Como se sabe, a Europa vive em crise desde meados de 2009, com vários países a verem que estavam endividados até à medula, dos quais Portugal não escapou. Mas não é o exemplo mais crasso, pois esse pertence à Grécia, e agora o centro das atenções são duas grandes economias europeias: Espanha e Itália. E claro, a crise atinge inevitavelmente o automobilismo.
Aliás, se formos ver, a crise já afeta o automobilismo desde há muito tempo, basta ver que muitos pilotos se vêm cada vez mais aflitos para arranjar os necessários patrocínios para poderem continuar a correr, e as equipas também estão a cortar nos custos, para poderem sobreviver, seja isso a acontecer na Formula 1 ou noutras categorias, mesmo as de base. E os proprietários de circuitos, dependentes das entidades que os financiam - maioritariamente estatais - estão desde há algum tempo a esta parte a pedir a Bernie Ecclestone para que baixe as suas exigências - cada vez maiores - para ao menos terem um minimo de lucro. É por isso que a partir de 2013, Valencia e Barcelona irão alternar entre si a realização do GP de Espanha.
Contudo, esta semana, surgiram noticias mais perturbadoras nesse sentido. Primeiro, que o complexo que cuida de Nurburgring tenha declarado a sua insolvência, depois do governo regional da Renânia-Palatinado ter vetado um pedido de financiamento na ordem dos 13 milhões de euros, para sanear as finanças da entidade. Depois, ontem à noite, a Stephane Ratel Organisation (SRO) comunicou à FIA que vai deixar de organizar o campeonato do Mundo de GT1, tutelado pela FIA.
Os dois casos desta semana, se bem que tenham sido desencadeados pela crise que tem vindo a assolar a Europa, e do qual parece não haver muita vontade politica para o resolver - a não ser que seja por via da austeridade pura e dura, como os monetaristas neoliberais tanto adoram - têm também outras razões. A primeira é má gestão pura e simples, a segunda tem a ver com o excesso de oferta e os custos de correr por lá.
Comecemos por Nurburgring. Os sinais de alerta já tinham mais de dois anos, quando se verificou que os investimentos de mais de 350 milhões de euros no complexo - que tem um hotel e um parque temático, entre outros - se verificaram que se tinham tornado desastrosos, por não terem gerado as receitas que esperavam ter, devido a - entre outras coisas - informações falsas. E acumulado com tudo isso, tiveram também o impacto de Bernie Ecclestone exigir o valor do costume para ter a Formula 1 no seu circuito, que nos útimos anos não deu lucro. A recusa dos 13 milhões para poder manter tudo a funcionar foi a gota de água.
Contudo, não creio que fechem o Nurburgring. Há procura - basta ver a quantidade de pessoas que vão todos os dias ao Nordschleiffe para correr nos seus carros - e o unico problema teve a ver com a gestão. Para além disso, todas as provas marcadas até ao final do ano irão ser realizadas, enquanto que a partir de 2013 é que se vai colocar em questão a sua realização. E a Formula 1 vai para esse circuito precisamente nos anos ímpares...
Contudo, creio que um novo conjunto de proprietários e uma gestão mais criteriosa poderá fazer com que o complexo seja salvo. Afinal, é para isso que servem estas insolvências: proteger a empresa dos credores, fazendo ajustamentos para que a empresa seja de novo viável. E o nome de "Nurburgring" é demasiado forte para ser derrubado. Ou esquecido. Pelo menos, é o que estão a fazer o conjunto de amigos e simpatizantes do circuito, que se organizaram e fizeram uma organização chamada "Save The Ring", cuja página do Facebook podem ir por aqui.
No caso de Stephane Ratel e da GT1, tem a ver com o excesso de oferta. A GT1, o Mundial de GT's que existe desde 2010, nunca foi uma competição que atraiu por ali além, quer na Europa, quer no resto do mundo. Pode-se ver pelo calendário, muito pequeno comparado com o WTCC ou o novo Mundial de Resistência, por exemplo, e que têm melhores promotores e mais divulgação televisiva. O Mundial de Turismos tem a Eurosport por trás, enquanto que a Resistência tem o ACO, o Automobile Club de L'Ouest, que gere o circuito de Le Mans. A moldura das corridas - duas provas de uma hora cada um - não é atraente, e nunca atraiu qualquer construtor a nível oficial, para não falar das bancadas quase sempre vazias nos circuitos onde eles correrm. E outras séries, como a Blaincpain Endurance Series e o Europeu de GT3, sendo mais baratas, atraem mais carros e pilotos para correr. Só a Blaincpain tem à volta de 50 carros por corrida...
Contudo, Stephane Ratel já afirmou que na semana que vêm, por alturtas das 24 Horas de Spa-Francochamps, irá dar uma conferência de imprensa para dizer quais serão os passos que irá dar para o futuro. Ele pretende continuar nos GT's, é certo, mas se calhar deseja concentrar-se num só campeonato, com o centro na Europa.
Em suma, estamos em tempos de vacas magras. E aí é um pouco como dizia Charles Darwin, quando falava da sobrevivência dos mais aptos. No primeiro caso, creio que só pelo nome, este poderá ser salvo. Quanto ao segundo, poderá ser uma adaptabilidade aos novos tempos, pois pessoas a correr nos GT's é o que não falta.
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