terça-feira, 7 de junho de 2011

Grand Prix 1972: As primeiras voltas do ano

O dia de Sábado acordou com vento vindo do mar del Plata, e a temperatura diminuiu um pouco, para níveis mais suportáveis aos estrangeiros. Desde cedo que os mecânicos e pilotos estavam no circuito para fazer as devidas reparações e preparações dos carros para o segundo dia de qualificação, onde havia uma natural expectativa entre os pilotos da Apollo e da Jordan, com o Temple-Jordan do herói local a espreitar por mais gracinhas, e as equipas de fábrica pareciam estar num dia não, excepto os Ferrari.

Nas boxes da Apollo, havia sorrisos, mas eles sabiam que as coisas poderiam modificar de um dia para o outro, ainda por cima, o asfalto não estava tão quente como ontem, e todos sabiam disso:

- Como está o carro? Perguntou Philipp.
- Já colocamos um novo rolamento, acho que vai ficar melhor. Mas só depois de tu experimentares.
- OK, vou assim que colocarem um novo jogo de pneus, respondeu. Thomas, o que contas?
- Tou velho demais para isto, Phil. Consegui afinar ambos os carros, e acho que deve dar para melhorarem a velocidade de ponta. Mas tem de ser habilidosos nas curvas.
- É… apesar do novo bico.
- Ele funciona, é certo. O Alex fez um bom trabalho, mas pode não chegar, contra os carros da Jordan.
- Pois… temos de ser melhores do que eles

Logo ao lado, Alexandre observava o seu carro enquanto que os mecânicos faziam as últimas afinações. Parecia estar distraído ou concentrado noutros aspetos, dado que na sua frente, Pete Aaron e alex Sherwood falavam sobre os carros e espreitavam a tabela de tempos. Teresa observava-o.

- Que pensas?
- Nada de especial. Apenas quero sentar-me no carro e correr.
- O que achas que vai acontecer hoje?
- Bom, o carro porta-se bem, e se calhar pode dar para a “pole-position”. Mas os Jordan vieram fortes esta corrida. E esse Fuchs…
- O que têm?
- Esse local veio estragar os nossos planos. O Temple, esperto, conseguiu sacar mais um na cartola. Foi como nós com o Thomas e o Philipp.
- É bom, significa que há mais pessoas inteligentes.
- Obrigado pela força - respondeu Alexandre de forma sarcástica – com amigas destas, quem precisa de inimigas?
- Então… vais conseguir a pole-position, não te preocupes.
- São 0,2 segundos, como aguentarei?

Alexandre poderia estar apreensivo, pois na boxe da Jordan, os carros estavam à espera do sinal do começo dos treinos para irem na direção da pista. Agachado ao lado de Pedro Medeiros, Bruce Jordan dá um ultimo conselho:

- Tem cuidado para não pisar as bermas, que ainda estão sujas. Tenta não arriscar na tua primeira volta cronometrada, acho que os pneus aguentam mais umas duas ou três voltas. Faz um tempo para marcar e outro para melhorar. Não puxes pelos limites, OK?

Pedro acenou a cabeça em sinal de concordância. Depois Bruce afastou-se uns metros para dar o mesmo tipo de instruções ao seu outro piloto, o finlandês Antti Kalhola. Atento, ele ouviu as mesmas instruções e fez o mesmo gesto com a cabeça, sem desviar o olhar da pista. Quando o comissário de pista deu sinal de que a sessão de treinos tinha começado, os dois carros rumaram lentamente para a pista, dando as primeiras voltas daquela sessão de duas horas.

Pouco tempo depois era a vez dos Ferrari de Patrick Van Diemen e António Bernardini rolarem na pista, seguido pelos Matra de Gilles Carpentier e Pierre Brasseur. Alguns minutos mais tarde, era a vez dos Apollo de Philipp de Villers e Alexandre Monforte, na frente do BRM de Brian Hocking, do McLaren de Peter Revson e do Temple-Jordan de Juan Fuchs. Os cinco carros iriam sair ao mesmo tempo para pista para tentar melhorar os tempos do dia anterior.

Alexandre andou toda a primeira volta em ritmo de passeio. Raramente acelerava a mais de 120 km/hora, e tinha a quarta velocidade engatada. Não pressionava o acelerador e deixou que os pilotos que estavam na sua frente se fossem embora. Não queria transito quando tentasse estabelecer uma volta rápida. No canto do seu olho, para quem tinha o Mar da Prata no seu horizonte, uma série de nuvens estava prestes a obscurecer o sol daquele dia, dando uma inesperada sombra, bem precisa e bem acolhida. Quando chegou à parte mais sinuosa do circuito, essa sombra já tinha caído sobre o circuito, e ficou atento a ela. Depois de fazer a curva anterior à reta da meta, Alexandre simplesmente engrenou a mudança e começou a colocar crescentemente o pedal no fundo, voando quando passou pela meta.

Pam e Teresa clicaram imediatamente nos seus cronómetros para registar o tempo de Alexandre. Momentos antes, tinham feito o mesmo para Philipp de Villiers, que já ia mais de 400 metros na sua frente, acelerando fortemente na pista. Depois de uma primeira curva à direita, havia outra para a esquerda, ambas feitas de forma veloz, e os carros voavam a mais de 280 km/hora, por uma reta de quase um quilómetro, puxando implacavelmente pelos motores e demais componentes do carro, até a uma curva à direita, feita em quarta velocidade e um ligeiro toque no travão.

Pouco depois, o carro virava de novo à direita, em mais uma curva veloz, e aceleravam a fundo numa distância maior, de mais de um quilómetro. Continuavam a acelerar até a uma veloz curva à direita, onde muitos nem sequer levantavam pé, até chegar à parte mais sinuosa do circuito, onde tinham de fazer uma forte travagem à direita e passar por uma série de curvas bem mais lentas, à esquerda e à direita, com uma pequena reta no lado de dentro. Depois de uma curva à esquerda e outra à direita, outra à direita, mais redonda, quase em 180 graus, acelerando depois para a esquerda, em direção à reta da meta, que era num pequeno alto, descendo depois até à tal sequência direita-esquerda muito veloz que a pista tinha.

Alexandre fizera a sua volta, mas não dava sinais de parar, pois tinha a pista livre. Teresa tinha ligado outro cronómetro, mas espreitou e gostou do que viu. Registou o tempo no gráfico e colocou-o no zero, preparando esse relógio para uma próxima volta, com o outro a funcionar.

Ao fim de dez minutos e meia dúzia de voltas, o Apollo de Alexandre recolheu às boxes, enquanto que o outro carro também lá estava, com o velho Thomas à volta do carro para ver se tudo estava bem no bólido de Philipp de Villiers. Alexandre estacionou o carro e Teresa veio ter com ele para mostrar a tabela de tempos. E trazia um sorriso na cara.

- Parabéns, tiraste mais quatro décimos ao tempo de ontem.
- Deve ter sido do sol.
- Qual sol? Não há agora...
- Precisamente. Agora a temperatura deve baixar um pouco, logo, a borracha funciona melhor, não achas?
- Espero que sim, mas se fores pensar nisso, os outros também farão o mesmo.
- Mas este tipo de pneus só nós é que temos, querida.

Entretanto, surge Alex Sherwood, que lhe fala sobre os últimos desenvolvimentos:

- A Teresa falou-te dos tempos? Se sim, ótimo. Isto pode dizer que poderemos melhorar mais.
- Põe-me pneus novos, estes já são de ontem.
- Temos uns jogos novos, é verdade, mas queremos guardar uns dois ou três para a corrida.
- Não vamos andar a trocar de pneus, pois não?
- Não, mas sempre podes ter um furo.
- Que engraçado. Continuo a ter a pole-position?
- Continuas, e como ela te disse, melhoraste. Mas o Medeiros fez o melhor tempo do dia e da qualificação há pouco, e a diferença é de 0,3 segundos.
- É pouco.
- E o Antti fez um tempo 0,8 segundos mais lento do que o nosso. E está na frente do De Villiers.
- Eh lá! E os Ferrari?
- Estão em quinto, com o Van Diemen, mas estão mais de um segundo mais lentos.
- E quem rebentou o motor? Não foi um deles?
- Foi o Bernardini, não sei se vai voltar, mas mesmo que volte, o tempo não nos ameaça.
- Se for o de ontem, não nos ameaça mesmo.

Alex Sherwood fez uma pausa e disse:

- Ainda há mais uma coisa.
- Quem, a Matra?
- Não, o Fuchs. Está entre o Van Diemen e o Carpentier.
- Interessante... sabem tirar leite de pedra, como se costuma dizer.
- De fato, acho que sabem afinar um carro. Sexto entre carros oficiais é um feito...
- Veremos se isso é fogo de palha para acabar na décima volta...
- Pois. Esperemos que sim.

Alexandre sorriu, antes que os mecânicos baixassem o carro para uma série de novas voltas, com um novo jogo de pneus. Um dos mecânicos deu sinal de que estava tudo pronto para arrancar, e ele colocou a viseira para baixo e saiu devagar dali, rumo a uma nova série de voltas no circuito argentino, agora com o sol de volta.

(continua amanhã)

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