terça-feira, 29 de março de 2011

Mouton quer reinventar os ralis

Michelle Mouton dispensa apresentações para os conhecedores. Atualmente com 59 anos de idade, foi piloto de ralis nos anos 80, correndo pela equipa oficial da Audi. Venceu quatro ralis entre 1981 e 1982, ano em que foi vice-campeã do mundo. Duas vezes vencedora da subida de Pikes Peak, nos estados Unidos, ainda correu pela Peugeot até abandonar a competição no final da temporada de 1986, após a saída dos Grupo B de cena, afirmando que tinha perdido a vontade de competir. Depois disso, decidiu ficar nos bastidores, onde ajudou a organizar e a fazer crescer a Race of Champions, prova onde no final de cada época, pilotos de vários quadrantes competem entre si em várias máquinas.

Desde o inicio do ano que Mouton faz parte da FIA, convidada por Jean Todt, ele mesmo um antigo navegador de ralis. Esteve em Portugal como observadora e concedeu uma entrevista à jornalista Edite Dias, que foi publicada na edição de hoje do jornal "A Bola".


«PRECISAMOS DE REINVENTAR O MUNDIAL»

. Michelle Mouton está de volta
. A unica mulher a vencer uma etapa do Mundial de ralis é o novo rosto da FIA

. Noturnas e ralis feitos à medida são algumas das suas convições


"A primeira e unica mulher até hoje a vencer uma prova do Campeonato do Mundo de Ralis está de volta. Passaram 30 anos desde que Michelle Mouton venceu em San Remo, ao volante do seu Audi Quattro e sentado ao lado da sua navegadora, a italiana Fabrizia Pons. Um ano depois, em 1982, venceu o Rali de Portugal, foi a melhor também no Brasil e na Acrópole e terminou a época como vice-campeã do mundo. Agora está de volta e esteve em Portugal, no Algarve, nos troços, um pouco por todo o lado, empossada há pouco mais de um mês pelo presidente da FIA, Jean Todt, como observadora, para já, do Mundial. Mas a tarefa é outra, conforme contou a "A Bola". «Precisamos de repensar, reinventar o Mundial. Precisamos de mais público, de aproximar os pilotos, os carros das pessoas», afirmou, convicta, a francesa de 59 anos.

«Lembro-me bem do que aqui vivi em 1982. Foi fantástico, havia muito mais público. É por isso que defendo que defendamos um novo conceito de ralis e estudamos como pode ser feito. Na minha opinião, deve haver uma identidade própria para cada prova do Mundial. A Finlândia não é igual à Grécia ou Portugal, logo os troços, as horas, devem ser adaptados à realidade de cada local» insistiu a piloto que garante que não saudades. «Às vezes conduzo, mas não gostava de voltar. Está tudo muito diferente agora, naquela altura era adrenalina pura, era tudo real e vivido com intensidade. Agora é tudo diferente. Já passaram 25 anos, mas não tenho a certeza que as coisas estejam melhores agora» atira, serena.

FAZ FALTA UMA MULHER

Durante o Rali de Portugal, muitos disseram já que a ideiade experimentar uma classificativa noturna, tão a seu gosto, já na Grécia, saiu da sua influência, que pretende estender também nas mulheres. «Faz falta uma mulher no desporto motorizado. Não especificamente nos ralis, embora, claro, gostasse de ver uma, mas no desporto em geral. E não falo apenas de pilotos, falo de pessoas com outras responsabilidades, falo de engenheiras, falo de todas as áreas» alerta a francesa.

MULHERES AO VOLANTE, ESPETÁCULO CONSTANTE

A francesa não se intimida com as graçolas latinas sobre a capacidade das mulheres ao volante e tomou como sua, com legitimidade incontestável, a missão de descobrir uma mulher com capacidade para se sentar ao volante nas melhores competições do mundo. E apesar de recente nessa nova missão, já deitou mãos à obra, criando uma espécie de academia para raparigas entre os 13 e os 15 anos. Uma já foi escolhida em parceria com a Volkswagen Motorsport e recebeu um carro para competir na Scirocco R-Cup em 2011.

«Faz falta», repete, consciente do longo trabalho que tem pela frente. «No meu tempo tudo era permitido, acredito que era muito mais divertido» avalia Mouton, que não assistiu a todas as classificativas portuguesas, que acabaram por consagrar Sebastien Ogier (Citröen), mas revelou-se atenta ao que considera o distanciamento do público com o rali. «Não sei se terá tido a ver com o fato da super especial ter sido feita em Lisboa, longe do resto do rali, mas achei pouca gente nos troços que visitei. Estou habituada a muitos espectadores», explicou um dos novos rostos da FIA, que confirmou que o calendário do Mundial de ralis de 2012 deve ser anunciado no final desta semana.

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