 britânica, que acabara por ganhar. E também um italiano, Michele Guarini, campeão da Formula Itália e piloto da Alfa Romeo na Interseries, a bordo de um Tecno comprado pela Autodelta. Seria esta uma hipótese para a Lamborghini? A acompanhar Guarini vinha outro piloto, Riccardo Bernardini, irmão mais novo de Toino.
No final das duas mangas, houve dois vencedores diferentes: Monforte ganhou o primeiro, Kahola o segundo. Mas nenhum deles ganhou na geral, simplesmente porque não foram regulares. Monforte desistiu na segunda corrida, enquanto que Kalhola tinha sido quarto na primeira. Quem lucrou com isto foi o brasileiro Medeiros, que foi segundo nas duas corridas, demonstrando que aqui, quem fosse regular era rei. E tinha feito a volta mais rápida nas duas mangas.
A 3 de Abril, no autódromo de Imola, John Hogarth dava as suas primeiras voltas a bordo de um McLaren com um motor flat-12 feito pela Lamborghini. O chassis, um M7A, tinha sido modificado para poder caber o enorme e algo pesado motor. Depois de uma série de voltas, Hogarth viu potencial, mas também viu que havia muito trabalho pela frente.
Quem também estava por lá eram duas personagens conhecidas: Bruce McLaren e Massimo Pedrazini, um dos patrões da Tecno. Com o sucesso que tinham na Formula 2, eles também pensavam no salto para a Formula 1, e a ideia de ter um desses motores seria excelente. E Pedrazini tinha trazido um jovem engenheiro italo-argentino, que tinha acabado de fazer um estágio, primeiro na Autodelta e depois na Cosworth, e estava à procura de emprego em Sant'Agata Bolognese. Chamava-se Pedro Cavenaghi.
Pedro tinha 26 anos e por onde passou, tinham-lhe detectado o seu potencial de génio, mas também uma personalidade carismática e irascível. Com aquilo que vira nos vários sitios onde passou, decidira que para desenvolver as suas ideias, tinha de ir para um sitio novo, quase virgem, onde pudesse desenvolver a sua visão do automobilismo, sem engulhos. E parecia que Sant'Agata era o sitio ideal, pois precisavam de cérebros para desenvolver o mais recente projecto automobilistico vindo de Itália.
O Flat-12 tinha sido feito em colaboração com Chiti e a Autodelta, que foi paga para desenvolver tal projecto, mas depois disso, sabia-se que tinham de ser eles a fazer as coisas por si próprios. Cavenaghi tinha conhecimento do grupo, engenheiros da sua idade, que tinham falado e projectado nas horas vagas, um projecto de motor para a Formula 1, e que tinham conseguido convencer um muito relutante Ferruchio Lamborghini de que a competição seria um excelente montra para mostrar e vender os seus Miuras. Ele aceitou, desde que não investissem muito do seu dinheiro. Para poupar na mão de obra, o motor tinha sido projectado nas horas vagas, com a ajuda de Chiti e a compra de um chassis McLaren, ajudado pelo próprio Bruce, que ficara interessado pela ideia após o contacto feito por um deles no GP de Itália do ano anterior. Depois disso, convidou Hogarth para o testar. Aliás, aquele teste, naquele dia e naquele circuito, era obra de Bruce.
No dia seguinte, Bruce e Ferruchio conversaram sobre a ideia de desenvolver aquele motor e outras variantes, para a Can-Am nas temporadas seguintes, como alternativa aos Chevrolet V8 e também a uma eventual participação na Interseries a partir de 1972, quando os regulamentos passariam apenas a permitir os motores de 3 Litros. Ambos selaram um acordo com um aperto de mão, e um terceiro carro iria circular nas corridas europeias com o flat-12, com John Hogarth a ser o piloto que iria desenvolver o carro.
Bruce tinha apresentado o projecto a John no inicio do ano, e depois de algum tempo a convencê-lo a sair da semi-retirada, aceitou o desafio. Um desses motores foi despachado para a fábrica da McLaren e inscrito a tempo do GP de Espanha, que iria correr ao lado de Bruce e Peter Revson. Dois velhos americanos iriam estar a ajudar Bruce, tal como nos velhos tempos. Claro, Pete não gostou muito da ideia... mas aceitou com um sorriso. "Mais um rival a bater em Jarama", pensou ele, enquanto estava em casa a ver as noticias na BBC das dez da noite, que naquela sexta-feira, dia 10 de Abril, abriram com uma noticia inesperada:
"Esta manhã, em Londres, os Beatles anunciaram a sua dissolução como grupo. Numa conferência de imprensa nos edificios da Abbey Road, Paul McCartney afirmou que iria seguir uma carreira a solo, abandonando os restantes membors da banda: Ringo Starr, George Harrison e John Lennon. Aparentemente, a banda, que vai lançar ainda mais um álbum dentro em breve, esteve no último ano e meio em várias discussões entre os seus membros, especialmente depois das acções de protesto de John Lennon e da sua parceira, a artista japonesa Yoko Ono".
- Definitivamente, os anos 60 chegaram ao fim, afirmou Pete, sentado no seu sofá enquanto sorvia um gole do seu whisky O'Hara, como digestivo após um longo dia de trabalho.
(continua)
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